DOMINIC

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Eu estou grávida.

Ela diz, fazendo meu mundo inteiro girar.

E é como se mil anos se passassem em um segundo. Tento me recuperar de estar na presença dela, mas é como um soco no meio do peito de um homem tendo uma parada cardíaca: doloroso, necessário e vital. Ela continua tão linda quanto eu me lembrava e parece um anjo ferido, me observando com seus olhos castanhos amendoados em seu vestido branco que marca sua pequena barriga que não deixa duvidas do que meus olhos confusos tentam compreender. Ela está grávida. Grávida. Tem um bebê crescendo dentro dela. Um bebê que é meu. Não tenho dúvidas disso, pela forma temerosa que ela me olha, analisando cada uma de minhas reações. Ela parece frágil, temerosa, cheia de receios que eu mesmo plantei em sua mente. Era o que faltava para destruir meu coração. Eu a abandonei quando ela mais precisava de mim. Quando nosso filho precisava de mim. Quando ela se recuperava de um trauma e tinha que lidar com toda a sua vida de cabeça pra baixo, sozinha. Por isso toda a sua mágoa. Era por isso. Ela não podia acreditar que eu a estava a abandonando. Abandonando nosso bebê. Mas eu não estava. Eu só a queria segura. Segura do meu passado. Da morte que me persegue. E agora havia vida dentro do seu corpo. Vida que eu havia plantado lá. E então uma força que estremece meu corpo corre por minhas veias, um assentamento profundo. E penso em que merda eu fui fazer achando que ela estaria segura longe de mim, quando tudo que precisamos é de um ao outro. Quando agora precisamos nos unir por esse pequeno ser que me coloca de joelhos em sua frente e me faz chorar. Me faz chorar de soluçar. Não ligo se estamos em uma festa onde meus amigos de trabalho podem me ver aos pés da mulher que eu amo, chorando como uma cachoeira. Eu só preciso estar perto das maiores preciosidades e bênçãos que já aconteceram na minha vida, preciso implorar por seu perdão, implorar por mais uma chance, preciso que ela me deixe ser seu homem, o pai dos seus filhos, que eu a faça feliz. Preciso prometer nunca mais a deixar e explicar minhas motivações. Abraço suas pernas e apoio minha cabeça em sua barriguinha dura, e assim que suas mãos correm pelo meu couro cabeludo eu desabo. Choro tudo que senti nesses dois meses longe dela, tudo que senti vendo sua mágoa em meu apartamento, o abandono em seus olhos, o barulho de seu coração se partindo quando eu disse que me arrependi de tudo. E então me dou conta do quão cruel fui, em minhas tentativas falhas de fazer o que era melhor para ela. Em como destruí tudo tentando consertar. Soluço e choro tanto que sinto meus ombros sacudir. Sinto que preciso falar algo, qualquer coisa, então levanto minha cabeça e encaro seu rosto, encontrando-o molhado por suas lágrimas. Ela acaricia meu rosto e fecho meus olhos me perdendo na sensação. Respiro fundo, reunindo um pouco de calma para minhas palavras fazerem sentido.

- Eu nunca me arrependi, Júpiter. – falo, com a voz completamente embargada. – Nunca. Eu juro. – Falo, chorando mais um pouco. E ela respira fundo, me puxando levemente, fazendo-me levantar. Não tiro minhas mãos delas. É impossível agora. Preciso senti-la. Preciso sentir que não perdi tudo. Ela corre os olhos por mim e limpa minhas lágrimas.

- Podemos ir conversar em algum lugar? – Ela pergunta, baixinho e eu concordo. Ela segura minha mão e me guia pelo salão. Vejo-a fazendo um sinal para Luísa que está com Gael, e mantenho meus olhos travados em nossas mãos juntas. É tudo que me mantem são agora. A levo até meu carro, não ligando de me despedir de ninguém. Coloco-a no banco do carona, prendendo o cinto sobre seu tronco. Percebo que ela tem um sorrisinho em seu rosto que faz meu coração errar uma batida.

- Eu consigo fazer isso sozinha. – Ela diz, seu hálito atingindo meu pescoço. Me arrepio.

- Eu sei que você consegue. – eu digo, a encarando. – Mas você nunca mais vai precisar fazer nada sozinha, Júpiter. Nunca mais. – Reafirmo, meus olhos nos seus. Ela engole em seco e concorda num gesto mínimo. Percebo que invadi demais seu espaço pessoal e me afasto, respirando fundo o ar da noite para me controlar e não beijá-la a qualquer momento. A mãe do meu filho agora era mais importante. Sorrio. Ela era a mãe do meu filho. E apesar de tudo estar terrivelmente errado entre nós dois, apesar de eu não saber se ela ainda me amava, se sobreviveríamos a tudo, nada nunca me pareceu tão certo.

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora