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Donnie

- Eu não acredito que estamos fazendo isso – repeti e fui ignorada – E porque estamos indo de metrô?
- Porque ninguém esta em condições de dirigir depois de passar o dia torrando e bebendo – Summer respondeu ao sentar do meu lado no vagão gelado, me fazendo pensar se aquilo tinha sido boa ideia.
- Eu poderia dirigir, não bebi – lembrei e Josh me abraçou de lado, seu corpo ainda quentinho do sol.
- Mas você dirige mal demais, Donnie – Stu disse ao lado de Summs e eu exclamei em revolta, fazendo os três rirem.
- Que absurdo! Eu só sou cuidadosa! – tentei me defender, mas Josh riu contra meus cabelos e eu dei uma cotovelada nele.
- Donnie, a gente bem se lembra daquela senhorinha te xingando na Escócia – ele pontuou e eu o agredi de novo.
- Ela estava com um demônio no corpo, só pode! Eu estava no limite da estrada e ela naquele desespero – tentei argumentar, mas eles ainda riam de mim, chamando atenção das poucas pessoas no ultimo vagão da composição que avançava em direção à Brighton naquele final de tarde.
Eles tiveram a ideia de irmos para o apartamento do pai de Stu na praia quando a festa começou a esvaziar, foi só o tempo de Summer e eu trocarmos as saídas de praia por vestidos, calçar nossos chinelos e jogar tudo de importante numa bolsa enquanto os meninos expulsavam os últimos convidados e já estávamos entrando na estação de metro que ficava no final da rua.
Fomos conversando e brincando por todo o trajeto até o litoral. Josh não me soltou por nem um minuto, quando tirava o braço dos meus ombros para encenar alguma historia logo pousava a mão no meu joelho, escondia o rosto no meu pescoço para rir de Stu ou mexia no meu cabelo enquanto prestava atenção no que Summer dizia, sempre me olhando com aquela energia contagiante e sorriso doce.
- Vamos na roda gigante! – Stu pediu assim que saímos da estação em frente ao píer que brilhava sob as luzes coloridas do parque de diversões que ficava na beira da praia.
- A Donnie tem medo, panaca – Summer lembrou grossa como sempre, mas sem soltar a mão que estava entrelaçada na dele desde que deixamos o metrô.
- Ah é mesmo, desculpa, Donnie – a constante tranquilidade e alegria de Stu contrastavam tanto com a personalidade afiada de Summs que fazia com que eles se completassem como eu vinha pontuando há anos e ela se negava a aceitar – Em qual brinquedo você quer ir?
- Qualquer um menos a roda gigante – sorri em resposta e ele concordou com a cabeça, pronto para dar opções, sempre solícito.
- Na verdade, eu preciso ir ao banheiro primeiro – Josh interrompeu com uma careta – Acho que desacostumei a tomar cerveja.
- Stella está fazendo de você um homem direito – Summer fez graça e eles riram.
- Mas é claro, acha que quero marido com barriga de cerveja? Tem que desacostumar mesmo e manter essa barriguinha sequinha assim – comentei também rindo e vi o olhar de Josh mudar ao registrar minha frase, ele simplesmente parou de andar pelo calçadão para segurar meu rosto com as duas mãos e me dar um selinho estalado.
- Te amo – disse sem emitir som, com o nariz encostado no meu, me fazendo sorrir feito idiota.
- Ai gente, eu queria um relacionamento assim, mas a Kane não colabora – Stu fingiu chorar e recebeu uma mordida no braço em resposta – Olha como ela me trata! Olha isso!
- Você adora, cara – Josh constatou e eu concordei com a cabeça, ao que voltamos a andar de mãos dadas.
- É o jeito dela de demonstrar que gosta de mim – Stu disse dando de ombros, fazendo uma risada irônica explodir de Summer.
- Nos seus sonhos, bem nos seus sonhos – ela soltou a mão dele e continuou andando um pouco afastada.
