Capítulo 3 - Se case comigo

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HL joga um celular na mesa, arqueio a sobrancelha, pego o celular. Está aberto na galeria, as fotos são de homens e mulheres mortos. Arte do Alemão, certeza.

- Deixa eu adivinhar, Alemão? - Perigo arqueia a sobrancelha.

- Tá sabendo como? - sua voz tem um tom de desconfiança e sua testa está franzida.

Eu me levanto e me inclino em sua direção, para que ele possa ver a tela do celular.

- Esta vendo os cortes em forma de cruz, no pescoço - Passo foto por foto e dou zoom nos pescoços - é a assinatura dele - Eu volto em direção a cadeira e devolvo o celular.

- Como você sabe disso? - HL pergunta.

- Perdemos vários homens para o Alemão desde a morte do meu pai, eu identifiquei o padrão, por isso eu sei. - Eles ficam em silêncio - Já que me mostraram as fotos, posso chutar que vocês também estão em guerra.

- Positivo - HL responde - Perdemos muitos homens para ele.

- Quero dar uma olhada no lugar - Desvio minha atenção para Perigo e assinto.

- Por que não? - Sorri simples - Chega mais - Levantei e passei a mão pela cintura, pistola a postos.

Nós andamos pelo morro e como de costume eu cumprimento todos a minha volta, de longe eu avisto uma menininha, sentada em frente à um salão. Ela não deveria estar na escola? - Penso.

Eu me aproximei dela, acompanhada pelos dois homens, e me inclino para ficar da sua altura.

- Olá, o que uma menina bonita como você faz aqui? Não deveria estar na aula? - Ela me analisa e sorri.

- Mamãe disse que a escola não tá funcionando, não tem aula - Ela parece triste.

Uma mulher se aproxima e pega na mão da menininha a fazendo levantar, suponho ser a mãe.
- Ela não deveria estar na escola? - Pergunto para a mulher.

- Se você mantivesse a escola funcionando, ela estaria, ou acha que gosto de trazer ela para o trabalho? - Sua voz é desafiadora e ela claramente está com raiva.

- Abaixa a bola min... - Eu interrompo HL.

- Você está certa, eu deveria saber disso - Pego o rádio - Larissa.

- Fala, Caos.

- Preciso de você na boca em no máximo meia hora para resolvermos algo e por favor, amanhã, me lembre e de ir até a escola e fazer uma lista do que precisamos para reabrir até, no máximo, mês que vem.

- Positivo, vou terminar aqui e subo pra boca.

Eu sinto minha calça ser puxada e me inclino para olhar a menina de perto.

- A senhora vai mesmo arrumar a escola? - Eu assenti e ele abriu um sorriso banguela - Ebaaa, estou com saudades das minhas amigas - Ela abraça a mãe.

- Se você prometer se comportar até a abertura da escola, eu prometo que vou arrumar ela o mais rápido possível - Eu lhe dou o dedinho. Ela sorriu pegou meu dedinho.

- Prometo - Eu sorri.

- Obrigada - A mulher tinha um semblante tímido, e sua voz era mansa. Apenas assenti para a mulher e continuei andando com os meninos pelo morro.

- O que é aquilo? - Ele aponta para o local na esquina.

- Um barzinho, o melhor por aqui - Ele bate palma e sai sem dizer nada.

Eu levo perigo até a pista de skate e nós paramos.

- Podemos falar sobre o que vocês vieram fazer no meu morro ?

- O Morro do Alemão vem tomando tamanho - Ele diz serio - e vem ganhando todos os conflitos, temo perder o controle da Rocinha - Sei exatamente como ele se sente - Por isso vi uma ótima oportunidade quando soube que você assumiria a liderança - Arqueio a sobrancelha - Eu quero uma aliança.

- E por que essa aliança não poderia ser feita quando minha mãe estava liderando? - Ele ri divertido.

