JÚPITER - PARTE I

5.7K 520 44
                                    


Eu sabia que algo estava errado.

Eu simplesmente sabia.

Não só pelo fato de Golveia não ter aparecido na reunião final antes de fecharmos o contrato e ter deixado Gael e Dominic furiosos. Mas havia algo no ar. Uma indicação de que algo terrível estava prestes a acontecer. Nunca me considerei uma mulher supersticiosa. Sexto sentido e intuição não eram meus métodos principais para quase nada. Mas aquele embrulho no estomago conforme eu e Dominic descíamos de elevador até a garagem de mãos dadas, deveria ser a indicação de alguma coisa. Dominic estava irritado. Ninguém nunca havia dado um bolo nele em toda a sua vida. Fiz um carinho ligeiro em sua mão e beijei seu braço carinhosamente. Ele suspirou e puxou nossas mãos até a altura de seus lábios, para então depositar um beijo cálido no encontro dos nossos dedos. Despertei do transe com o barulho suave do elevador indicou que estávamos no subsolo. As portas se abriram e caminhamos em direção ao meu carro, lentamente. A sensação impertinente na boca do meu estômago me incomodando cada vez mais. Eu precisava falar com Dominic. Virei em sua direção e então eu vi.

Eu vi a van preta parada há dez metros de distância. Eu vi exatamente o momento em que os dois homens mascarados olharam no fundo dos meus olhos. Dominic seguiu meu olhar, e foi o que bastou para que a van fosse posta em movimento e Dominic me empurrasse para longe, o profundo desespero marcando cada uma de suas feições. Seu grito horrorizado ecoou pelo ambiente vazio.

- JÚPITER, CORRE! – Ele berrou, mas era tarde demais. A van já estava parada a nossa frente, os homens mascarados já estavam pulando para fora e enfiando um saco na minha cabeça.

Eu berrei.

Eu berrei mais alto do que achei que um dia poderia berrar na vida.

Eu berrei como se estivesse prestes a morrer.

Porque eu estava.

Ouvi Dominic gritar por mim, e ouvi socos, arfadas de ar. Ouvi Dominic chamar por mim mais uma vez, antes de ser jogada com força no chão da van e ouvir o baque surdo do corpo de Dominic cair ao lado do meu. Minhas mãos foram rapidamente presas com um material fino e tateei no escuro até minhas mãos acharem o corpo de Dominic.

- Parada, vadia. – Um homem falou, me chutando na costela. Gritei de dor e pude sentir o corpo de Dominic se agitar perto do meu.

- O que vocês querem? – Dominic perguntou, num tom de voz tão controlado que me perguntei como diabos ele não estava entrando em pânico. Nós estávamos sendo sequestrados, porra. – Dinheiro não é problema. Nós podemos resolver isso de forma fácil, e sem ninguém precisar se machucar. – declarou, a voz estável. Houve apenas dois segundos de silêncio antes de os homens gargalharem profundamente.

- Nós fazemos as regras aqui. – O homem que me chamou de vadia diz. – E cale a porra da boca antes que eu acrescente mais um buraco aos que você já tem na cabeça.

E foi então que eu rompi. Eu senti a morte pairando sobre nós. Não só como uma sombra, ou presságio que faz a barriga doer. Eu a senti como um soco forte na boca do estômago. Rapidamente, minha mente foi inundada com mil imagens de minha família, Luísa, Thomas, Firenze, Dominic. Dominic... Nossa vida tinha acabado de começar e agora estávamos sendo tirados um do outro. Toda a minha vida estava escapulindo por entre os meus dedos e eu não fazia ideia do porquê.

O carro continuou sacodindo por 20 minutos. E então o motor desligou e houve uma movimentação do lado de fora da van. A porta foi aberta e antes que eu pudesse me preparar, meu corpo foi puxado para fora e eu gritei desesperadamente.

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOWhere stories live. Discover now