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Josh

- Finalmente essa praga dormiu – disse baixo sem desviar os olhos da estrada. Stella me deu um tapa na cabeça em seguida – Ai, doeu!
- Era pra doer mesmo! – ela também falava baixinho, evitando acordar o monstrinho no banco de trás – Para com essa mania de implicar com o seu irmão!
- Mas ele é uma peste! – tentei argumentar, mas ela não deixou.
- Você vivia pedindo um irmãozinho pros seus pais, o tempo todo! E agora fica nessa chatice com o menino! – ela prendeu o cabelo num rabo de cavalo todo destruído pelo vento morno de verão que entrava pelas janelas do carro. E mesmo por trás dos óculos escuros, eu sabia que ela me lançava aquele olhar metidinho.
- Eu sou essa chatice, como você diz, porque ele é a encarnação do capeta! – como esperado, ganhei mais um tapa, só que dessa vez na perna, Donnie só não esperava que eu revidasse com um cutucão em suas costelas, arrancando um gritinho assustado dela.
- Seu retardado! – a mão dela parou no ar, pensando duas vezes antes de me bater de novo – Não fala assim do Dex, ele é um doce de criança.
- Corrige essa frase, Donnie! Ele era um doce... Quando ele chegou em casa, era o bebê mais legal desse mundo... Mas agora? Ele não para de me encher! – olhei o pestinha de cabelos enrolados dormindo de boca aberta e sorri – Você sabe que eu tô brincando né? Eu amo esse moleque... Minha família não seria nada sem ele.
- Acha que eu não sei que você é doido por ele? Afinal, se não fosse, porque estaríamos numa viagem de 8 horas de carro pra casa de uma tia que você nem gosta tanto assim? – ela falou de um jeito irônico idêntico ao que fazia antigamente.
- Só pra passar mais tempo levando esses tapas ardidos que você adora me dar, é claro!
- É claro! – ela sorriu de lado e bateu as costas da mão no meu braço.

Férias de verão.
Dez meses desde a morte do Mike.
Stella voltaria pra faculdade no novo ano letivo.
Minha banda assinara contrato com uma gravadora famosa, estávamos em processo de composição livre do álbum... Depois das férias, nos reuniríamos pra compor de verdade.
Dex ia passar as férias na casa da minha tia Grace, no interior, e eu me voluntariei para leva-lo até lá, aproveitando para arrastar Stella junto... A desculpa perfeita para tira-la de dentro de casa. Tia Susan e o psiquiatra dela adoraram a ideia.
Donnie não pareceu curtir muito no começo... Mas ela não podia dizer "não" quando todo mundo falava que era o melhor a se fazer, e afinal, só levaríamos o Dex e voltaríamos... Nada demais.

- Help! I need somebody help! Not just anybody, help! You know I need someone, heeelp! – Donnie e Dex berravam a música dos Beatles á plenos pulmões pelas janelas escancaradas do carro. Eu só escutava e ria da maluquice dos dois.
Quando Dex acordou de seu cochilo, por volta da terceira hora de viagem, ele começou a cantar as músicas que passavam na rádio, mas errava tanto as letras que Donnie não aguentou e resolveu cantar também, corrigindo e rindo das besteiras que saiam da boca do meu irmão. Certo tempo depois, eles transformaram aquilo numa competição de quem cantava mais alto. Nunca descobrimos o vencedor, afinal, Dexter tinha mais fôlego, mas Stella sabia as letras de todas as músicas tocadas.
Ela estava rindo. Gargalhando! Se soubesse que era só deixar o Dex perto dela pra conseguir essa proeza, já teria levado o nanico para visita-la antes.
- Eu tô com fome – Dexter reclamou alto, para ser ouvido mesmo com a musica alta. Abaixei o volume e Donnie virou para olha-lo.
- Come o lanche que a sua mãe mandou, Dex – ela levantou os óculos enquanto falava daquele jeito maternal que só algumas garotas conseguiam.
- Acho que tô com fome de comida – meu irmão reclamou.
- Fome de comida? – eu zombei dele – O mundo esta acabando e ninguém me avisou?
- Para, Joshua, é sério! – Dex resmungou e chutou meu banco.
- Chuta de novo e você fica no próximo ponto de ônibus – avisei.
- Chega vocês dois – vi de canto que olho que ela me olhava feio – Josh, vamos comer no próximo restaurante que aparecer.

No fim das contas, a "fome de comida" se transformou em fome de hambúrguer e milkshake. Mas eu nem impliquei, estava ocupado demais observando Stella comer um cheeseburguer e tomar todo o suco de laranja do copo, sem ninguém mandar ou força-la a terminar.
Viajamos por mais quatro horas, então finalmente chegamos á casa da tia Grace. Ficava em uma cidade pequena, mas a casa era grande, estilo fazenda, onde a irmã mais nova da minha mãe morava com o marido, tio Gregory, e meus três primos: Amy, de 12 anos, Vincent, 10 anos, e Frederick, 3 anos. Eles eram o motivo de Dex gostar tanto de passar os três meses de férias lá.
Eu sempre detestei cada minuto que era obrigado a ficar lá: antes das crianças nascerem, eu nunca tinha companhia, e depois que elas vieram, não conseguia parar de pensar no que Mike e os outros caras estariam fazendo em casa, enquanto eu estava preso naquele fim de mundo.
Mas aquela vez era diferente. Eu tinha a Stella.

Donnie

Dex me animava. Só de estar perto de toda aquela alegria e empolgação típica de criança, já me tirava daquela coisa nebulosa que eu chamava de vida. Eu cantei, ri, conversei, gargalhei, comi, sorri sem motivo... E sem perceber. Mas Josh percebia. Ele me observava o tempo todo. Eu fingia não ver, mas era óbvio que ele gostava de toda aquela melhora tanto quanto eu. Finalmente... Finalmente eu estava começando a deixar a tristeza pra trás e voltando a ser a Stella que eu era. Finalmente ausência do Michael estava deixando de gerar dor e sofrimento... Deixando só saudade.

- Donnie, você se ferrou! – Dex, sentado no meu colo e com a cabeça pro lado de fora da janela, comentou enquanto olhava o sol se pôr no curto trecho de estrada de terra que ia da cidade até a casa da tia dos meninos.
- Porque eu me ferrei?
- Vai dormir no mesmo quarto que a Amy... – ele riu – Ela faz xixi na cama.
- Josh vai dormir onde? – perguntei fazendo careta, já sentindo o cheiro de xixi.
- No sótão, é claro! – ele fez aquela carinha linda de "é óbvio, bobinha".
- Porque você dorme no sótão e eu no quarto do xixi? – virei para o nosso calado motorista que sorria.
- Porque eu sempre dormi lá!
- Acho digno você dormir com os meninos e me dar o sótão, o que acha? – tentei sorrir de um jeito fofo. Acho que quase consegui.
- Nada feito – ele sorriu e foi salvo pelo gongo: chegamos á casa da famosa tia Grace. Ela era a irmã rebelde da minha madrinha, eu a via quando era bem pequena, depois disso ela se mudou para a Escócia, onde morou por muitos anos até conhecer o marido e então voltar para a Inglaterra, mas para nunca perto o suficiente da família.

