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Josh

Eu me sentia um peixe fora d'água.
Depois de tudo o que tinha acontecido, era impossível não me sentir assim no meio de todo aquele barulho e tantas pessoas.
Afinal de contas, era a primeira festa que eu ia depois da morte do Mike.
Era na verdade o primeiro lugar que eu ia, além da casa da Donnie, desde o acidente.
Todos me cumprimentaram, os sóbrios se esforçavam para não tocar no nome do Mike, mas os bêbados falavam no "M-Hutch" o tempo todo. Não que isso me incomodasse, vendo que eu mesmo, volta e meia, pensava no meu amigo.
Com o passar do tempo eu consegui me soltar um pouco e até participar de algumas rodinhas de conversas... Me inteirando dos acontecimentos dos últimos meses. E tomando a maior quantidade possível de álcool para aguentar tudo aquilo.
Depois de perceber que os poucos sóbrios estavam passando pro time dos bêbados e eu ao menos sabia o motivo da comemoração, resolvi aceitar todo e qualquer tipo de bebida que passasse perto de mim.

Passei pelo Jared, que eu finalmente soube que era o dono da casa e aniversariante, e perguntei se algum quarto estava vago, enquanto a Bridget beijava meu pescoço com bastante vontade. Após receber um aceno de cabeça, pois ele mesmo não estava em condições de se concentrar numa conversa, subi o restante das escadas e depois de algumas tentativas achamos um quarto vazio.
- Eu senti sua falta, Ashmore – Bridget ronronou e mordeu meu lóbulo direito, enquanto eu terminava de subir o vestido pelas pernas bem torneadas dela. Apenas dei um sorrisinho, que se não estivesse tão bêbado pareceria meu sorriso sacana, não que ela fosse perceber meu estado, já que estava quase tão ruim quanto. Nós mal parávamos de pé.
A empurrei contra a parede e terminei de tirar o vestido curtíssimo que ela usava, descobrindo que por baixo dele ela vestia somente uma calcinha vermelha... E essa informação trouxe uma lembrança um pouco embaçada na minha mente embriagada... Stella falando que garotas que vão á festas de lingerie vermelha esperam que algo aconteça, não importa com quem e nem como, elas somente precisam que alguém as ache gostosas, e que ela mesma, Donnie, não tinha uma única peça intima dessa cor... Pensar em Donnie trazia à tona a merda de sonho que tive com ela... O beijo...
Quando dei por mim, estava somente de boxers... Enquanto pensava em Donnie, Bridget terminou de tirar nossas roupas e nos guiou até a cama. Assim que me ajoelhei entre as pernas da mulher ruiva e de seios grandes que me lançava um olhar de puro tesão, acho que esqueci até meu nome. Era bom poder ter momentos de prazer com a Briddie outra vez, sem me preocupar com nada além de nós dois naquele quarto.
Assim que terminei de tirar sua calcinha, Briddie deu uma risadinha e num movimento rápido demais pra quem estava bêbada, me fez deitar de costas e sentou sobre meu quadril, me fazendo gemer quando pressionou aquela parte tão quente dela contra o volume nas minhas boxers. Ela me beijou na boca mais uma vez e então foi descendo os lábios pelo meu pescoço, peito, abdômen, até chegar ao ponto certo. Ela o beijou por cima do tecido e riu mais alto quando eu entrelacei uma das mãos em seus cabelos de um jeito um pouco rude.
Eu não transava com ninguém desde a morte do Mike. Era óbvio que não estava com paciência pra joguinhos de sedução. Queria ir direto ao ponto, e Bridget sabia disso, me conhecia o suficiente para pelo menos imaginar o óbvio.
Ela então tirou a peça restante e me olhou de um jeito perverso antes de deslizar a língua por toda sua extensão, me fazendo gemer alto.
Eu estava em um estado tão critico de abstinência, que achei que não aguentaria me segurar por nem mais um minuto... Eu mal ouvia o barulho da festa que ainda acontecia pela casa... Mantive meus olhos fechados, esperando o próximo movimento de Briddie... Adorando o fato de que mesmo que não aguentasse muito, ainda teria o resto da noite para compensar a Briddie por isso...
Xinguei baixo quando ela passou a me masturbar com a boca, num ritmo rápido... No meio do turbilhão de coisas que se passava pela minha cabeça atordoada de bêbado, eu achei ter escutado alguma coisa que deveria significar alguma outra coisa... Bridget sabia como eu gostava das coisas, e como sempre, não me decepcionou... Quando sentiu que eu estava prestes a perder o controle, ela mesma pegou uma camisinha e enquanto ela a colocava em mim, ouvi Ocean Avenue do YellowCard tocar baixinho, mas não dei atenção... Briddie então se posicionou sobre mim, e quando começou a descer o corpo de encontro ao meu, eu tive um lampejo de sobriedade e congelei na hora: era meu celular tocando. Aquela música significava apenas uma coisa: era Donnie me ligando.