- Nos meus sonhos – comentei com Josh, fingindo ignorar minha amiga – Eles dois tem três filhos e colocam os nomes de Leonardo, Raphael e Michelangelo e eu sou madrinha de todos eles.
- Posso ser o padrinho, né? – ele claramente amou a ideia dos nomes combinando com meu apelido e sorriu feito criança, do jeito que deixava seus olhos pequenininhos.
- Mas é claro que pode – foi Stu quem respondeu, com cara de quem também havia curtido a historia.
- Até parece que eu colocaria o nome de um filho meu de Michelangelo – Summer revirou os olhos.
- Quer dizer que os outros ok? – Stu perguntou com um sorriso enorme e ela ficou vermelha instantaneamente, causando risos em mim e Josh.
- Odeio cortar o barato, mas eu realmente preciso mijar – meu namorado lembrou fazendo uma careta.
- Cara, a gente tá tão perto do apartamento que é melhor você usar o banheiro de lá – Stu tirou a chave do bolso e jogou para Josh, que pegou no ar – Vão lá de boa, ai a Summs e eu vamos na roda gigante enquanto isso, pode ser?
- Fechado – concordei feliz em me livrar do brinquedo horroroso. Nos despedimos e nos afastamos, ouvindo Summer reclamar de algum comentário de Stu e ele rir alto. Caminhamos por alguns minutos e chegamos ao prédio tão conhecido de nossa adolescência, cumprimentamos o porteiro e subimos seis andares de elevador.
- Se esse apartamento falasse... – Josh comentou ao entrarmos na sala tão familiar e tirarmos os chinelos cheios de areia, mas não tive tempo de responder, já que ele praticamente correu para o banheiro. Ainda sem acender as luzes, fui até a grande janela que ia do teto ao chão e fiquei olhando o céu numa mescla de cores escurecendo rapidamente acima do mar já completamente negro, o calçadão e areia estavam movimentados devido o calor que ainda fazia lá fora e pelo parque do píer, mas eu só conseguia ver um pouco das luzes coloridas ali do apartamento do senhor Sturridge.
- Você sempre gostou dessa vista – me assustei com a voz de Josh perto do meu ouvido e logo senti seus braços envolvendo minha cintura, me aconcheguei em seu abraço ainda olhando para fora e ele continuou – Lembro de você parada aqui no dia que fez as mechas rosa no cabelo, nem piscava, não se mexia...
- Foi no seu aniversário de dezessete, meu pai tinha pedido pra eu ir morar com ele – lembrei exatamente do momento que ele se referia.
- Eu sei – ele beijou meu ombro bem de levinho antes de continuar – Enquanto você ficou aqui de pé olhando lá fora, eu fiquei sentado no sofá olhando você, não sabia o que dizer para ajudar, não tinha coragem de oferecer um abraço... Então eu só fiquei quieto te olhando e garantindo que ninguém te incomodasse, até que do nada você chamou o Mike pra ir dar uma volta na praia e voltaram um casal.
- Não foi do nada – eu não olhava mais a paisagem e sim nós dois refletidos nitidamente no vidro, devido ainda estar com o apartamento no escuro, percebi que ele também me observava pelo reflexo e fixei em seus olhos ao continuar – O Michael vinha demonstrando interesse em mim há meses, mas sempre o achei metido demais, perfeitinho demais... Mas gostava de ver como as brincadeiras dele comigo te incomodavam, infantil da minha parte, eu sei, mas eu só tinha quinze anos e minha única companhia masculina sempre foi você, era legal ter um garoto que me elogiava, pra variar.
- Você sempre foi o exemplo de garota bonita pra mim – ele disse baixinho e beijou meu ombro de novo, eu sabia que dizia a verdade – Eu só era idiota demais pra conseguir te falar isso.
- Você implicou tanto com as minhas mechas – lembrei e ele riu fraco.
- Eu te achei tão linda que fiquei com raiva – confessou mais baixo ainda e eu virei um pouco o rosto para beijar seu queixo – Você ficou toda vermelha quando Mike te chamou de gata naquele dia.