- Tia, a senhora lembra da Stella, filha da Susan? – assim que estacionamos, Dex pulou do meu colo, meio que me apresentou os priminhos que esperavam no lado de fora e logo saíram correndo para a parte de trás da casa. Sai do carro e Josh entrelaçou sua mão a minha, nossa nova mania, e fomos encontrar o casal e o menininho que nos esperavam em frente á casa.
- Claro que eu lembro! Querida, linda como sempre – Grace me abraçou e sorriu para mim, muito mais simpática do que eu me lembrava – Há quantos anos eu não te vejo!
- Muitos anos! Muito obrigada por me receber – sorri e então apertei a mão do marido dela, então me virei para o lindo menininho de olhos castanhos que matava algumas formigas com a pontinha do dedo – Você deve ser o Frederick.
- Oi – ele deu um sorrisinho rápido e voltou a matar os insetos.
- Ele esta obcecado por formigas e caramujos, se bobear ele os leva para a cama! – Grace riu e pegou o filho no colo – Seja muito bem vinda Stella, fico feliz em ver você e Josh juntos.
- Eu... Nós... – eu sabia que estava mais vermelha que um pimentão.
- Demorou, mas finalmente nos acertamos – quase tive um ataque cardíaco ao ouvir tais palavras saindo da boca de Josh, e logo sentir seu braço em volta da minha cintura.
- Que bom, meu garoto! – Gregory apertou a mão do sobrinho mais uma vez e sorriu para mim – Nos dias de hoje, esta cada vez mais difícil achar uma boa mulher que queira firmar compromisso.
- Eu que o diga, tio... – Josh, o ator, me puxou para mais perto e beijou minha cabeça – Foi difícil laçar essa aqui – tive que morder o canto da boca para não expressar reação.
- Bom, vamos entrar? Vocês devem estar cansados – Grace nos conduziu casa adentro – Stella, eu não sabia da sua relação com o Josh, por isso tinha preparado uma cama no quarto da Amy... Mas agora, você pode ficar no sótão, mas...
- Nós somos liberais, mas temos crianças na casa, vocês entendem? – Gregory completou.
- Claro que entendemos! – respondi de imediato, sentindo o rosto corar de novo – Na verdade, eu não me importo de ficar com a Amy, só vamos ficar uma noite...
- Nós vamos nos comportar não se preocupem – Josh me cortou e eu tive vontade de mata-lo. Afinal, pra que toda aquela encenação?
- Vocês estão com fome? – mal tivemos tempo de negar e as crianças entraram correndo na sala de estar.
- Josh! Josh! Você não vai acreditar! – Dex estava com as bochechas coradas e os cabelos completamente bagunçados.
- O que foi, cara? – Josh deu um cumprimento "de homem" ao primo Vincent e um beijo na cabeça de Amy, que me olhava desconfiada.
- Hoje começa o festival na cidade! – Dex pegou minha mão e fez cara de cachorro sem dono – Vocês precisam ir! Donnie, você vai adorar! Tem um monte de comida, brinquedos e pessoas cantando!
- Dexter tem razão – Grace não parecia em nada a garota rebelde que eu conheci quando criança – O que custa vocês ficarem aqui para o festival? Só dois dias!
- Por mim – Josh deu de ombros e me olhou... Quem era eu pra negar?
- Tudo bem, nós ficamos!

- Gostou deles? Gostou da casa? – ele me perguntou assim que fechou a porta do enorme quarto/sótão.
- Eles são uns amores... A casa é linda – sentei na cama e tirei as sapatilhas. Estava cansada, porém não era aquele cansaço dos últimos meses, era físico mesmo.
- Se você quiser ir embora, a qualquer minuto, é só falar e nós vamos, ok? – ele sentou ao meu lado e tentou ler minha expressão, como sempre.
- Ok, mas acho que sobrevivo a um fim de semana longe de casa... Eu acho – completei com uma careta e ele riu.
- Quer dormir um pouco? Está cansada? – o jeito que ele levou a mão á minha cabeça e mexeu nos meus cabelos foi tão natural quanto a minha reação de fechar os olhos e respirar fundo.
- Eu tô um pouco cansada, mas não tô com sono – respondi baixinho, apreciando o carinho calmo que o polegar dele fazia em minha bochecha – Josh?
- Hum? – ele também ficou mais quieto de repente.
- Porque você mentiu? – mantive os olhos fechados – Porque disse que eu era sua namorada?
- É... Eu... – como no dia em que tomei as malditas pílulas, senti a respiração dele muito próxima ao meu rosto – É tão fácil pra todo mundo acreditar nisso... Que... Sei lá... Fiz mal?
- Não... – eu estava com problemas para falar, assim como pra respirar – Não tem problema... – abri os olhos e meu coração quase parou ao me deparar com Joshua me olhando com uma intensidade diferente do normal. ​Dessa vez eu não esperei que ele fizesse alguma coisa. Eu tomei a iniciativa e me aproximei. Passei meu nariz bem de leve me dele, encorajada por um sentimento completamente novo. Naquele momento eu não pensei se era errado, se estava apressando as coisas... Eu não pensei nem no Michael.
Josh arqueou as sobrancelhas e deu um sorrisinho antes de segurar meu rosto com uma das mãos e roçar nossos narizes de novo, fazendo nossos lábios se encostarem rapidamente... Respirei fundo e acabei com a distancia de uma vez por todas.
- Josh! – Amy entrou correndo no quarto nos assustando.
- Cena de filme – Josh resmungou e levantou da cama – Oi princesa.
- Vem comigo, quero te mostrar nosso novo filhotinho – a garotinha puxou o primo pela mão, me lançou um olhar feio e logo desceram as escadas. Sorri sozinha quando entendi o motivo do visível desgosto de Amy por mim: Josh era seu primeiro amor. E ele nem percebia.

Fiquei sentada numa espécie de sofá no parapeito da enorme janela por algum tempo, observando o sol começando a se por sentido o ar morno de verão bagunçar meus cabelos... Aquele lugar era lindo! Os campos extremamente verdes estavam salpicados de pontinhos coloridos das flores. Haviam varias casas parecidas com a da tia Grace por perto, criando um cenário quase irreal de tão bonito. De repente os meninos apareceram correndo atrás de um cachorrinho branco, sendo seguidos por Amy puxando Josh pela mão.
- Ele é fofo, não é? – ela sorria para o primo de uma forma encantadora – O nome dele é Hunter.
- Hunter? Que nome legal! – Josh bagunçou os cabelos da menina e então abaixou para brincar com o filhotinho. Os meninos voltaram a correr, fazendo Hunter segui-los dando latidos agudos – Você não vai brincar com eles, princesa?
- Não, eu prefiro ficar com você... – mesmo de longe eu pude ver as bochechas de Amy ficando escarlate – É q-quero dizer... Eu não quero correr pra lá e pra cá com os meninos...
- Já tá virando uma mocinha, né? – o sem noção do Josh disse e bagunçou os cabelos da menina outra vez. Eu quase voei pela janela para dar um soco na cara dele. Como ele podia ser tão cego? Pobre Amy.
Eles ficaram mais alguns minutos conversando sobre a escola de Amy, até Josh aproveitar o chamado de tia Grace para irem lanchar e deixar a priminha com um enorme bico ao sair praticamente correndo para casa. Segundos depois ele apareceu no sótão, ligeiramente sem folego por subir as escadas correndo.
- Stella! – se esquivou assustado da almofada que eu joguei contra ele – Tá maluca?
- Como você pode ser burro assim? – completei quando ele fechou a porta.
- Burro? O que eu fiz? – ainda me olhava alarmado.
- O que você não fez, ou melhor, o que você não percebe! – eu continuava sentada no parapeito acolchoado da janela, fazendo cara feia enquanto ele se aproximava.
- O que eu deveria perceber e ainda não saquei? – o jeito que Josh me olhou fez um calafrio passar pela minha coluna. Me apressei a explicar.
- Amy! Ela gosta de você, Ashmore! – ao sentar perto de mim, aproveitei para segurar sua cabeça com as duas mãos e sacudi-la de leve – E você fala as piores coisas nas piores horas!
- Amy? Gosta de mim? – ele não parecia se importar com as sacudidelas que eu dava em sua cabeça, a carinha de confuso que ele fazia era mordível – Não pode ser... Ela é um bebê... É minha priminha!
- Ela está na idade de reparar em garotos, seu tapado! – dei um tapinha na cabeça dele, que ainda me olhava meio desnorteado – Você jura que não reparou nos olhares malignos que ela lançou na minha direção? Ela está morrendo de ciúme, pobrezinha.
- Donnie... Sério, eu tô em choque – e ele parecia em choque mesmo – Ela é muito nova pra já pensar nessas coisas e... – Josh foi interrompido por uma batida na porta.
- Pombinhos, a tia Grace mandou avisar que vamos sair pro festival daqui uma hora – a vozinha de Dex tinha um tom de riso, fazendo o irmão revirar os olhos.
- Obrigada pelo aviso! – eu respondi alto, logo ouvindo as risadinhas das crianças descendo as escadas correndo.

Josh


- Dexter, azul ou preta? – mostrei as duas camisetas para o pestinha que pulava na cama só de cueca.
- Preta! – ele era ligado no 220v, mas quando ficava perto dos primos... Era quinze vezes pior. Eu arrumei as coisas de Dex nas gavetas do quarto dos meninos enquanto ele tomava banho. É claro que fui inspecionar o final do banho, pra ter certeza que ele lavara toda a terra mesmo.
- Veste a bermuda... Dex, desce da cama e veste a roupa! – quando ele viu que eu não estava brincando, revirou os olhos (do jeito que minha mãe falava que era igualzinho á mim) e começou a vestir a roupa que eu havia separado. 
- Cadê a Donnie? – ele perguntou ao terminar de colocar a polo preta, deixando os cachos castanhos mais desordenados que o normal.
- Tá se arrumando – penteei os cabelos do meu irmãozinho sem prestar muita atenção, pensando se Donnie já estava pronta. Tomei banho, me arrumei e sai do quarto para que ela tivesse privacidade.
- Vocês tão namorando de verdade agora? – pronto, lá estava. Eu sabia que estava demorando pra ele me fazer alguma pergunta do tipo.
- Não namorando... – me enrolei pra responder, sabendo que mentir pra criança é a pior coisa a se fazer.
- Ficando? – ele me olhou com aqueles olhos azuis espertos demais pra idade.
- O que você sabe sobre ficar, moleque? – joguei as meias na cama e ele logo começou a calça-las.
- É como ter uma namorada, mas sem ter que dar presentes! – depois dessa frase tão profunda, eu ri e esperei que ele colocasse o tênis e então saímos do quarto.


