+ 321 dias

494 17 17
                                    

Donnie

- Stella, como eu te invejo – Summer se abanou e eu ri – É sério, eu tô com calor só de ouvir, imagina se tivesse um Ashmore na minha vida? Teria medo das minhas roupas entrarem em combustão espontânea.
- Sums, você pega quem quiser, então eu não caio nessa, nem vem – respondi ao entrarmos no metrô logo após sairmos da aula.
- Aparentemente eu tenho ficado com os caras errados, porque nenhum deles nunca apareceu no meio da noite na minha casa dizendo que só conseguiria dormir depois de me chupar! – tampei sua boca tão rápido que foi quase um tapa ao perceber o que ela havia dito, uma senhora sentada no banco preferencial também ouviu e nos olhou com nojo, nos fazendo rir alto e nos afastarmos dela, me fazendo agradecer mentalmente pelo vagão ser sempre vazio naquele horário pós almoço.
- Summer, você precisa aprender a regular seu tom de voz ou conteúdo da conversa para locais apropriados – disse ainda rindo e ela revirou os olhos.
- Ela só fez aquela cara porque também ficou verde de inveja! Imagina há quanto tempo uma língua não encosta na xo... – arregalei os olhos e ela completou num sussurro – No aparelho reprodutor dela.
- Você poderia ter alguém que manda muito bem e sabe disso – soltei a frase no ar e esperei alguma agressão física, o que sempre acontecia quando eu tocava nesse assunto.
- Olha, a sua vida sexual com o Ashmore tá tão incrível que eu tô até pensando em considerar o Stu – ela respondeu fazendo pouco caso e eu quase gritei ao registrar.
- É sério? Posso marcar um encontro? Sums, ele vai ficar maluco quando eu contar! Ele é apaixonado por você há anos! – tive que controlar minha voz dessa vez, tamanha a empolgação.
- Ele não é apaixonado por mim, ele só quer me comer de novo – minha amiga tinha pavor de tudo relacionado à romance e relacionamentos, então vinha fugindo do amigo de Josh desde que haviam dormido juntos numa viagem que fizemos para a praia e ele ficou encantado por ela.
- Sums, se é esse único motivo depois de quase dois anos, podemos concluir que você é a definição de magic pussy – disse baixo e ela gargalhou.
- Essa seria você, meu bem, que domou não um, mas dois indomáveis – ela era a única pessoa que falava sobre Michael sem medo algum. Eu não sabia se gostava ou detestava isso.
- Eu não domei ninguém, eles não são animais para serem domados – achamos dois assentos juntos e nos sentamos neles, enquanto o trem cruzava Londres.
- O Josh pode até não ser, mas o Mike era um sim – ela também nunca disfarçou sua antipatia pelo meu ex – Eu sempre disse que você estava pegando o amigo errado, não disse?
- Sim, disse – e dizia mesmo. Sums sempre deixou claro que preferia Josh, falava isso até na cara de Mike, mas ele sempre ria e dizia que achava um barato as maluquices que ela inventava.
- E tinha razão! Ashmore é muito mais seu número! Fofo, engraçado, atencioso... O mundo te chama por um apelido sem noção que ele te deu quando criança e ninguém questiona, só segue o baile de tão fofo que é vê-lo te chamando de Donnie. Stella, o cara não disfarça o quanto te adora! – ela poderia seriamente montar um fã-clube para Josh, tamanha a empolgação que listava os motivos de ele ser ideal pra mim – E agora você me diz que ele é bom de cama! Sério, se ele não fosse o motivo desse sorriso na sua carinha linda, eu o roubaria pra mim!
- Nem vem, Kane, ele é meu! – brinquei fingindo mostrar minhas garras para ela que riu.
- Sempre foi, Donnie, só você não percebia – minha expressão confusa foi o suficiente para fazê-la explicar – Você estava tão cega pelo Hutcherston que não via como o Josh cuidava de você, como ele largava tudo e todos quando você dizia que queria ir embora de algum lugar e o babaca do Mike não queria ir junto.
- Ele sempre dizia que Michael tinha pedido pra ele ir comigo – minha amiga negava com a cabeça ou me ouvir.
- Nunca pediu, ele mal via você ir embora – parecia que ela estava lavando a alma em finalmente poder me contar essas coisas – Os meninos sempre pegavam no pé dele dizendo que o Ashmore iria roubar a garota dele, mas ele nem se abalava, dizendo que Josh era quase um irmão pra você e mesmo que não fosse, que ele nunca se atreveria a trai-lo dessa forma.
- Porque você nunca me contou isso? – uma dor parecida com traição começou a tomar conta do meu coração, uma dor conhecida.
- Eu tentei, Donnie! Você sabe que nunca mascarei meu ranço pelo Mike, mas toda vez que eu tentava entrar em algum assunto mais profundo de como ele era um babaca, você cortava e dizia ser o jeito dele e que ele não fazia por mal. Você passava muito pano pras escrotices dele.
