3

4.9K 300 36
                                    

- E-eu, ah, é...
Não sabia o que dizer, nenhum dos meus namorados questionou nada disso, e eu não estava preparada para falar.
Nunca tive coragem de tirá-lo, nunca tive coragem nem de toca-lo. Aquele pedacinho de barbante pode ser insignificante para muitos, mas para mim era muito importante. Não sei ao certo porque nunca tirei, mas sempre que tentava não dava resultado, não tinha coragem nenhuma. Sim, eu me apeguei totalmente a algo do passado, alguém quem eu estava destinada a esquecer, não fracassei totalmente, apenas me permiti ficar com um vestígio de uma das melhores fases da minha vida.
Retirei minha mão da dele e coloquei-a nas minhas pernas abaixo da mesa. Fiquei rodando o barbante no dedo agoniada. Brandon ainda esperava uma resposta.
  - Nossa, a destemida gaguejando? Deve ser algo muito importante - Falou levantando as sobrancelhas com um sorriso
  - Você não me conhece - Sorrio mudando de assunto e agradecendo por ter dado certo
  - Então me mostra - Encara meu decote e reviro os olhos
  - Quer que eu te mostre? Ok, primeiro, meus olhos estão aqui em cima, já deu disso aí - Reclamo e ele recosta na cadeira com as mãos para cima mostrando rendição
  - Beleza
  - Segundo, vamos parar de falar de surf, acredite eu sou a maior fã de praia, mas já deu - Rimos juntos e ele assente com a cabeça
  - Então do que vamos falar? - Pergunta e o garçom chega com alguns petiscos - Já sei, batata frita - Ele pega uma e coloca na minha frente
  - Tá, o que vamos falar de batata frita? - Pergunto na brincadeira
  - Elas são gostosas e... Amarelas, salgadas... - Brinca e pela primeira vez solto uma risada sincera
  - Você é tão ruim pra puxar assunto - Falo em meio às risadas
  - Sou mesmo! Eu funciono com cantadas! - Exclama
  - Hum, tenta uma!
  - Beleza, você é um refrigerante?
  - Não, porque? - Sorrio
- Porque no meu coração soda você - Ele fez uma expressão galanteadora e eu desatei a rir
- Muito bom, para um menino de doze anos!boto fé na garota que chiquinhas! - Brinco e ele sorri
  - A garota que eu quero não está de chiquinhas, ele é bem mais bonito solto - Fala e não sinto nada, nenhuma vermelhidão no rosto, nenhuma borboletinha sequer no estômago
  Sorrio simpática. Eu já tinha perdido o apetite, Brandon pediu a conta e voltamos para o seu carro, eu não queria falar mais nada, qualquer coisa agora seria só por diversão, ele não despertava nada em mim. Falando a verdade há muito tempo, especificamente seis anos, ninguém desperta nada de "oh meu deus" em mim, nunca mais senti aquela sensação de não querer sair de perto, de querer fazer de tudo para ver a pessoa feliz, as borboletas no estômago se foram, o frio na barriga se foi e parece que a minha antiga habilidade de me arrepiar com o mínimo toque se foi. Agora tudo não passava de um simples tesão.
  Para a minha vida infelicidade Brandon voltou a falar, revirei os olhos disfarçadamente.
  - A garota que eu quero é tão gata... - Comenta e meu sorriso se torna forçado - Ela tem um corpão, bem ÃO mesmo - Minha expressão debochada pede a vez, mas eu me controlo para que ela não apareça - Ela é tão sexy quanto uma prancha de surf - Falava olhando nos meus olhos e se aproximando de mim
  É isso mesmo? Ele está me comparando com uma prancha de surf? Uma garota gata, que tem corpão, sexy... Prancha de surf, olha onde eu fui me meter. Ele se aproximava com desejo.
  Quer saber? Foda-se, a última vez que fiquei com alguém foi há um mês, eu quero beijar um garoto, depois eu me viro se ele quiser compromisso.
  Ele se me puxa para si com violência e me beija da mesma forma. Brandon da varias mordidas no meu lábio inferior, que agonia! Tenho vontade de parar mas ele não parece. Enrosca nossas línguas se mexe com uma velocidade inimaginável, que saudade dos beijos lentos senhor, e fico desconfortável. Sem avisos ele agarra a minha coxa com uma mão e a outra sobe para o decote da minha blusa. Que tarado!
  Franzo a testa, ele ignora e continua com seus atos esquisitos e adiantados demais. Paro com o beijo tentando ao máximo fazer com que pareça um "término de beijo" normal e por motivos normais. Ele me olha confuso.
  - Já deu, não acha - Sorrio retirando sua mão do meu decote
  - Não, não acho - Ele sorri e tenta se aproximar novamente mas eu não permito
  - Já está tarde, me leva pra casa - Tento sorrir e ele volta para seu banco em silêncio
  Garoto estranho.
  O caminho até a minha casa foi um terror, um silêncio mortal e constrangedor se estabelecia no local, eu só queria pular pela janela com o carro em movimento. Os dez minutos pareceram duas horas, nunca o tempo havia passado tão devagar.
  Finalmente Brandon parou o carro em frente à minha casa.
  - Obrigada pelo jantar, eu me diverti - Falo abrindo a porta com um sorriso simpático
  - Nada, podemos marcar outras vezes - Fala sorrindo também
  - Claro... Até - Entro em casa o mais depressa possível.
  Garoto estranho.

  Fiquei acordada até meia noite e meia procurando apartamentos. Não encontrava nenhum bom e acessível. Resolvi então ir dormir já que amanhã começaria o meu primeiro dia no hospital. Estava ansiosa.
  Deitei a cabeça no travesseiro e as lembranças de hoje invadiram a minha cabeça, recapitulando: Fui à praia, conheci um garoto na praia, achei ele bonito, ele me chamou para sair, no jantar ele falou 98% do tempo sobre surf e os outros 2% eram para falar que eu era gata e gostosa, senti um grande nada por ele, fomos até o seu carro, nos beijamos, ele beija muito mal, um clima constrangedor se estabeleceu, ele me deixou em casa e se despediu falando que sairíamos outro dia, eu disfarcei.
  Se separássemos tudo isso em momentos, em todos eles teriam duas coisas em comum: Brandon (o menos importante) e as minhas lembranças do passado. Ou melhor, minhas lembranças dele a todo momento.
  Me permiti pensar nisso. Porque em todos os momentos do dia? Na Alemanha eu conseguia controlar e quase não pensava, porque quando volto a Miami tudo reaparece? Mas é melhor que e desacostume logo, só vai me fazer sofrer, não existe nem 1% de chance desse garoto surgir do nada.
  Estava me debatendo na cama pensando em uma solução para o meu problema diário quando meu notebook notifica.
  Não ia verificar, deve ser um anúncio qualquer de algum projeto fitness para emagrecer, mas algo me fez querer ver.
  Assim que a tela se ascende por completo levo minha mão direita a boca, Meu Deus.

I will come Back to You - noart concluída Where stories live. Discover now