Ela estava linda. Depois de tantos meses vendo Donnie só de pijamas ou roupas largas... Era muito bom vê-la usando um vestido azul claro estampado e sapatilhas rosa. O cabelo que eu acostumei a ver com aquele ar de desarrumado, estava com algumas ondas e a franja caindo sobre os olhos.
Acho que a encarei demais... As bochechas da Donnie ficaram rosadas e ela deu um sorrisinho sem graça.


A noite estava quente, deixando todos animados para o festival. Donnie e eu fomos no meu carro e no ultimo minuto Amy disse que queria ir conosco, fazendo Donnie apertar o meu braço num lembrete da paixonite da minha prima por mim. Levamos cerca de 20 minutos de carro até o centro da cidade. Os 20 minutos mais estranhos de todos: Stella tentava puxar assunto com Amy, que por sua vez fingia não ouvir e me bombardeava de perguntas e historias. Diversas vezes olhei em desespero para Donnie, que sorria de leve como se dissesse que tudo aquilo era normal.
Estávamos quase chegando á cidade quando percebi que a expressão de Donnie mudou, ganhando aquele olhar perdido que vi em seu rosto quase todos os dias depois da morte do Mike.
- Hey – ela me olhou e forçou um sorriso – Tá tudo bem? – ela balançou a cabeça em afirmação, mas os olhos não negavam que algo estava errado. Estiquei o braço e segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos.
- Josh, você prometeu ir ao Castelo Mal Assombrado só comigo, lembra? – Amy se inclinou no banco e colocou a mão em meu ombro.
- Claro que lembro – respondi ainda olhando para Donnie.

- Dex? Dexter! Olha pra mim – Stella se abaixou para ficar da altura do meu irmãozinho – Lembra do combinado: á cada 2 brinquedos que vocês forem, voltem aqui perto do palco para que os seus tios vejam vocês, ok?
- Ok, ok! – o moleque estava elétrico, doido para Donnie soltar seu braço e poder sair correndo.
- Nós te demos 10 tickets, cara, quando acabar você me procura pra pegar mais, beleza? – segurei o topo de sua cabeça com a mão enquanto falava pra ter certeza de que ele estava prestando atenção.
- Beleza, cara! Agora eu posso ir? – Dex fez cara de cachorrinho sem dono para Donnie, que sorriu e afirmou com um aceno de cabeça.
Dex e Vincent saíram correndo; Amy estava claramente divida entre se juntar as amiguinhas que acenavam pra ela da fila do bate-bate e ficar de olho em mim; tia Grace e tio Gregory nos apresentou á alguns amigos e logo levaram as crianças menores até um pequeno carrossel.
- E então, o que a senhorita quer fazer? – abracei Donnie de lado e sorri, torcendo para que ela estivesse se sentindo bem em meio toda aquela multidão.
- Comer? – ela falou como se fosse óbvio e eu ri, afinal, tinha se tornado raro ouvir Stella dizer que estava com fome.
Ela não comeu muito, mas experimentou algumas coisas que as senhoras nas tendas ofereceram. Era engraçado como quando ela não gostava de alguma coisa, se encolhia no meu abraço e fazia careta, enquanto eu ria e a apertava mais ou beijava sua cabeça.
Os meninos estavam pulando em uma gigante cama elástica e nos aproximamos quando Dex começou a gritar o nome da Donnie, acenando todo alegre para ela.
- Ele é uma graça, né? – ela comentou sorrindo um pouco. Eu não respondi de imediato, tomado por uma sensação urgente de mais contato físico, então fui para trás dela e a abracei pela cintura.
- Ele é um pilantra, isso sim - comentei olhando meu irmãozinho pulando feito doido enquanto nos dava tchauzinho – Tentando chamar sua atenção o tempo todo.
- Sério? Nossa, só tenho que esperar mais 10 anos e então posso casar com ele – a resposta em tom de brincadeira me pegou de surpresa. Ela nunca falava nada sobre relacionamentos...
- Fura olho em miniatura – resmunguei contra os cabelos dela.
- Furando o seu olho? – ela perguntou baixinho, ficando bem quietinha entre os meus braços. Meu coração disparou. Não pensei antes de falar aquilo. O que ela queria que eu respondesse? Jogando tudo pro alto, sussurrei contra o pescoço dela.
- É... – senti que ela respirou fundo antes de encostar a cabeça no meu ombro, deixando o pescoço todo á mostra, como se esperando mais contato. Passei o nariz por sua pele e ela apertou meus braços que ainda estavam em torno de sua cintura.
O que era aquilo? Todo aquele climinha? Stella estava reagindo de uma maneira que eu nunca sequer imaginei... Minhas próprias reações não faziam sentido algum.
- Josh! – Amy brotou do chão ao nosso lado acompanhada de algumas amiguinhas.
- Que inferno... – resmunguei no ouvido da Donnie que riu e se soltou dos meus braços. Respirei fundo e me virei para olhar minha priminha inconveniente. – Oi Amy.
- Vamos ao Castelo Mal Assombrado agora? – ela sorriu e tocou meu braço, me causando um desespero tremendo; me afastei disfarçadamente dela e busquei a mão da Donnie.
- Claro, eu prometi, certo? – sorri sem jeito para as quatro menininhas que me olhavam de um jeito esquisito. Donnie acenou para Dex que ainda pulava loucamente na cama elástica com Vincent e então fomos para a fila do tal castelo. Enquanto esperávamos nossa vez, Amy contava historias de família para as amigas, sempre aumentando os trechos que me envolviam; e o tempo todo ignorando a presença de Stella propositalmente. Quando nossos carrinhos chegaram, Amy praticamente empurrou Donnie para longe e me puxou para sentar ao seu lado; Donnie me deu um sorrisinho de incentivo e logo os 7 minutos mais horripilantes da minha vida vieram. A cada monstro que aparecia, Amy tentava me abraçar, agarrar... Então posso dizer que foi um alivio quando o passeio acabou.
- Vamos á roda gigante? – Amy estava pendurada no meu braço enquanto implorava. Olhei para Donnie, lembrando imediatamente do seu medo de altura e da sua única e péssima experiência com rodas gigante. Comecei a negar com a cabeça quando Donnie me interrompeu.
- Acho uma ótima ideia – ela sorriu para Amy, que revirou os olhos – Enquanto vocês vão até lá, eu levo Vincent e Dexter para comer alguma coisa.
- Tem certeza? – me aproximei dela e olhei bem para seus olhos, confesso, procurando algum sinal da tristeza ameaçando voltar. Ela acenou com a cabeça e eu, sem pensar, segurei seu rosto e dei um selinho rápido – Eu já volto, ok?
- Ok – a voz dela saiu ligeiramente trêmula.
Depois disso não tivemos grandes emoções, os meninos pediram mais tickets, eu tive que ser grosso com Amy e dizer que ficaria com a minha namorada e não iria mais a nenhum brinquedo com ela.

Ao voltarmos para casa, Donnie tomou banho primeiro, então quando eu voltei para o quarto ela já estava deitada e de olhos fechados, achei que já estivesse dormindo, por isso tentei não fazer barulho ou mexer muito a cama enquanto deitava ao seu lado.
- Você lembrou de trancar a porta? – ela sussurrou – Tenho medo da Amy tentar me sufocar enquanto eu durmo.
- Boba – falei baixo me inclinando para beijar sua testa – De todo jeito, eu tranquei a porta, não se preocupe.
- Obrigada por me trazer... – Donnie abriu os olhos e me encarou meio sonolenta – Eu gostei do dia de hoje.
- Fico feliz que tenha gostado – por mais estranho que soasse, finalmente estávamos no ambiente que nos era mais normal, após tantos meses fazendo companhia e acalentando seu choro durante a noite, então era normal chegar bem perto dela e colocar meu braço debaixo do travesseiro dela enquanto mexia em seus cabelos com a outra mão.
- Você é um cara legal, Joshua Ashmore – ela falou séria, mas eu percebi um brilho de humor em seus olhos.
- Você é uma garota incrível, Stella Roe – respondi do mesmo jeito, passando meu nariz levemente pelo dela... Fazendo aquelas sensações estranhas voltarem. Mas de repente foi aquele sentimento de traição que voltou. Eu lembrei do Mike dizendo que estava apaixonado por ela... A reação dela quando descobriu que ele havia morrido... Eu não podia ser um canalha e ficar com a namorada do meu melhor amigo.
Mesmo que eu não soubesse explicar o que sentia por ela, eu sabia que era errado. E por isso eu me afastei, desejei uma boa noite e fechei olhos, não antes de perceber um leve ar de decepção na expressão dela.