- Eu não acredito em como eu era idiota – me sentia envergonhada e fiquei grata ao ver que nos aproximávamos da estação onde faríamos a baldeação para a linha de metrô que ia até em casa e levantei – Sabia que com o passar do tempo as pessoas estão começando a revelar mais esse lado do Michael que eu não via? Ele era alguém completamente diferente comigo.
- É claro, agora ele não tá aqui para mexer com a sua cabeça. Amiga, parecia que você estava enfeitiçada por aquele cara, era um amor muito estranho.
- Paixão – corrigi e ela franziu o cenho – Só agora eu percebo que não amei o Michael, era paixão. Era uma coisa derradeira, mas superficial.
- Você percebeu isso antes ou depois de fazer amor doce, forte e quente com o Ashmore? – perguntou de forma cômica, prolongando as silabas e eu ri.
- Eu não transei com ele ainda – respondi baixo, completamente ciente das pessoas atrás da gente que também esperavam o metrô abrir a porta – Então posso afirmar que foi antes.
- O QUE? – a rainha dos escândalos atraiu a atenção do vagão novamente e eu dei um tapa em seu braço, mas ela pareceu nem se importar, ainda chocada com a informação quando saímos da composição e caminhamos para as escadas que levariam até a plataforma onde tomaríamos o segundo metrô - Como assim, Stella Roe? Eu achei que você estava me contando os dias que antecederam o grande momento, sabe? Tipo o dia que vocês fingiram assistir filme na sala, enquanto sua mãe nem sonhava lá da cozinha que sua filhinha estava, na verdade, batendo uma punheta gostosa pro Ashmore debaixo da coberta.
- Summer! – adverti quando um executivo que falava ao celular nos olhou com interesse – É sério, vão colar cartazes nossos no metrô como exemplo de atentado ao pudor.
- Foda-se, bando de puritanos falsos e pervertidos nojentos – falou diretamente para o executivo e eu a puxei em direção ao metrô que se aproximava.
- É sério, fala baixo ou não te conto mais nada – ela viu que eu falava sério e concordou com a cabeça.
- Tá, mas não rolou nada mesmo além dessa cena do sofá e dele ir ao seu quarto de madrugada dizendo que precisava te chupar? – ela sussurrou mesmo não tendo ninguém por perto nesse novo vagão e eu sorri agradecida pela discrição.
- Ontem os pais dele chamaram minha mãe e eu para jantar na casa deles e ele estava com mais tesão que o normal – também sussurrei e ela arqueou as sobrancelhas em expectativa – Encostava em mim sempre que podia, mas não podíamos chamar atenção, já que nunca fomos de muito contato físico quando éramos só amigos. Mas ele deu um jeito de roçar a mão na minha quando entrei na casa, passou atrás de mim e apertou minha cintura enquanto sua mãe mostrava pra gente o prêmio que Dex havia ganhado na nova escola, conseguiu fazer minha mãe e Dex sentaram de um lado da mesa e ficar do meu lado durante o jantar e ai apoiava o braço na minha cadeira enquanto conversava, quase tive um treco quando ele discretamente colocou a mão na minha perna e ficou fazendo carinho com o polegar... Mas nada comparado com a adrenalina de quase sermos pegos duas vezes! Na verdade foram quase três.
- Como? Por quem? – Summer parecia verdadeiramente entretida e animada com a história.
- Ao final do jantar, eu fui ao banheiro no andar superior que fica bem ao lado da escada, quando sai mal tive tempo de processar o que estava acontecendo e ele segurou meu rosto com as duas mãos, me empurrou contra a parede e me beijou com força. Sums, ele estava duro! – sussurrei e ela gargalhou gesticulando para que eu continuasse – Só que ele é tão tapado que mesmo eu tendo sido pega de surpresa, quem esqueceu onde estava e que não poderia fazer barulho foi ele. Adivinha? Ele apertou a ereção em mim de um jeito tão maravilhoso que acabou gemendo alto.
- Mentira! – ela estava se comportando e reagiu aos sussurros, mas nossas risadas foram altas.
- Sim! E pra ajudar, o pai dele estava na sala, ouviu e perguntou se estava tudo bem! O Josh se afastou de mim tão rápido que bateu a costas na parede oposta e ai gemeu de dor e eu não aguentei e comecei a rir, mas passei os olhos rápido pelo corredor e tive uma ideia para responder alto que Josh havia pisado num Lego de Dex e machucado o pé.
- E ele acreditou?
- Acho que sim, tinham vários Legos espalhados em frente ao quarto do Dexter, mas o furo na historia é que Josh estava de tênis – eu tentava contar e rir ao mesmo tempo.
- Não! – Summer já gargalhava – E como foi o segundo quase flagra?
- Eu larguei ele lá em cima, voltei pra sala de jantar e fiquei papeando com os adultos até Dex reclamar perguntando pela sobremesa, me voluntariei para buscar, já que minha mãe e madrinha estavam relembrando a viagem onde conheceram tio Charles. Quando estou terminando de colocar as coisas na bandeja, escuto Josh comentar sobre a história dos pais e então ele entrou na cozinha, mas ainda fazendo alguma graça com o pai em voz alta, de repente ele para atrás de mim e dá um beijo rápido na minha nuca! Mal a boca dele desencostou de mim e minha madrinha entrou na cozinha, Sums, eu quase larguei a travessa de vidro no chão quando ouvi a voz dela.