- Porque eu quero que você se case comigo - Deu olhar que antes observava a pista agora caí sobre mim. Minha boca se abriu em um perfeito "O".

- Casar? Com você? Nasceu assim ou endoidou agora?

- Não preciso que me responda agora, tem até o final mês, mas quero que pensar que nenhuma aliança que faça, vai ser tão sólida quanto a que te ofereço.

Ele só pode estar louco, não posso me casar, sou muito nova.

- Tenho muito mais para pensar do que em um casamento - Afirmo e um silêncio toma conta do lugar. Eu olho em volta e vejo crianças correndo pela rua, adolescentes em seus skates andando pela pista e adultos preocupados e se matando para trabalhar e vigiar os filhos, ao mesmo tempo. Eu suspiro pesado - E... e como isso funcionaria?

- Quero que o Alemão pense que estamos juntos, eu já soube que ele tem uma certa obsessão por você - Nem eu sabia disso - O casamento será de fachada mas todos terão que acreditar nele, teremos que morar juntos, claro. - Eu ri.

- E como pretende fazer isso? Você não pode deixar seu morro e nem eu o meu - Cruzo os braços.

- Pensei em uma casa no lado Oeste da minha favela, seu lado leste - Ele apontou - Na fronteira, tem um ótimo espaço para um casa entre as favelas - Eu arregalei os olhos, ele realmente falava sério.

[...]

Eu estava em minha mesa, pensativa, um casamento de fachada. A ideia não me agrada nem um pouco.

- Caos, cheguei dez minutos adiantada - Larissa abre um sorriso. - Está tudo bem? Você parece preocupada.

- Esta, só tava pensando na proposta de Perigo, nada de mais - Eu fiz o sinal para que ela sente - Queria falar com você sobre Wiliam, ele ainda não encontrou alguém que substitua Raul nos negócios. Eu mesma terei que eleger alguém, pensei em alguém que tenha labia para lidar com ele e você foi a primeira que me veio a mente, mas como você já lida com Jamie e as drogas não quero que se sinta sobrecarregada.

- Faço o que a senhora quiser, patroa - Ela sorriu - Tamo aí pro que precisar.

- Você receberá um aumento apartir de semana que vem, referente aos dois cargos - O seu sorriso se alargou ainda mais - Amanhã você terá que pegar o carregamento, só tem que conversar com William, checar a carga, pagar e trazer em segurança até o galpão. Só não esquece o relatório.

- Porra, odeio relatório.

- Eu também mas eu preciso saber o que entra o que sai do meu morro.

- Tá certo - Ela se levanta - Fé - Estende a mão para fazer o toque.

Faço o toque e digo:

- Fé.

Ao invés de esperar até amanhã para ir na escola, eu vou hoje, tenho que adiantar isso o mais rápido possível.

Ou eu só quero me ocupar para não pensar na proposta de Perigo.

A escola está em péssimo estado, como não percebi isso antes? - Penso.

As placas da entrada estão enferrujadas e caindo , as lâmpadas estão quebradas, restaram poucas mesas e cadeiras, os quadros estão inteiros, biblioteca ainda tem alguns de seus livros, os banheiro vão precisar de uma reforma total e não há água e suponho que nem luz. Isso vai dar um trabalho, mas consigo fazer.

Volto para a boca e faço um levantamento de quanto vamos precisar gastar para a reforma. Como preciso dos números faço as planilhas das drogas e da porcentagem que tiramos dos impostos, só o suficiente para fazer mas do jeito que as coisas andam não teremos grana para mantê-la funcionando por mais de três meses.

Droga.

Eu bufo em sinal de frustação e passo a mão pelos cabelos, eu preciso de mais grana, com os ataques do Alemão eu não consigo evoluir, fico presa no mesmo lugar.

Acho que não vou ter outra alternativa, a proposta do Perigo, me parece ... razoável.

Vish! Caos e Perigo juntos, será?

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A dona do MorroWhere stories live. Discover now