Donnie


Não. Não. Não e não!
Eu simplesmente não podia deixar aquilo acontecer. Eu estava baixando a guarda... Estava deixando Josh se aproximar mais que o normal. Mais do que devia... Eu corria o serio risco de me apaixonar por ele. Não adiantava negar, até ele já tinha percebido... Claro que tinha, eu era péssima em esconder as reações que ele causava em mim.
Quando parava pra pensar, eu me sentia horrível... Uma traidora... Uma vaca! Estava manchando a memória do Michael ao abraçar Josh daquele jeito... Eu estava dormindo com ele! E pior, eu ansiava por algo mais significativo que aqueles selinhos que ele havia me dado.
Eu estava melhorando da depressão, mas a que custo?

Acordei na manhã seguinte e estava sozinha no quarto; de longe podia ouvir as risadas agudas das crianças e a voz de Josh dizendo "ah eu vou pegar você! Corre! Eu vou pegar você, Freddie, corre, corre!".
Fui até a janela e vi que eles brincavam de pega-pega no jardim, Josh estava com Frederick jogado por cima do ombro enquanto corria atrás de Vincent.
- Oi Donnie! – Dex me viu a acenou sorridente.
- Oi lindo, bom dia – acenei de volta ao abrir a janela.
- Ei, assim eu fico com ciúme – Josh parou de correr para me olhar sorrindo.
- Não precisa, depois do Dex, você é meu favorito – fiz cara de inocente enquanto Dexter zoava o irmão.
- Traidor, roubando a minha garota sem ao menos disfarçar – Josh se fez de ofendido e colocou Freddie no chão.
- Ei Donnie, aceita ir comigo ao festival hoje? – Vincent surpreendeu a todos e eu ri.
- Ah não cara, até você? – Josh fez cara de desespero e então virou para mim – Você vai me trocar por esses dois baixinhos? Eu pensei que você me amasse!
- Oh Joshua querido, desculpa, mas entre Dex e Vince... – fingi pensar por um momento – você não tem chance alguma.
- Posso subir ai e te convencer do contrário? – ele sorriu de um jeito malicioso e eu senti meu rosto esquentar. Graças a Deus as crianças ainda não entendiam essas coisas. Mostrei língua para ele, arrancando risos dos meninos (menos de Amy, que me olhou com raiva) e fui trocar de roupa. Ao sair do banheiro encontrei Josh deitado na cama, cantarolando uma musica e olhando para o teto.
- Você esta sendo malvado com a Amy – comentei ao me aproximar da pequena mala que estava aos pés da cama.
- Ela precisa entender de uma vez por todas que eu sou mais velho, sou primo dela e principalmente – ele me olhou ao completar – eu tenho namorada.
- Mas Josh, você quase não vem aqui... Ela vai te esquecer, pode ter certeza – fechei minha mala depois de guardar o a escova de cabelo que acabara de usar – Eu morro de dó do jeito que ele te olha... O jeito que ela me olha.
- Repito, ela precisa entender que você é a minha namorada, goste ela disso ou não – o jeito que ele disse namorada e me olhou, bom, fez meu coração acelerar e o sorriso que eu tinha no rosto ameaçar desaparecer - Não precisa ficar sem graça, sua boba – Josh riu e me puxou para a cama, me fazendo cair desajeitadamente deitava sobre ele – Minha namorada de mentirinha, poxa! – ele fez graça e começou a fazer cócegas em mim.
- Para com isso! Aaah! Para! Josh! – eu ria de desespero tentando me soltar dos braços dele – Não! Para, por favor! – quando comecei a me debater demais, Josh trocou nossas posições, com o peso de seu corpo ele pôde me controlar facilmente.
- Para de gritar, garota – ele ria com o rosto bem perto do meu, ainda me torturando - Meus tios vão achar que estamos fazendo coisas impróprias.
- Joshua! – choraminguei morta de vergonha do comentário – Me solta.
- Ficou brava? – ele perguntou baixo. O corpo dele estava completamente sobre o meu, uma de suas pernas estava entre as minhas, ele parou com as cócegas e segurou minhas mãos contra o colchão. O clima tinha mudado rapidamente, me deixando mais sem graça ainda. Como não respondi, ele repetiu, me olhando nos olhos – Você ficou brava com a brincadeira?
- Não – disse séria e fiz força para soltar meus pulsos – Sai, Josh.
- Acho que não – ele deu um sorrisinho travesso e se inclinou para sussurrar no meu ouvido – Você não precisa ficar com vergonha toda vez que eu te olhar por mais que dois segundos, sabia?
- Joshua, para – avisei com o coração quase saindo pela boca. Eu estava com calor. Com dificuldade para respirar. E aquela voz ainda rouca de sono não estava ajudando em nada sussurrando tão perto do meu pescoço.
- Eu só estava brincando, Stella – ele disse sério, ainda sussurrando contra a minha pele – Você é quem deixa as coisas mais...
- Joshua, é sério, me deixa levantar – cortei sua frase, com medo do que ele ia dizer. Josh me ignorou completamente, e para o meu desespero, passou o nariz bem de leve por toda a extensão do meu pescoço. Meu corpo de repente tomou ciência de cada ponto no qual tocava o dele... Foi nesse momento que Josh soltou uma das minhas mãos, para tirar meus cabelos do caminho que agora sua boca fazia desde meu maxilar até minha clavícula. Com a mão recém livre, toquei sua cintura e a apertei, fazendo Josh respirar fundo bem perto do meu ouvido.
- Donnie... – a voz era instável, e eu agradeci por não ser a única afetada no quarto. Ele se apoiou em um dos cotovelos e me olhou. Seus olhos brilhavam intensamente, suas bochechas estavam coradas e a respiração profunda – Stella – ele disse sério e desviou o olhar para minha boca, me fazendo engolir em seco. Soltando meu outro pulso, ele também me segurou pela cintura, nos deixando ainda mais próximos. Vi seu rosto se aproximar vagarosamente, sem desviar seus olhos dos meus, até nossas respirações se misturarem. Ainda nos olhávamos quando nossos lábios se tocaram.
Acho que Josh também sentiu o peso do acontecimento, pois logo começou a distribuir leves selinhos por minha bochecha até meu pescoço, meio que adiando o momento crucial. Mas então ele fez o caminho inverso, até chegar á minha boca novamente. Minhas mãos tremiam enquanto eu esperava... Fechei os olhos ao sentir seus lábios contra os meus mais uma vez. Apenas um momento se passou até Josh passar a língua suavemente por meu lábio inferior, me causando um tremor na espinha. Abri minha boca devagar, quando a ponta da minha própria língua encostou-se à dele... Ouvimos o choro de Dexter.
- Mas que merda! – Josh disse alto, me assustando. Enterrou o rosto no meu pescoço e forçou seu corpo contra o meu, enquanto eu apertava minhas unhas em suas costas ainda sobre a camiseta. Eu não queria deixa-lo ir. Era como se meu corpo gritasse pelo dele quando Josh se afastou, me deu um selinho forte e levantou da cama. – Ele nunca chora... Tem alguma coisa de errado. Eu vou lá ver, ok?
- Vai lá – respondi num sussurro e ele saiu do quarto. Me sentia trêmula e fraca... O que tinha acabado de acontecer?!

