DOMINIC

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Ver Júpiter fragilizada daquele jeito e não poder fazer absolutamente nada para ajudar estava me deixando sufocado. 

Ela parecia tão delicada e tão forte ao mesmo tempo. Quando ela quebrou, chorando como se a dor fosse insuportável, eu mal havia conseguido respirar. Sua conexão com sua família era admirável. Ela era claramente a cola que os mantinha juntos, a força que os mantinha em pé. Mas, ao mesmo tempo, ela parecia tão cansada, com os olhos inchados do choro, os ombros curvados, o sorriso delicado... tão diferente da mulher intocável de sempre. Uma parte de mim, uma parte assustadora, queria abraça-la e protegê-la do mundo, dividir todo esse peso, aguentar isso por ela. Sugar a dor, o cansaço, a desesperança que saia daqueles olhos cor de caramelo. A magnitude desse sentimento era esmagadora. Precisando urgentemente mudar de assunto, sorri em sua direção.

- Agora me explique porque nunca acaba bem quando você dirige nervosa? – pergunto. Júpiter revira os olhos cor de avelã em minha direção e morde o lábio carnudo me fazendo xingar mentalmente.

- Em uma das crises do meu pai, - ela começa – bem, eu estava numa balada com Luísa. E sabe como é... Nós bebemos um pouco. – Ela fala, com uma careta e fecho minha expressão. – Okay, nós bebemos muito e eu estava dirigindo, - ela fala, e perco ainda mais a expressão, chocado com sua irresponsabilidade. – Eu sei, irresponsabilidade – ela diz, erguendo as mãos num gesto de rendição. – E eu estava nervosa e tonta e acabei entrando num acidente. E bem, minha mãe quase teve um infarto porque quebrei duas costelas e tive que tomar pontos no braço. – Ela conta, me mostrando a cicatriz clara na parte interna de seu braço. – A parte engraçada foi que eu não parava de rir e chorar ao mesmo tempo, por causa do meu pai e por ter batido o carro. – Ela fala rindo um pouco. – Luísa não ficou com um cabelo fora do lugar. E agora minha mãe me persegue com essa história. – Ela termina, dando de ombros. – Não foi nada demais.

- É coisa demais sim. – Eu digo, queimando seus olhos com intensidade. – Você colocar sua vida em risco é demais. Me prometa que nunca mais fará isso. – Eu ordeno, sabendo que posso assustá-la, mas sua imagem morta no meio de uma rodovia faz meus pelos se eriçarem e um frio passar por minha coluna. Ela me olha por longos segundos, antes de segurar minha mão com seus dedos finos e sorrir pequeno com a boca carnuda.

- Eu prometo. – Ela fala, e eu volto a respirar de novo. – Agora, me fale um pouco da sua família. – Ela pede, sorrindo ainda, e para manter seu rosto perfeito com aquele pequeno sorriso, decido ceder.

- O que você quer saber? – Pergunto, recostando-me na cadeira.

- Como são seus pais? Como eles se chamam? Quantos irmãos você tem? Onde você cresceu? – Ela pergunta rapidamente e eu rio.

- Calma, linda. – Eu digo, a interrompendo, e ela cora ao ouvir me chamando de linda, ficando fodidamente perfeita. – Uma coisa de cada vez. – brinco. E ela se desculpa com os olhos. – Primeiro, meus pais se chamam Elisa e Pedro e eles são ótimas pessoas. – conto. – Minha mãe é muito carinhosa e dá muito valor a família. Meu pai é engraçado, é professor de história e coleciona mil antiguidades. São as pessoas mais generosas que eu conheço. – falo, sorrindo e recebendo um sorriso de volta. – Eles se conhecem desde os treze anos e nunca se separaram. Moram no Rio Grande do Sul, onde nasci e fui criado.

- Você não tem sotaque nenhum. – Júpiter aponta e eu sorrio um pouco.

- Anos demais viajando e morando no Rio de Janeiro fazem isso com uma pessoa. – brinco, dando de ombros. – Ter perdido o sotaque deixa minha mãe triste, mas se passo uma semana em casa, ele volta com tudo.

- Deus. – Júpiter fala, corando profundamente. Arqueio uma sobrancelha em sua direção.

- O que foi? – Eu pergunto e ela cora ainda mais.

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora