JÚPITER

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Depois da chamada sucinta e profissional me informando que o Senhor Riviera queria que eu fosse até sua sala, eu fiquei nervosa.

 Eu já havia guardado e arrumado todo o escritório e me encaminhava para a saída quando o telefone tocou. Agora, eu caminhava a passos lentos, porém firmes, com minha bolsa presa ao meu antebraço e algumas pastas de projetos na outra mão, em direção ao escritório da presidência. Hoje era um dos dias em que eu só queria chegar em casa, tomar uma boa taça de vinho e ler um ou dois cantos de Dante. Mas parecia que o universo me guardava algo mais. Assim que chego a sala de Dominic, percebo que sua secretária está se preparando para sair.

- Oi! – Ela fala, simpática. Como eu ainda não a conheço, me aproximo e estico minha mão em sua direção.

- Oi, eu sou a Júpiter.

- Eu imaginei. – ela responde, educada. – Eu sou Aline. O Senhor Riviera já está te esperando, é só bater na porta. – Ela me instrui e concordo com a cabeça. Desejo-lhe uma boa noite e ando até a porta de madeira escura que me encara com austeridade. Bato com firmeza duas vezes e espero sua resposta.

- Pode entrar. – A voz melódica diz, abafada. Abro a porta e entro, passo os olhos por todo o escritório até que eu o vejo, de pé ao lado de sua mesa. Ele é lindo. Essa é a primeira informação óbvia que meu cérebro nota. Ele está com os cabelos penteados pra trás e caindo em ondas lisas ao redor de seu rosto. Ele está sem gravata e me olha provavelmente da mesma forma com que eu o estou olhando. Disfarço meu constrangimento me aproximando de onde ele está e esticando minha mão em sua direção. Ele a aperta com delicadeza e tenho que morder minha língua para controlar os impulsos nervosos que tomam conta do meu corpo quando nossas peles se encostam.

- Senhorita Witkowski. – Ele me cumprimenta, tirando a mão da minha.

- Senhor Riviera. - Eu devolvo, olhando-o nos olhos. É um péssima decisão porque Dominic parece ter imãs que me puxam a cada segundo. – Precisa de mim para algo? – Pergunto e por um segundo seus olhos deslizam até os meus lábios, voltando rapidamente para os meus olhos. Ele limpa a garganta e se afasta de mim.

- Sim. – Ele fala, sucinto, pegando uma pilha de papéis e andando até o sofá de couro. – Por favor, sente-se. – pede, indicando a poltrona que fica e frente para o sofá, onde ele se senta. Ele abre a pasta que tem nas mãos e espalha algumas plantas e papéis sobre a mesa de centro a nossa frente.

- Eu peço sigilo absoluto sobre o que você está vendo. – Ele começa, levando os olhos aos meus novamente. – Por favor. – Ele diz, permitindo que eu me aproxime e toque os papéis. Ponho minha bolsa e pasta no chão e me inclino sobre a mesa, alcançando algumas folhas. Leio rapidamente e então olho as plantas sob vários ângulos. Tudo sob o olhar vigilante de Dominic, que segue cada um dos meus movimentos com os olhos de carvão em brasas.

- Uau. – É tudo que eu consigo produzir. O projeto é sobre um prédio absurdamente alto e cheio de detalhes intrínsecos que dará um trabalho magnânimo para ser construído. – É nosso?

- Sim, é. – Dominic responde, pegando alguns papéis. – Gael fechou esse contrato para daqui a exatos dois meses. – ele continua e não consigo controlar meu olhar de descrença em sua direção. Ele nunca vai conseguir entregar aquele projeto pronto em dois meses. – Eu sei. É maluquice. – Ele fala, correndo as mãos pelos cabelos grossos. Sigo o movimento de seu corpo e quase tenho que morder meu lábio para não babar. – Mas esse é Gael, ele vive fazendo maluquices com as quais eu tenho que lidar. – Ele conta, sem nenhuma gota de ressentimento da voz e então eu vejo o quanto a relação com o primo deve significar para ele. E então ele começa a me explicar mais detalhes sobre o contrato e as perspectivas do projeto, tudo que precisará ser feito e como Gael deixou claro que Dominic em pessoa seria o responsável geral daquilo tudo. Ele me fala também o valor muito generoso que a Riviera receberá e como aquilo nos colocará ainda mais no topo do mercado, que era o que a Cavandes & Riviera precisava. Eu concordei com tudo que ele dizia, porque era de extrema coerência, apesar de ainda estar um pouco insegura sobre o prazo.

- Entendi. – Eu falo, vinte minutos depois. – Mas porque exatamente o senhor me chamou aqui? - indago. Dominic me olha e solta o ar dos pulmões.

- Eu sei que você é especialista nesse tipo de projeto e eu jamais conseguirei terminar tudo sozinho, então, eu gostaria de saber se você consideraria me ajudar. Ser minha parceira de projeto. – Ele brinca, abrindo um pequeno sorriso, que revira meu estômago. Eu quero muito aceitar, mas fico com um pé atrás.

- Não seria melhor o senhor pedir ajuda para o Gael?

- O Gael está atolado de trabalho e eu realmente acho que você será a melhor escolha. – Ele diz, me olhando completamente. O silencio paira entre nós durante quase dois segundos. E então ele fala: - Adoro o jeito que sua cabeça funciona. – meu coração acelera, e não consigo controlar o sorriso que se espalha em meu rosto.

- Então, sim, eu adoraria te ajudar. – declaro. Dominic sorri pra mim, e o universo inteiro para por um instante. – Quando a gente começa? – Pergunto, ansiosa. Dominic volta suas atenções para os papéis e então de volta para mim.

- Você tem algum compromisso agora? – Ele pergunta.

- Não.

- Então a gente começa agora. – Ele fala, e eu sorrio. Dominic traz papel, lápis, canetas, e seu computador. – Por onde você quer começar? – Ele pergunta, e eu automaticamente aponto para a planta maior, aberta do centro da mesa.

- Por aqui. – Eu digo. Dominic concorda. Ele tira o Blazer, estica as mangas da camisa e eu prendo meu cabelo em um coque. Ele sorri de leve pra mim e então nós começamos o trabalho. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOWhere stories live. Discover now