Dex havia caído do balanço e cortara o queixo. Minutos depois que Josh desceu, percebi que o choro de Dex aumentara ao invés de cessar. Quando cheguei à cozinha, encontrei Josh agachado diante do irmão trocando o pano ensanguentado por um limpo, em seguido o pegou no colo e o levou até o carro do tio Gregory, que já os esperava. Me aproximei, pronta para acompanha-los quando Dex resmungou alguma coisa para o irmão e voltou a chorar.
- Ele não quer que você vá – Josh se aproximou de mim após coloca-lo no banco traseiro do carro. Acho que a minha cara já deixou claro que eu não entendia – Ele esta com vergonha... Ele não quer que você o veja chorando.
- Mas... – interrompi a frase e assenti – Me liga pra dar noticias.
Eles foram para o hospital que ficava a vinte minutos de distancia, segundo informações da tia Grace. Fiquei com ela na cozinha, ajudando no almoço enquanto ela me contava histórias engraçadas sobre as crianças, tentando me distrair da preocupação com Dexter.
- Eu realmente não entendo como você nunca veio aqui antes – Grace dominava a cozinha com tamanha destreza que eu me sentia tonta – Josh sempre dava um jeito de trazer algum amiguinho... Como você nunca veio?
- Ele não gostava muito de mim quando éramos pequenos, pra ser bem sincera – ela me olhava de um jeito engraçado enquanto eu cuidava da salada – Ele chegou a me chamar pra vir, mas sempre acontecia alguma coisa que me impedia.
- Você teria se divertido... Crianças tendem a gostar mais do campo do que os adultos. Elas podem correr, nadar, brincar de várias coisas... Josh estava sempre emburrado quando vinha sozinho, mas quando trazia o amiguinho... Esqueci o nome dele... Um de olhos verdes, uma gracinha – ela se esforçava para lembrar o nome do meu namorado.
- Mike – respondi e puder ver o entendimento passar pelos olhos dela.
- Mike? Mas esse não é o nome...
- Do amigo do Josh que morreu no ano passado? É, ele mesmo – tentei manter a expressão neutra.
- Meu Deus, eu não sabia! Pobre Joshua – ela colocou as mãos no rosto, visivelmente abalada com a noticia. E eu? Disfarcei a vontade de chorar, afinal, para Grace eu era a namorada do Josh – Susan me contou sobre o acidente, mas eu não imaginava que fosse o mesmo Mike que veio aqui em casa... Você o conhecia?
- Sim, eu o conhecia – não conseguia mentir sobre isso, mas sentia que logo teria que sair da cozinha se Grace insistisse no assunto – Ele era um cara incrível.
- Eu não posso imaginar como tudo isso deve ter sido difícil para o Josh – ele se aproximou e tocou minha mão – Graças a Deus meu sobrinho teve você para ajuda-lo a superar uma perda tão terrível. Se a amizade deles era a mesma de quando crianças, eles eram quase irmãos.
- Eram mesmo – forcei um sorriso e então pedi licença para ir ao banheiro, onde antes mesmo de fechar a porta, senti as lágrimas caindo e o choro desesperado subindo pela garganta. Tampei a boca com as mãos, ciente da presença de Grace na cozinha, precisando evitar perguntas... Que tipo de monstro egoísta eu era? Como eu nunca havia pensado naquilo? Era tudo sobre a minha dor, a minha perda, o meu sofrimento, a morte do meu namorado... Como eu nunca parei pra pensar na dor do Josh? No sofrimento e na perda dele? Ele conheceu Michael antes de mim! Eram como irmãos! E eu era uma vaca egoísta! Exigindo toda aquela atenção dele...
Era como se o machucado do meu coração estive sangrando outra vez. Doía cada vez que eu respirava, abafando o choro com as mãos, sentada no chão do banheiro.
Fiquei mais alguns minutos trancada até me acalmar. Voltei para a cozinha e menti para Grace, dizendo que havia comido alguma coisa estranha no festival e estava com enjoo.
Fiquei trancada no quarto por horas, controlando aquele sentimento horrível que ameaçava me dominar outra vez...
Já era inicio da tarde quando o barulho de pneus freando na terra anunciaram a volta dos garotos.
Cheguei á sala no exato momento que Dexter abriu a porta, ele havia parado de chorar, mas a enorme mancha de sangue em sua camiseta era o maior lembrete do acidente.
- Oi lindo, como você tá? – passei a mão por seus cabelos e beijei sua testa.
- Levei cinco pontos, olha! – ele levantou a cabeça e eu vi que por baixo do curativo as suturas se destacavam em sua pele branca.
- Nossa cara, como você é corajoso! – estiquei a mão para um cumprimento – Cinco pontos? Uau!
- É, e eu já tinha parado de chorar! – ele disse orgulhoso. Josh havia entrado na sala e estava observando nossa conversa.
- Agora é só tomar cuidado pra não bater nada no machucado – dei mais um beijo na testa de Dex antes que ele fosse até a cozinha contar a historia para Grace.  Me endireitei e olhei para Josh – Preciso falar com você.
- Ok, vamos subir – ele me deu um meio sorriso e segurou minha mão até chegarmos ao sótão, fechou a porta e esperou que eu falasse.
- Você disse que poderíamos ir embora quando eu quisesse... – minha garganta estava fechando outra vez – Eu sei que concordei em ir ao festival hoje também, mas...
- Você quer ir embora? – ele estava sério, percebendo que algo estava errado outra vez. Assenti com a cabeça, virando para colocar minha mala sobre a cama – Nós vamos embora. Eu prometi que seria assim, não?
- É... Obrigada – forcei um sorriso e logo voltei a arrumar minhas coisas.
- Mas eu preciso perguntar... – Josh se aproximou e segurou meu braço – Aconteceu alguma coisa? Existe algum motivo em particular para você querer ir para casa?
- Não... É só que... Sei lá, eu quero ir pra casa – me enrolei para responder, mas ele não discutiu, só concordou e começou a arrumar as próprias coisas.
Logo ele saiu para falar com os tios, provavelmente levou algum tempo para explicar o que havia dado na namorada doida que decidiu ir embora de uma hora pra outra. Pude ouvir Dexter reclamar que nós havíamos prometido ir ao Chapéu Mexicano com ele no festival.
Já estava escurecendo quando nos despedimos da família de Josh, Amy o abraçou e eu percebi que ela estava verdadeiramente triste por vê-lo partir tão cedo, e era claro que ela me culpava.
Entramos no carro sob o olhar decepcionado de Dexter, que acenou sem vontade quando saímos.
- Não aconteceu nada mesmo? – Josh perguntou sem me olhar assim que nos distanciamos da casa – Quero dizer, a Grace disse alguma coisa...?
- Não, ela não disse nada – respondi seca, com medo de chorar na frente dele. Eu precisava me manter forte, afinal a fase do choro havia ficado para trás.
Ficamos em silencio por quase dez minutos até a voz de Josh me tirar dos devaneios deprimentes da minha mente.
- Donnie, é sério – ele me olhou de lado, parecia que algo o impedia de falar – Eu preciso saber... Você estava ótima! Alguma coisa deve ter acontecido...
- Eu só quero ir pra casa, ok? – a frase saiu mais rude do que o planejado, causando um flash de magoa nos olhos de Josh.
- Ok, essa parte eu entendi... – ele simplesmente não desistia – Mas... Cara, eu te deixo sozinha por algumas horas e você pira...
- Pira? Eu achei que nós iriamos embora quando eu quisesse – respondi de um jeito estúpido olhando para ele.
- E é isso que estamos fazendo, não é? – ele usou o mesmo tom, para minha surpresa – Eu só estou preocupado, ok? Só quero entender o que trouxe de volta esse olhar...
- Que olhar? – eu não me reconhecia, aquelas respostas estavam saindo sem minha permissão – O olhar de pobre coitadinha?
- Não... – ele diminuiu a velocidade do carro, aproveitando que estávamos em uma estrada praticamente deserta, bem perto do centro da cidade, onde estava toda a concentração de pessoas.
- Como você me aguenta? – soltei sem pensar, então ele parou o carro no acostamento, para poder me olhar sem entender o que havia falado – Como você aguenta conviver com alguém tão egoísta como eu?
- Do que você tá falando? – ele franziu a testa e desligou o motor do carro.
- Como você está, Joshua? Como você se sente desde a morte do Michael? Você quer conversar sobre isso?  – as lagrimas caíram pelo meu rosto sem que eu percebesse que elas haviam se formado em meus olhos – Alguém te fez alguma dessas perguntas, Josh?
- Donnie, do que você tá falando? – ele me olhava assustado, esticando a mão para tocar meu rosto, mas eu o afastei.
- Alguém perguntou como você se sentia depois que o Michael morreu? – nem ao menos deixei que ele abrisse a boca para responder e logo emendei chorando alto – Não! Ninguém te perguntou nada! Estavam todos preocupados com a dramática egocêntrica aqui! Todos ocupados demais me vigiando, com medo de que eu tentasse me matar, e eu tentei mesmo... Ninguém se preocupou com você... E-eu não me preocupei com você... Eu sinto muito, Josh, muito...
- Ei, calma, vem cá – como sempre ele tentou me puxar para perto de si, me fazendo chorar mais ao tirar o cinto de segurança e me afastar dele.
- E essa situação? Josh, isso é doentio! Essa dependência que eu tenho de você... Esse sentimento louco que eu tenho... É errado, não é? Eu quero dizer, ele morreu! O meu namorado morreu e quero que o melhor amigo dele me beije...
- Que sentimento louco você tem por mim? – Josh me cortou ainda com o ar de assustado.
- Isso não é importante – limpei as lagrimas e respirei fundo – O que eu quero dizer é que isso, essa situação, tem que acabar.
- Que situação? – o espanto deu lugar à curiosidade na expressão dele, enquanto tentava segurar uma das minhas mãos.
- Você já parou pra pensar o porquê de nunca conseguirmos nos beijar? – disse de uma vez, antes que a coragem passasse – Sempre acontece alguma coisa que nos impede, já reparou? É o universo nos mandando uma mensagem, Josh!
- O que? – ele riu de nervoso – Donnie, as coisas não são assim...
- São sim! Isso é carma! O que Michael diria se nos visse agora? Ele morreu há menos de um ano, Josh, e simplesmente não posso gostar de você e...
- Você gosta de mim? – ele me interrompeu outra vez, parecendo realmente interessado na resposta.
- Eu já disse que isso não é importante! – falei alto, pronta para chorar de novo – Eu me sinto suja, errada... Eu não posso mais fazer isso... O Michael...
- O Michael morreu, Stella! – Josh gritou comigo, me assustando pra valer – Você precisa entender isso de uma vez por todas! Ele não está aqui pra ver se dormimos juntos ou não, se nos abraçamos ou não, se nos beijamos...
- Nós não nos beijamos!
- Ainda! Não nos beijamos ainda! – ele ainda falava alto, sinal claro de descontrole, afinal ele nunca havia falado comigo daquele jeito antes – Não adianta negar que é só uma questão de tempo até isso acontecer!
- Não vai acontecer, Joshua, não é certo e você sabe disso! – desesperada, abri a porta do carro e corri pelo acostamento. Eu só precisava me afastar dele, antes de fazer mais besteiras.
- Donnie! Volta aqui! Stella!