- Você acha que ela viu? Ela disse alguma coisa que desse pra sacar?
- Não acho que ela tenha visto, porque ele não estava me tocando nem nada, foi tipo um beijo muito rápido e ele já saiu de perto. Mas ela fez uma cara que acho que pode ter sentido um clima, sabe?
- Que nada, ela sentiu foi o cheiro dos hormônios de vocês! – balancei a cabeça sorrindo e ela me abraçou de lado – Agora me conta da terceira vez que eu tô amando essa comédia romântica da vida real.
- Na hora que estávamos indo embora o pai dele se despediu da gente e foi para o escritório atender uma ligação, dai já na porta enquanto minha mãe brincava e enchia o Dex de beijos, eu abracei minha madrinha e vi a cara que o Josh estava me encarando, Sums, meu coração ficou até pesado ao perceber que não poderia abraça-lo em despedida também sem chamar atenção, então eu disfarçadamente entrelacei meus dedos aos dele ainda abraçando minha madrinha, ele apertou minha mão e deu uma piscadinha. Eu posso jurar que minha mãe estava olhando as nossas mãos quando eu me afastei da madrinha, sério!
- Mas conhecendo sua mãe, ela teria falado alguma coisa no caminho até sua casa.
- Então, também achei que falaria, mas nada... Ai ok, chegamos em casa e eu fui tomar banho, sem olhar o celular, quando sai vi que tinha uma mensagem do Josh de 20 minutos antes dizendo que queria me abraçar.
- Não vai me dizer que...
- Sim, ele estava estacionado em frente de casa! Eu corri lá fora em silêncio e ele me recebeu de braços abertos... Ele nem quis me beijar, disse que só precisava do abraço que não pôde dar quando sai da casa dele.
- Amiga, fala sério! Como você tá resistindo? Como você ainda não fodeu esse menino todinho? – ainda muito comportada, ela manteve a voz baixíssima.
- Ah, tá muito bom ficar nessa fase onde a gente só se pega...
- Gostoso e pra valer – ela completou e eu concordei rindo.
- É, gostoso e pra valer... Mas também passamos horas conversando sobre tudo e nada ou só em silêncio ou nos beijando e abraçando sem nenhuma safadeza ou só deitados juntos enquanto ele mexe no celular e eu estudo.
- Argh que nojo e que inveja desse mel de vocês... Mas mudando de assunto, esse vagabundo não vai arrumar um emprego não?
- O pai dele o tem pressionado com isso, dizendo que essa coisa de banda não vai dar em nada, que ele não tem futuro nenhum em musica e que precisa arrumar um trabalho de verdade e logo.
- Ele o expulsaria de casa e cortaria o dinheiro? – minha amiga pareceu preocupada com a ideia, uma vez que seu pai havia feito exatamente isso com sua irmã mais velha, Mary, que agora morava nos Estados Unidos.
- Não, mas mesmo que quisesse minha madrinha não o deixaria jamais fazer isso com qualquer um dos meninos. Com a endometriose dela sendo tão complicada ter o Josh foi um milagre e depois esperaram muito na fila de adoção pelo Dex para fazer algo do tipo com algum deles.
- Meu pai tinha que ouvir essa historia para ver se amolecia aquela pedra que ele tem no peito – a magoa pelo pai era visível nos olhos de Summer desde os nossos doze anos, quando ele expulsou Mary de casa ao descobrir que ela estava grávida aos dezoito anos – Bom, mas quem perdeu foi ele. Agora ele não faz parte da vida da Addy – a sobrinha de oito anos é o amor da vida de Sums e isso fica claro pelo modo como fala da menina – E fico feliz que o pai do Josh não seja capaz de fazer isso com ele.
- É, mas caso o Josh não tome um rumo na vida logo, será obrigado a trabalhar no escritório com o tio Charles.
- Josh? Trabalhando com finanças? Nunca na vida!
- Pois é, ele esta desesperado porque acharam que o contrato com uma grande gravadora resolveria tudo num passe de mágica, mas foram colocados na geladeira. Agora estão procurando por patrocinadores pra banda, estúdios, ou pelo menos um empresário bom.
- Você acha que a banda deles tem futuro?
- Não sei, não sinto nos meninos o mesmo amor pela música que o Josh tem.
- E se ele fizesse carreira solo?
- Ele só toca guitarra, Sums, ele nem gosta de cantar.
- Que foda – ela fez careta ao que nos aproximamos da nossa estação.
- Muito foda – concordei e ela me olhou maliciosa.
- Foda é o que você precisa dar para esse menino pra aliviar essa pressão de arrumar um trabalho digno e ser um adulto respeitável – por um milagre ela disse tudo isso baixo, mas eu ri alto.

Next Chapter Where stories live. Discover now