Donnie


Foi muito estranho perceber que eu não ouvia minha própria voz há dias. Afinal, eu simplesmente resmungava qualquer coisa quando minha mãe ou Celyn falavam comigo. Não que eu precisasse da minha voz pra alguma coisa, na verdade... Já que aos poucos todos estavam desistindo de mim.
Mamãe não me contou, mas certo dia ouvi uma conversa ao telefone, ela contando á minha madrinha que o encontro com Zachary tinha sido ótimo. Pois é, minha mãe estava namorando e não me contou, e eu não a culpava de maneira alguma.
Celyn também tinha parado de tentar me fazer sair do quarto, ou comer, ou sequer falar com ela... Todos os dias ela batia na porta do quarto e esperava enquanto eu saia para poder limpar o cômodo.
As pessoas em geral pararam de ligar, de ir até nossa casa saber noticias minhas. E aquilo era bom.
O pior mesmo foi perceber que Josh havia desistido de mim. Apesar da culpa ser toda minha. Ele tentou me visitar três vezes depois que tive aquele maldito sonho, mas eu não abri a porta, muito menos deixei a janela destravada, para que ele entrasse como fazia desde pequeno. Ele me chamou baixinho algumas vezes, e quando não teve resposta, só disse "ok, se precisar, sabe que pode me ligar a qualquer hora".
Aquilo foi há semanas.
A última vez que falei mais que dez palavras tinha sido doze dias atrás. Quando aceitei que um amigo da mamãe, doutor Fitzgerald, me visitasse e fizesse algumas perguntas. Ele então me propôs um acordo: me daria pílulas para ajudar a dormir, se eu prometesse me alimentar direito e ir até a varanda tomar um pouco de sol, por pelo menos dez minutos em dias alternados. Estava cumprindo minha parte do acordo com afinco, pois sei que mamãe e Celyn dariam um jeito de sumir com as pílulas se eu não me comportasse. E eu não podia mais viver sem aqueles comprimidos cor-de-rosa. Elas se tornaram a coisa mais importante pra mim, afinal, havia se tornado impossível dormir mais que vinte minutos.
Porém aquela noite em especial, algo estava errado... Mais errado que o normal. Eu já tinha tomado uma pílula e estava deitada há mais de quarenta minutos, mas não sentia efeito algum. Sendo que em noites normais, eu me sentia sonolenta poucos minutos depois de ingerir o comprimido.
Mamãe estava cuidando de uma menina com um caso grave de leucemia na cidade vizinha, disse que voltaria o mais rápido possível... Era a primeira vez que ela me deixava completamente sozinha. Sem minha madrinha, ou tio Charles, ou Celyn para me ligar de duas em duas horas para ver se eu estava bem.
Me senti vazia e minha cabeça voltou a doer.
Fui ao banheiro e pensei se deveria tomar mais um comprimido.
Meus olhos ardiam e meu corpo estava pesado.
Engoli uma pílula sem pensar muito mais no assunto.

Mais meia hora se passou e nenhum efeito. Eu estava exausta e mesmo assim não conseguia pegar no sono.
Tomei mais um comprimido.
O telefone de casa tocou, e sem pensar, desci correndo as escadas até a sala escura.
- Michael? – falei sem fôlego.
- Alô? - uma voz estranha respondeu do outro lado da linha. Desliguei o aparelho no mesmo segundo. As lágrimas que haviam me abandonado, assim como todo mundo, voltaram imediatamente aos meus olhos. A realidade me cumprimentava mais uma vez. Não era Michael me ligando para dizer que tinha acabado de chegar da faculdade. Nunca mais Michael me ligaria. Michael tinha me abandonado também.

Não saberia dizer se segundos ou horas passaram até que eu estivesse deitada no tapete da sala de estar, com o telefone apertado contra a orelha, esperando pra ouvir a voz dele dizendo "Oi, você ligou pro cara mais gostoso do Reino Unido... Espera! Esse seria eu, Mike Hutch... Na verdade você ligou pro fracassado do Josh Ashmore! Se você não for exigente, deixa uma mensagem pro moleque...".  O vidro de comprimidos estava jogado ao meu lado, vazio, quando ouvi alguém praticamente gritar meu nome do outro lado da linha... Então eu finalmente consegui o tão esperado sono profundo.

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