Josh

- Mas que merda! – dei um soco no volante, tirei o cinto de segurança e realmente não sei como, mas lembrei de trancar a porta do carro antes de sair correndo atrás dela. 
Eu não podia acreditar! Ela estava fazendo um drama tremendo, sendo que... Era tão errado assim? Porque eu não via daquele jeito... Era inútil negar, eu gostava dela!
Será que Mike ficaria tão furioso assim se soubesse que algo do tipo estava acontecendo entre Donnie e eu? Afinal, eu cheguei primeiro na vida dela...
Ela havia desaparecido de vista! Alguns metros á frente do carro havia uma ruazinha onde Donnie havia feito a curva e sumido! Eu já podia ver uma aglomeração próxima á praça central. Onde ela estava? Se ela fizesse algo contra a própria vida de novo, eu não sei o que faria...
- Oi, oi senhora Mackenzie – reconheci uma das amigas da minha tia na porta da farmácia – Eu sou o sobrinho da Grace, está lembrada?
- Olá, querido – a jovem senhora sorriu pra mim, mas percebi que ela estava curiosa pela minha óbvia agitação – É Joshua, não é?
- Isso, isso mesmo! – respondi rápido – Desculpe, mas a senhora lembra-se da minha namorada? Tia Grace á apresentou á você ontem aqui no festival.
- Lembro, uma menina adorável... – antes que ela começasse a tagarelar, o que parecia ser normal para as mulheres daquela cidade, a interrompi.
- Então, por acaso a senhora a viu? Tipo, agora? Ela passou correndo por aqui?
- Não vi, querido... – a expressão dela mudou para curiosidade e preocupação – Aconteceu alguma coisa? Ela está bem?
- Está, está tudo bem – eu nem a olhava ao falar... Estava começando a me desesperar... Onde Stella havia se metido? – Eu preciso acha-la. Muito obrigado!
Contornei a praça onde as pessoas já se reuniam nas barracas do festival, sabendo que Stella não escolheria um lugar tão tumultuado para se esconder de mim.  Era isso, ela estava se escondendo de mim... Com medo de admitir que gostava de mim também! É, eu gostava dela! Era tão simples e claro, que me senti um idiota por não ter percebido antes.
Cheguei ás lojinhas e bares no pequeno píer, que estava quase vazio àquela hora. Ela não estava lá também.
- Por favor, por favor, que ela não tenha feito outra besteira – falei baixo para mim mesmo, passando as mãos na cabeça.
- Ainda não fiz – a voz dela surgiu próxima onde eu estava. Virei rapidamente e a vi encostada contra uma parede de uma loja de bijuterias fechada. Mesmo com a distancia eu conseguia ver o rosto dela molhado de lágrimas.
- Stella, você prometeu nunca mais me dar sustos assim – me aproximei e sem pensar, sem deixar que ela me impedisse, segurei seu rosto com as duas mãos e encostei minha testa na dela, e falei bem baixo – Porque você faz essas coisas? Porque você tem essa mania de me fazer correr atrás de você? Sempre preocupado se...
- Era disso que eu estava falando – ela sussurrou, olhando para baixo, sem se afastar de mim – Você esta sempre preocupado comigo, sempre com medo que eu faça alguma besteira... Outra besteira, na verdade.
- Sabe por que eu me preocupo? – a interrompi, não concordando com a teoria ridícula que ela tinha sobre como ninguém se importava com os meus sentimentos pela morte do Mike. Donnie afastou um pouco o rosto para me olhar, mas prendeu os polegares nos passantes traseiros da minha calça e esperou que eu continuasse, ainda com os olhos marejados – Você consegue imaginar o que seria de mim se algo te acontecesse? Você tem noção do quão importante é pra mim, Donnie?
- Josh... – ela praticamente implorou, pronta para se afastar. Eu sabia que ela tinha medo do que iria ouvir. Eu, no fundo, também tinha. Mesmo assim a impedi de sair dali, encostando-a novamente á parede e, com as duas mãos, coloquei seu cabelo atrás da orelha e passei meu nariz pelo dela, compartilhando nossas respirações pesadas.
- Não Donnie, você não faz ideia! – meu coração parecia estar na garganta quando sussurrei – Você é tão linda, tão incrivelmente inteligente e carinhosa... Eu não entendo muito bem o que tô sentindo por você, mas eu não consigo ficar longe, é como se faltasse um órgão vital... – as palavras se atropelavam para sair; se minhas mãos não estivessem tão firmes segurando o rosto dela, eu sabia que elas estariam tremendo – Te ver inconsciente no chão da sua casa... Foi uma das piores coisas da minha vida, se não a pior. Acho que você nunca vai realmente entender como aquilo me afetou... A possibilidade de te perder pra sempre me fez ver as coisas de um jeito diferente... Você acha que eu também não sinto que traio a confiança do Mike á cada vez que te abraço para dormir? – era inevitável tocar no nome do Mike, e quando o fiz Donnie se encolheu e fechou os olhos, então eu forcei meu corpo contra o dela, mostrando que eu estava ali e não ele – Abre os olhos, por favor – sussurrei com a voz meio instável, ela fez o que pedi e me encarou bem de perto – Donnie, ele morreu... Ele não vai voltar para tentar te ter de volta ou brigar comigo por te querer tanto quanto eu quero...
- Por favor, para antes que seja tarde demais – os olhos dela transmitiam um turbilhão de sentimentos, e estando tão perto como eu estava, senti que seu coração estava tão descompassado quanto o meu.
- Não, eu não vou parar – falei firme e ela ameaçou desviar o olhar, mas as palavras seguintes a impediram – Eu estou me apaixonando por você – as lagrimas não caíram de seus olhos nem quando ela respirou fundo, parecendo assustada e um pouco maravilhada com o que tinha escutado – Cada noite que eu não posso sentir você quietinha, dormindo sem pesadelos nos meus braços, é uma tortura! Quando eu te vejo chorando, é como se me doesse fisicamente, e essa dor só vai embora quando você me abraça e fala que tá tudo bem. É quase impossível não querer te agarrar e encher de beijos cada vez que você sorri...
- Você me irrita de tão fofo que é – ela sussurrou de repente e eu sei que abri o maior e mais idiota dos sorrisos antes de lhe dar um selinho demorado, e para minha surpresa, ela me abraçou pela cintura e me olhou de um jeito tímido ao falar ainda baixinho – Eu acho que eu também.
- Você também o que? – perguntei mesmo imaginando a resposta, torcendo para estar certo.
- Eu também estou me apaixonando por você – ela finalmente disse o que eu precisava ouvir.
Mal a frase havia saído de sua boca e a pressionei contra a minha. Dessa vez, porém, não daria tempo para que ela desistisse ou se arrependesse. Passei a ponta da língua em seus lábios e ela, com um suspiro baixinho, os abriu deixando que sua língua encontrasse a minha. Passei um dos braços ao redor de sua cintura, enquanto a outra mão continuava em seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar. Donnie enlaçou meu pescoço com o braço esquerdo e sua mão direita ficou sobre o meu peito, e se eu não estivesse tão concentrado em pressionar meu corpo contra o dela e beija-la do jeito que eu sonhava há algum tempo, ficaria com vergonha quando ela percebesse o quão disparado meu coração estava.
Me concentrei em manter o beijo lento, intenso, querendo que ela se acostumasse com o meu toque, com o meu jeito.
- Da próxima vez que você sair correndo de mim daquele jeito... – sussurrei contra seus lábios, sentindo a mão dela mexendo em meu cabelo – ... serei obrigado a te agarrar e te prender na minha cama.
- Na sua cama? – ela deu um risinho e deu uma mordida bem fraca no meu lábio inferior – Isso soou tão errado.
- Só se for pra você – também disse baixo e logo recebi um tapa no peito, me fazendo rir. Logo voltei a beija-la, mas dessa vez de um jeito rápido, segurando sua cintura com as duas mãos pressionando-a de verdade contra a parede. Donnie passou os braços por meu pescoço, ficando nas pontas dos pés, e correspondendo á altura a intensidade que eu colocava no beijo. Depois de algum tempo desci os beijos pelo pescoço da Donnie, enquanto ela respirava alto e apertava meus braços.
- Josh... – a voz dela saiu entrecortada e instável antes de me puxar pela cintura e me olhar nos olhos – As pessoas estão olhando...
- Estamos proporcionando raros momentos de diversão para essa cidade – respondi rindo e ela revirou os olhos.
- Vamos embora – os olhos e o corpo dela não pareciam concordar com o que ela dizia. Dei um beijo na ponta de seu nariz e ela inclinou a cabeça, sorrindo de um jeito meigo.
- Quer mesmo ir pra casa ou podemos voltar para tia Grace? – falei entre beijos por seu maxilar e orelha. No fundo eu estava com medo de voltar pra casa e Stella sair daquela névoa que parecia nos envolver. Seria difícil se ela voltasse ao normal e não me quisesse mais.
- Você quer ficar, não quer? – senti um beijo tímido em meu pescoço e sorri contra seus cabelos.  Dei de ombros e esperei que ela continuasse – Podemos ir embora amanhã á tarde, o que acha?
- Combinado – dei um selinho demorado em sua boca e me afastei – Vamos comer alguma coisa? Toda essa tensão me deixou faminto!
- Você não existe, Joshua Ashmore! – ela riu e aceitou que eu a puxasse pela mão e depois a abraçasse enquanto andávamos em direção á praça tumultuada e barulhenta.