- Era tão estranho ter atenção de um garoto mais velho que não fosse você, ainda mais um tão direto, que me elogiava ao invés de fazer piada – olhei para a paisagem de novo e continuei – Minha cabeça estava uma bagunça naquela época, com meu pai insistindo que ir morar com ele era uma boa ideia, minha mãe que vivia mais no hospital do que em casa, Michael que não me cantava mais o tempo todo, mas ainda deixava claro que tinha interesse e você... Você que estava cada vez mais distante, não conversava direito comigo, só implicava com tudo que eu fazia.
- Adolescente – ele explicou e eu concordei só balançando a cabeça.
- Aí no seu aniversario a gente veio pra cá e você mal olhava pra mim – as lembranças vinham de forma rápida na minha cabeça, mas consegui organizar as palavras e continuar – Quando fez piada com meu cabelo foi difícil não chorar, por isso fiquei aquele tempo todo aqui na janela, estava tentando colocar ordem no caos que minha cabeça e coração estavam. Aí por esse mesmo vidro eu vi o reflexo da Bridget sentando no seu colo e te dando um selinho, então pensei 'porque ele perde o tempo dele com essa garota com quem não tem nada em comum e eu não posso fazer o mesmo com o Michael?', pensei que fosse hora de parar de ver os defeitos, ou melhor, as perfeições demais do Michael e dar uma chance pra ele, foi aí que o chamei para ir pra praia.
- Isso quer dizer... – ele limpou a garganta e continuou mais firme – que basicamente quem fez você ficar com o Mike fui eu?
- Era pra ser, Josh – eu acreditava de verdade nisso – Tudo tinha que ser desse jeito.
- Se eu não fosse tão imaturo, quem sabe a gente não estivesse junto durante todo esse tempo? – ele parecia mesmo chateado ao estreitar os braços ao meu redor e respirar fundo contra meu pescoço.
- As coisas não tomariam esse rumo... Não teria dado certo... A única parte boa é que Michael ainda poderia estar vivo... Mas você não seria o Josh que é agora, eu não seria a Stella que sou agora – minha garganta apertou um pouco, mas consegui terminar – Eu não te amaria como te amo agora.
- Donnie – ele disse baixinho e me virou em seus braços, me deixando de costas contra o vidro e segurou meu rosto com ambas as mãos, me olhando bem de perto ao passar o nariz pelo meu – Esse tipo de lembrança só me faz ter certeza de que nunca ouve qualquer outra garota, nenhuma outra mulher pra mim. Era pra ser você. Desde quando te vi no quarto da maternidade e quis saber quem era aquela impostora no colo da minha mãe e meu pai disse seu nome e eu misturei com a minha Tartaruga Ninja favorita e não parei mais de repetir Donastella, até que você virou a minha Donnie.
- Josh – a emoção virou um nó na minha garganta.
- Sempre foi você, sempre – ele me beijou uma, duas, três vezes, então mordeu meu lábio inferior de leve e eu suspirei alto – Eu sempre amei você como a minha Donnie chatinha, hoje te amo como Stella.
- Te amo – disse baixinho contra os lábios dele, me sentindo sem fôlego e ele sorriu largo e me beijou de novo, de forma estalada, que praticamente ecoou pelo apartamento vazio e escuro.
- Amo você – Josh devolveu a confissão sussurrada, mas repetiu mais alto na sequência – Amo muito, sabe disso, né? Preciso que saiba.
- Eu sei – e sabia mesmo. Todo meu ser sentia esse amor, por cada terminação nervosa, cada respiração – Você me faz tão feliz.
- Donnie – ele franziu o rosto e soltou o ar pelo nariz, como se aquela frase o afetasse muito – Você não entende o que ouvir isso significa.
- Você não entende o que sentir isso depois de tudo... – não terminei e ele me olhou nos olhos – Você me faz feliz.
- Isso, Donnie, isso é... – ele desistiu de tentar explicar e sorriu daquele jeito que me desmontava e eu tive que beija-lo.

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