+ 225 dias

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Josh

Quatro semanas se passaram desde o acidente. Stella já tinha ido á seis consultas com o psiquiatra, e algumas melhoras já eram visíveis, como por exemplo, ela não passava o tempo todo de pijamas, fazia algumas refeições na cozinha e tinha ido até a última consulta sozinha! Pegara um taxi e não o trem, como costumava fazer, mas era um avanço incrível.
E quanto ao ocorrido no quarto dela depois do acidente... Bom, nenhum de nós tocou no assunto. Foi como se aquilo tivesse sido uma reação natural ao stress que passamos.
Pelo menos era que eu tentava colocar na minha cabeça.
Não vou mentir e dizer que me envolvi no momento e a beijei. Não sou hipócrita á esse ponto. Eu quis beijá-la. Não pensei muito na hora... Quando percebi que ela entendeu o que estava acontecendo e não me afastou, eu simplesmente não pude deixar a oportunidade passar. A tal oportunidade que eu tanto quis quando era mais novo, bem antes do Mike aparecer na vida dela... Mas no instante que encostei minha boca na dela, percebi a merda que estava fazendo. Era errado e desleal. Errado por me aproveitar de uma garota visivelmente desequilibrada emocionalmente e desleal á memória do meu melhor amigo.
Não sou hipócrita também e negar que aquele maldito beijo me perseguia em cada momento do dia, e por vezes me acordava no meio da noite. E nem tinha sido um beijo de verdade!
Stella parecia nem se lembrar do acontecido. Todos os dias quando eu passava na casa dela (o psiquiatra pedira que eu incentivasse Donnie a voltar a conversar, sobre assuntos leves e impessoais) ela ia até a sala abrir a porta para mim, então ficávamos vendo o noticiário e fazendo comentários aleatórios sobre o que víamos. Ela ainda falava pouco, em comparação ao que era do passado, mas eu percebia que dia após dia um pedacinho da antiga Stella voltava. Ela já preparava sanduiches para mim, dava pequenos sorrisos quando eu falava alguma besteira, reclamava dos toques do meu celular, criticava as minhas roupas (mesmo tendo confessado, anos trás, que as adorava)... Era como se nada tivesse acontecido entre nós duas semanas antes!

Eu tinha dois anos quando ela nasceu.
Eu fui a terceira pessoa a visitá-la na maternidade; eu a ensinei a fazer bola de chiclete; ela me ensinara a diferenciar as cores que eu cismava em confundir; brincávamos de Tubarão por horas na piscina; rolamos a escada de casa diversas vezes enquanto saiamos na porrada; quase quebrei o nariz dela com uma bola de basquete; ela me fez chorar ao dizer para nossas mães que eu gostava da Jenna Blackburn; bati no Phillip Connen quando ele arrancou a cabeça da boneca dela; eu era o único que podia entrar em seu quarto sem ser recebido por gritos e choro depois que o pai dela as abandonou; ela copiara todas as minhas lições e deveres quando fiquei com o braço engessado por quase dois meses; arranquei sangue do nariz de Pete Regan quando ele espalhou para o colégio todo que tinha sido o primeiro garoto a beijá-la na boca; ela fizera Annete O'Brien confessar que mentira sobre eu ser seu namorado secreto, quando seu namorado de verdade ameaçou me bater; eu prometi á ela que nunca deixaria nenhum cara, nem mesmo Mike, a enganasse como seu pai tinha enganado tia Susan...
Passamos por tantas coisas juntos, mas nada, nada, se comparava aquele beijo. Nunca tínhamos sequer apontado naquela direção.  Eu não tinha ideia de como agir. Estava claro que ela não tocaria no assunto, então não seria eu que o traria á tona.
O mais engraçado era que apesar de verbalmente ignorarmos completamente o ocorrido, nosso contato físico aumentara: enquanto assistíamos TV, ela sentava bem ao meu lado, e por diversas vezes apoiava a cabeça em meu ombro. Sua nova mania era mexer nos meus cabelos, me fazendo deitar a cabeça em seu colo quando estávamos no sofá ou parar diante de mim e ficar nas pontas dos pés quando estávamos na cozinha; redescobriu a mania de me bater quando eu falava alguma merda; e todos os dias, todos mesmo, ao me cumprimentar e ao se despedir ela me dava um abraço apertado, coisa que ela não tinha costume de fazer no passado, nossas mães brincavam que só dávamos beijos no rosto em datas comemorativas.
Em resumo, se as coisas continuassem daquele jeito, eu ficaria maluco.

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