Donnie


- Ela é uma bruxa e eu quero que ela morra! – ouvi Amy esbravejar perto da barraca de cachorro quente e sorri, já imaginando que ela falava sobre mim – Ele nunca vem aqui, e quando vem: trás aquela vaca horrorosa junto!
- Eu a achei bonita – uma das amiguinhas respondeu, eu não pude ver de onde estava, mas aposto que recebeu um olhar repreensivo de Amy.
- E agora ela o levou embora! – ela continuou – Eu estava fazendo Josh entender que não tem problema sermos primos...
- Um completo, por favor – pedi ao senhor que estava anotando os pedidos na barraquinha, e como previ, todas as menininhas me olharam com cara de espanto, menos Amy, que estreitou os olhos em duas fendas azuis.
- O que você está fazendo aqui? – ela logo quis saber, olhando em volta, claramente procurando por Josh
- Ah oi Amy, oi meninas – sorri me fazendo de boba, secretamente rindo da situação em que Josh havia nos metido – Vim comprar um cachorro quente pro seu primo, querida.
- Não me chame de querida, por favor – ela respondeu seca; para uma menina de 12 anos, Amy era muito ranzinza – Eu quis dizer o que você está fazendo aqui na cidade! Você não tinha ido embora? Cadê o Josh?
- Mudança de planos, vamos ficar até amanhã. Josh foi contar á novidade aos seus pais – entreguei o dinheiro ao senhor, sorri agradecendo e peguei o cachorro quente antes de virar novamente para as meninas – Se você quiser ficar até um pouco mais tarde aqui, eu posso pedir pra sua mãe deixar que você volte no carro do Josh.
- Sem você? – a chama de esperança que apareceu nos olhos de Amy me deu dó. Ela precisava escolher justo o primo com quase o dobro de sua idade pra ser o primeiro amor?
- Comigo, desculpa – dei de ombros e ela bufou.
- Não, prefiro ir com a minha mãe – respondeu já me dando as costas.
- Eu adorei seu vestido – uma das amiguinhas, uma graça de ruivinha, comentou baixinho e sorriu para mim. Reconheci a voz como sendo a da garotinha que havia dito que eu era bonita.
- Adorei sua tiara – respondi do mesmo jeito e ela riu, chamando a atenção de Amy.
- Marion, nós estamos indo – o general mirim declarou e Marion correu até elas, mas logo virou para me dar um aceno discreto. Fofa.


- Nossa, não é todo dia que vemos algo tão bonito assim por aqui – ouvi uma voz masculina comentar enquanto eu passava perto da barraca de bebidas.
- Aposto que a gatinha não é da cidade – outra voz disse, mais próxima, me fazendo perceber que eles estavam andando atrás de mim – Esse jeito de rebolar só pode ser de Londres.
- Garota de Londres, meu tipo favorito – uma terceira voz completou, me fazendo revirar os olhos e andar ligeiramente mais rápido.
- Ei gatinha, já que você gosta tanto de cachorro quente, o que eu acha de eu te mostrar uma salsicha bem maior? – estava pronta para virar e dizer algo bem feio para os idiotas quando avistei Josh encostado na mureta da enorme fonte central da praça, me olhando de um jeito estranho, então percebi que ele olhava além de mim. Para os caras que me seguiam! Meu garoto, sempre cuidando de mim! Andei rápido até ele e coloquei o cachorro quente na beira da fonte antes de parar entre suas pernas e o abraçar pelo pescoço, enquanto ele enlaçou minha cintura sem dar importância.
- Oi – sorri procurando seus olhos, mas ele ainda encarava os rapazes por cima do meu ombro – Josh?
- Eles precisam parar de te comer com os olhos nos próximos 5 segundos... – ele disse ainda olhando os caras, a mandíbula estava trincada e o cenho franzido. Segurei seu rosto com as duas mãos e o forcei a me olhar.
- Ignora, Ashmore, ignora! – disse baixo e dei um selinho forte em seus lábios, que permaneceram cerrados. Afastei o rosto e o encarei bem de perto e percebi que ele ia ficar emburrado de todo jeito. Bufei, do mesmo jeito que Amy havia feito para mim, então me virei no abraço dele, ficando de frente para os babacas que estavam do outro lado da rua, obviamente fazendo piadas sobre Josh enquanto riam.
- Esses caipiras não tem respeito pela mulher dos outros não? – ele estava revoltado, seu tom de voz denunciava. Como estava praticamente sentado no murinho da fonte, eu meio que estava em seu colo, sentindo sua respiração indignada diretamente em meu pescoço.
- Mulher dos outros? Isso é jeito de falar, Ashmore? – virei um pouco o rosto para ver a carinha linda de bravo que ele fazia. Josh me olhou rapidamente e apertou os braços em torno de minha cintura enquanto me dava um selinho demorado.
- Para de implicar comigo, chatinha – sussurrou antes de puxar levemente meu lábio inferior com os dentes, me fazendo fechar os olhos e aproximar nossas bocas de novo, logo sentindo a língua dele encontrar a minha num beijo rápido, afinal estávamos no meio da praça de uma cidade pequena, não queríamos envergonhar a família de Josh.
- Chatinho – provoquei e ele riu, me apertando contra si e beijando meu pescoço.


