2 ✦ Mestre de Autômatos

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#DeusesDeMetal

 *este é um capítulo especial e sua leitura é opcional*

Nem sempre uma boa ação causa uma boa reação, mas toda boa reação vem de uma boa ação. É preciso coragem para fazer o bem sem saber qual das opções vai receber em troca.

Dongjjog - 107 d.S.

Na rua do mercado de Ilgob, a aglomeração mostrava vida. Era um dia de semana como qualquer outro, mas a diferença estava em Jimin, que passaria por uma iniciação. O garoto de dez anos com roupas rasgadas e sapatos descosturando, sujeira nas bochechas e embaixo das unhas estava andando entre as pessoas seguindo o homem que iria roubar.

Ele havia roubado algumas poucas vezes na vida, como quando achou que fosse morrer de tanta fome e pegou escondido um pão de uma barraca, ou quando viu que uma moça havia derrubado seu saco de moedas e ficou com o dinheiro dela, comprando um casaco novo para o inverno. Jimin nunca havia roubado sem necessidade de sobrevivência. E aquele caso do mercado não era diferente.

Apesar do seu objetivo ser um relógio de bolso e ele não poder vestir ou comer tempo, se tivesse sucesso entraria para uma gangue de garotos de rua que protegiam uns aos outros. Poderia comer com eles, dormir com eles e ter uma família de novo. Era seu sonho desde que perdeu a mãe há dois anos por doença.

Seu alvo parecia saber onde estava indo, por que andava sem olhar muito para os lados e sem diminuir o ritmo. Jimin percebeu que precisa agir logo ou perderia sua chance, porque era mais fácil de roubar no meio de outras pessoas. A dica que o líder da gangue lhe deu foi de fazer o velho truque de esbarrar no homem e colocar a mão no seu bolso enquanto o ajudava a se levantar.

Jimin acelerou o passo para tentar derrubar o outro com seu corpo pequeno e magricela. Só era preciso levantar o homem, colocar a mão em seu bolso e pegar o relógio. Levantar o homem, colocar a mão no bolso, pegar relógio. Homem, bolso, relógio. Família.

No entanto, a meio metro do homem, uma pessoa entrou na frente de Jimin. O garoto acabou esbarrando nela e os dois caíram ao chão, os membros tentando aparar a queda e se machucando no calçamento. Era uma menininha bem mais nova que ele que começou a chorar como se tivesse quebrado algo. Jimin sentou e assoprou as mãos com feridas ardidas por tê-las raspado nas pedras, até que uma mão pesada o empurrou para o lado e ele caiu de novo.

Gemendo de dor no ombro, Jimin olhou para cima e viu uma mulher pegar a menininha no colo enquanto o encarava com raiva.

— O que você fez com ela? — A mulher praticamente cuspiu nele.

Acostumado a ser tratado como animal, Jimin nem se deu trabalho de responder, pois sua palavra de nada valeria. Procurou o homem do relógio e encontrou suas costas bem longe, quase sumindo de vista entre as pessoas. Jimin se levantou rápido e bateu as calças, no entanto, antes que pudesse correr, a mulher agarrou seu braço e o puxou.

— Eu perguntei o que você fez?

Ele havia visto aquele olhar incontáveis vezes. Era o olhar de alguém que se sentia superior de alguma forma e usava as minorias para descontar sua raiva da vida, como se elas não sentissem o mesmo tipo de dor. Ou melhor, como se a dor do inferior socialmente fosse menos importante e por isso mais aceitável.

Ela apertava muito forte o braço de Jimin, querendo não apenas culpá-lo pelo choro da criança como também pelas pragas da existência. Jimin estava cansado da dor.

Rosnou para a mulher e ameaçou morder a mão dela, o que a fez soltá-lo e se afastar com medo. Jimin aprendeu que às vezes o melhor jeito de afastar gente sem noção era agir como elas esperavam que ele agisse. Evitava discussões que ele certamente perderia.

imperfeitos: deuses de metal ; livro 1Where stories live. Discover now