DOMINIC

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Duas semanas.

Duas semanas sem Júpiter. Duas semanas de pura tortura. Meus pais já haviam ido embora, decepcionados, como sempre, e Gael estava me ignorando, depois de falar comigo em um tom que eu não ouvia há muito tempo.

- Eu não vou ficar parado vendo você se destruir. – Ele disse, antes de bater a porta do meu apartamento com força suficiente pra derrubar o prédio inteiro.

Então agora eu estava sozinho, sem meus dois melhores amigos. E então eu estava fazendo o que eu fazia de melhor, me afundando em trabalho até que tudo que em que eu conseguisse pensar eram os projetos a minha frente e a minha carreira. Uma batida na minha porta faz eu sobressaltar.

- Pode entrar. – Eu digo, passando a mãos pela cabeça para domar os fios que estão cobrindo toda a minha nuca. Preciso cortá-los o mais rápido possível. Assim que a porta se abre, me surpreendo com a visão de Luísa parada me encarando.

- Desculpa aparecer do nada. – Ela diz, seguindo até minha mesa. Me levanto e ela me dá um beijo de leve na bochecha.

- Não tem problema nenhum. – Eu digo. – Senta, por favor. Aconteceu alguma coisa? – pergunto, tentando controlar a urgência na minha voz.

- Sim. – Ela diz, me encarando. – Você é o ser humano mais burro que já pisou nessa terra. – ela declara, e eu a encaro com os olhos arregalados. A mulher é pelo menos trinta centímetros mais baixa que eu e tem a metade do meu peso e tem mais ousadia do que eu vi em muito tempo. – Porque só sendo muito estúpido para deixar a Júpiter escapar. – ela sibila.

- Eu... – tento explicar mas ela levanta a mão, me calando. Eu quase sorrio.

- Não, quem vai falar sou eu. – ela diz, me fuzilando. – Sabe, Dominic, quando você apareceu na vida da Júpiter, eu tinha um bom pressentimento sobre você. A forma que vocês se olhavam... desde que vocês se esbarraram no elevador... Você era exatamente a pessoa pela qual ela esperou a vida inteira e pela primeira vez em anos, eu vi Júpiter se permitir fazer algo por ela, e não pela família ou por qualquer pessoa que ela ame. Ela se permitiu se apaixonar por você, e te deixou entrar na vida dela, na família dela. – Luísa continua e eu fico tonto. É como ser socado mil vezes na boca do estômago. O fato dela conjugar todos os verbos no passado só torna tudo pior. – Ela te deixou entrar, Dominic. – Luísa declara, e seus olhos marejados pela mágoa da melhor amiga me faz querer ficar de joelhos. – Sabe pra quem Júpiter já deu um desenho? Eu, seus pais e Firenze. Só. Mais ninguém. Ela não compartilha sua arte com ninguém, ela não fala da doença do pai com ninguém, ela aguenta tudo SOZINHA. – Luísa fala, certeira. – e ela te deixou entrar e você tá estragando tudo por algo que ela nem compreende.

- Eu... – tento, falar.

- Ainda não terminei. – Luísa sala, empertigando os ombros. – Eu sei o que é ter um passado triste, Dominic. E se você acha que é melhor para Júpiter ficar longe de você e não fazer parte disso, ok. Mas não ouse tirar o direito de escolha dela. Deixe ela tomar essa decisão sozinha. Ela já teve decisões demais tiradas dela ao longo da vida. – Luísa decreta. – Ela merece mais que isso. Ela vale um futuro inteiro. Mil vidas inteiras. E vocês podem passar por isso juntos.

- Ela me odeia. – Eu falo, tirando meus olhos de Luísa.

- Ela te ama, seu imbecil! – Luísa grita e eu a encaro surpresa.

- E-ela o q-que? – Eu pergunto, tremendo.

- Pelo amor de Deus, Dominic. – Luísa fala. – Eu acho que ela te ama desde a primeira vez que te viu, e você foi mal educado! – Ela brinca e eu gemo, querendo chorar. Meu coração implora por Júpiter.

- Essas duas ultimas semanas foram um inferno. – Luísa, diz e eu a olho. – Ela ficou muito triste. Teve muitos pesadelos com... você sabe. – Luísa diz, triste. – E acordava de madrugada chamando por você. – conta, e eu me encolho. Eu sou mesmo um imbecil. – Só que ela cansou de sofrer. – diz e eu a olho preocupado.

- Como assim? – pergunto, alarmado.

- Ela disse que não ia ficar triste pra sempre e que ia sair pra se divertir. – Luisa diz. – Um amigo nosso da faculdade chamou ela pra jantar e ela aceitou. – conta, direta e eu fecho minhas mãos em punhos, se alguém ousar encostar em Jupiter eu vou perder a cabeça. – E não é só um amigo. – Luísa diz. – Ele é apaixonado por ela há anos e ela nunca aceitou nenhum convite, mas você acabou de entrega-la de bandeja pra ele. – ironiza, com raiva.

- Se ele encostar um dedo... – eu começo.

- Espera aí, valentão. – Luísa fala, rindo. – Não posso te deixar ir atrás dela assim, Dominic. – ela declara, ficando séria. – Se eu te falar onde Júpiter está, você tem que me prometer que é pra fazê-la feliz e não miserável. Eu prefiro ela feliz com o paspalho do Jonas do que infeliz com você. – ela diz, com uma careta. – E não tô falando de feliz fisicamente, eu estou falando emocionalmente. Com honestidade e liberdade. Com confiança. – Ela diz e tenho vontade de esmaga-la em um abraço.

- Júpiter é muito sortuda por ter você, sabia? – Pergunto com um sorriso.

- A recíproca é verdadeira. – Ela diz, com um aceno de cabeça.

- Meu passado é horroroso. – digo, do nada e recebo um olhar atento. – É cheio de luto e dor e não quero tocar nesse assunto. Principalmente com a Júpiter.

- Então você tem que escolher. – Ela diz. – Ter a Júpiter ou ficar na sua zona de conforto emocional. – declara e meu coração grita. Ela. Ela. Ela. Ela.

- Me passa o endereço. – Digo, em levantando. Luísa se levanta também e joga os braços para o ar.

- Aleluia, senhor! – Ela diz, me fazendo rir. – E eu te mandei o endereço meia hora atrás. – Ela diz dando de ombros. – Só queria dar um discurso triunfal mesmo. – continua, rindo. – Deus me livre a Jú com o Jonas, você pelo menos é bom de se olhar. – Ela brinca e eu gargalho.

- Você é perfeita. – Eu digo, a puxando para um abraço rápido.

- Go get her!*  - Ela diz em inglês, batendo as mãos e eu saio correndo escritório a fora, ouvindo a risada de Luísa ao fundo. Assim que passo pela porta, vejo um Gael parado, de braços cruzados me encarando.

- Acho que eu estou meio apaixonado por ela. – Ele diz, indicando meu escritório.

- Você ouviu? – Pergunto.

- Acho que o andar inteiro escutou. – Ele diz, com um meio sorriso.

- Ela é uma mulher maravilhosa. – Eu digo, colocando a mão em seu ombro largo.

- Sim, eu sei. – Ele diz, compenetrado e acho que nunca vi Gael tão triste em toda a minha vida.

- O que tá acontecendo, Gael? – Pergunto, desconfiado.

- Depois a gente conversa, - ele diz, me puxando pra um abraço rápido. – Vá pegar sua garota. – Ele diz, eu sorrio e vou. 



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* tradução livre: vá pegá-la! 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETODonde viven las historias. Descúbrelo ahora