Chegamos na casa da fazenda, por volta das duas da manhã, entre risinhos e piadas idiotas resultado das cervejas que havíamos bebido, tomando cuidado para não acordar os moradores, que haviam saído do festival pouco antes da meia noite.
- Você não vai tomar banho? – perguntei baixo quando sai do banheiro e me deparei com Josh estirado em diagonal na cama, ainda vestindo o jeans e a camiseta vermelha.
- Não – ele resmungou sem mover um músculo.
- Ai seu nojento, eu não vou dormir com você fedido assim – dei um tapinha em seu braço que cobria os olhos ao me aproximar da cama para colocar minhas roupas sujas ao lado da minha mala.
- Você me adora de qualquer jeito que eu sei – Josh disse e me pegando totalmente desprevenida, me puxou para cima de si, me fazendo soltar um gritinho, que logo foi calado quando ele me virou na cama, ficando por cima de mim, e tampou minha boca com a mão, rindo baixinho – Fica quieta, garota! – ainda rindo ele arrumou meu cabelo úmido do banho, tirando alguns fios dos meus olhos e então me dei um selinho rápido – Quem tá fedido mesmo?
- Você, seu porco – respondi baixo e mostrei a língua para ele. Me ajeitei sob ele, deixando uma de suas pernas entre as minhas, enquanto minhas mãos o abraçavam pela cintura. Meu corpo estava ligeiramente leve graças ao álcool que ainda corria por ele.
- Pensa em todas as bactérias e germes das minhas roupas que estão grudando no seu pijama limpinho – ele riu sapeca com o nariz encostado no meu, me fazendo tentar tira-lo de cima de mim em seguida.
- Ai que nojo, Josh, vai tomar banho! – ri de um jeito nasalado, tentando não fazer escândalo ao empurra-lo sem sucesso.
- Se eu disser que só tomo se você for junto, eu sei que você vai ficar brava, então não vou falar nada disso – ele riu da minha cara de espanto e antes que eu pudesse brigar com ele pela brincadeira pervertida, Josh colou nossos lábios, me fazendo esquecer a bronca. Como ele estava apoiado nos cotovelos, levantei um pouco a cabeça para que a língua dele encontrasse a minha num beijo rápido, até um pouco agressivo. Sua camiseta havia subido um pouco, deixando um pedaço de suas costas expostas, e aproveitando esse detalhe tateei a região com as mãos, fazendo sua cintura pressionar a minha, constatando que o beijo começava a fazer efeito em Josh. E diferente do que eu pensava, senti-lo se endurecer contra a minha coxa não me fez recuar, na verdade fez surgir um calor quase insuportável dentro de mim, incentivando minha mão a subir pelas costas de Josh por dentro da camiseta, sentindo sua pele quente se arrepiar com o meu toque.
De repente amaldiçoei o sutiã que eu sempre colocava por baixo do pijama quando sabia que dormiria com Josh ao sentir os lábios dele descerem para meu pescoço, dando leves chupões e mordidas, me fazendo ofegar e deitar a cabeça no colchão novamente. Sentir a respiração pesada dele tão perto dos meus seios enquanto uma de suas mãos descia pela lateral do meu corpo até segurar minha coxa de um jeito firme, forçando mais seu corpo contra o meu, não me deu condições de conter o gemido baixinho que escapou dos meus lábios.
Meus pensamentos começaram a ficar desconexos quando Josh voltou a me beijar daquele jeito quase desesperado, porém carinhoso, tocando meu rosto com uma mão, enquanto a outra ele usava como apoio para levantar um pouco o próprio corpo, me dando a chance de mudar minha perna de posição e assim quando ele voltou a soltar seu peso sobre mim, ele estava entre minhas pernas, e esse simples fato fez com um gemido saísse do fundo da garganta dele.
- Adoro seu cheiro – ele sussurrou por baixo fôlego enquanto enterrava o rosto em meu pescoço e respirava fundo contra a minha pele, me causando arrepios pelo corpo todo. Uma das minhas mãos estava em sua nuca e a outra, com uma ousadia vinda do além, desceu até a bunda de Josh e a apertou, pressionando nossas pélvis. E aquilo despertou um Joshua que eu não conhecia.
- Você é tão linda – ele levantou o rosto para me encarar. Os olhos dele pareciam flamejar, nunca os tinha visto tão azuis como estavam. E aquilo me fez gemer bem baixinho, Josh sorriu de um jeito malicioso ao se aproximar de meu ouvido e sussurrar – E novo item pra lista de coisas que eu adoro em você... O jeitinho que você geme...
- Josh... – respirei alto sentindo que um novo gemido se formava na minha garganta só de ouvir a voz levemente rouca sussurrando aquelas coisas.
Percebi que estava em desvantagem, já que meu pijama nada mais era que um shortinho e uma blusa de alças, enquanto Josh ainda estava de jeans e camiseta. Decidi começar pelo o que estava mais fácil. Puxei a camiseta pela barra e Josh logo me ajudou a tira-la e joga-la para fora da cama. O álcool e a mão de Josh em minha bunda, forçando o volume de sua calça contra o ponto em mim que quase latejava de tanto desejo, não me deixaram pensar no que estava fazendo antes de tatear sua barriga até alcançar o botão de sua calça, ganhando um gemido contido quando toquei sua ereção ao descer o zíper.
- Você também não ajuda... – comentei sem fôlego, empurrando o jeans para baixo, logo recebendo ajuda para tira-lo completamente.
- O quê? – Josh sussurrou contra minha boca, me olhando bem de perto, nossas respirações indo de encontro uma da outra. Levei alguns segundos para processar o que ele falava, mas quando a protuberância em sua boxer encostou em mim, lembrei o que queria falar.
- Você não ajuda em nada também... – engoli em seco ao cruzar minhas pernas em torno de seu quadril e logo ouvindo outro gemido sair pela boca dele que ainda estava contra a minha, reforçando a teoria que eu tentava verbalizar – Esse seu gemido precisa ser tão apelativo assim?
Quando ele entendeu o que eu disse, se afastou de novo e me olhou de um jeito, que eu poderia categorizar como faminto. E para me provocar, fez uma sequencia de investidas lentas contra meu corpo, me fazendo gemer um pouco mais alto e levantar o quadril de encontro ao dele, e com isso conseguindo um gemido dessa vez dele. Sorri vitoriosa e Josh fez uma careta antes de me beijar de novo, de um jeito tão prazeroso que comecei a fazer movimentos constantes contra o quadril dele, sendo logo acompanhada por Josh, que segurava firme em minha coxa e assim pressionando cada vez mais forte sua ereção contra o calor latejante entre minha pernas.
Estávamos transando ainda vestidos! Era o único jeito de descrever a cena. As investidas cada vez mais fortes e rápidas de Josh, os meus suspiros e gemidos cada vez mais altos, minhas mãos percorrendo suas costas e bunda, as dele por dentro da minha blusa tocando meus seios ainda cobertos pelo sutiã...
Foi impossível impedir que eu corpo agisse por vontade própria e empurrasse Josh pelo peito, fazendo-o deitar de costas na cama e logo eu sentar sobre seu quadril, me fazendo fechar os olhos com força e apreciar a sensação maravilhosa que era senti-lo cada vez mais intumescido. Rebolei bem devagar sobre ele, fazendo Josh apertar minha cintura e gemer daquele jeito que eu acabara de descobrir que me deixava louca.
- Faz de novo – ele pediu num sussurrou entrecortado e eu inclinei meu corpo até meus lábios tocarem sua orelha.
- Fazer o que? – murmurei e mordi seu lóbulo, ganhando um suspiro longo que me fez sorrir – Isso? – ainda inclinada sobre ele, mexi meu quadril, alojando sua ereção perfeitamente entre minhas pernas. Gememos juntos.
Josh se aproveitou da minha distração para mudar nossas posições novamente, me deixando por baixo de seu corpo.
- Eu posso parar, se você quiser – ele sussurrou de repente, meio que entre dentes, percebi que ele se controlava para se mantar imóvel sobre mim. Não respondi, somente beijei seu pescoço, mas Josh se afastou e me olhou de bem de perto – Donnie, eu ainda posso parar... Mas eu já tô no meu limite.
- Josh... – eu comecei a lembrar das cervejas que havíamos tomado na cidade. Eu nunca teria ido tão longe e tão rápido sem álcool nas veias.
- Olha pra mim – ele pediu baixinho e eu atendi – Você quer que eu pare?
- Não... – sussurrei, quase chorando de ódio ao completar – Mas não podemos fazer isso agora, aqui...
- Eu sei... – ele enterrou o rosto no meu pescoço, relaxando o corpo, se entregando á derrota. Mas tinha uma parte do corpo de Josh que ainda não tinha sido vencida. Ele se afastou de novo e levantou da cama, e antes que ele entrasse no banheiro ele me deu um rápido vislumbre do que eu havia somente sentido em sua boxer: é, estava enorme mesmo – Eu vou tomar banho.

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