JÚPITER

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Eu era uma imbecil.

Não, eu era a mãe de todas as imbecis.

Eu havia acabado de fugir como uma garotinha assustada. Porque era exatamente assim que eu me sentia. Profundamente, terrivelmente, enlouquecedoramente assustada. Dirigindo 20km acima da velocidade permitida na rodovia, meu cérebro estava determinado a revirar cada segundo do beijo avassalador que tinha acabado de fritar meus neurônios. Eu simplesmente não conseguia entender como aquilo, como um beijo podia mexer tanto com alguém. Foi quase... etéreo. Eu ainda podia sentir cada toque de Dominic em mim, como se ele tivesse deixado um rastro de si no meu corpo. Cada sussurro, cada deslizar de bocas e mãos, tudo... Era apenas demais para mim. Agora tudo que assolava meus pensamentos era Dominic, o sorriso safado entre um beijo e outro, o perfume inebriante – amadeirado, grave, de homem – grudado em cada canto de mim. Minha calcinha molhada estava me deixando desconfortável e a raiva por ter fugido era como uma criança irritante na minha cabeça. Mas se eu ficasse teria sido pior ainda. O desconforto seria bizarro, ele era meu chefe, meu parceiro de projetos, meu recente amigo. E agora o tesão velado que eu sentia por ele desde nosso primeiro esbarrão, estava queimando na minha pele. Estava queimando em todos os lugares. Suas mãos prendendo as minhas, meu corpo implorando pelo seu toque... tudo.

Eu não fazia ideia do que fazer agora. Agir como se nada tivesse acontecido? Debater o tópico com praticidade? Eu não sabia. Eu só sabia que embora meu cérebro me dissesse que era errado, que nós deveríamos manter tudo estritamente profissional, meu corpo e aquela coisa batendo alucinadamente no meu peito pareciam ter uma ideia muito diferente. Bufando, cheguei em casa, tranquei a porta, me joguei no sofá e apoiei minha cabeça no colo de Luísa que sem nem se assustar, começou a fazer carinho no meu cabelo, sem desviar os olhos do seu livro sobre arte francesa. Grunhi e afundei meu rosto em uma almofada.

- O que houve? – Ela perguntou, tirando a almofada do meu rosto.

- Eu beijei Dominic. – declaro, recebendo um arregalar de olhos surpresos.

- E aí?! – ela pergunta, ansiosa.

- Estou fodida. –falo, e ela entende tudo.

- Puta que pariu. – Luísa fala. – Me explica isso direito. – ela pede. E então eu explico. Tudo. De Eva, a amizade, as perguntas e o beijo. Quando termino, Luísa se levanta, vai até a geladeira e traz duas cervejas. Ela ergue a sua em minha direção em um brinde.

- Aos homens gostosos e interessantes. – Ela diz.

- Às mulheres que são estúpidas o suficiente para beijá-los e quererem mais. – concluo. Nossas garrafas se encostam e viramos um gole longo. O silêncio diz tudo. 

O UNIVERSO ENTRE NÓS  - COMPLETOWhere stories live. Discover now