Capítulo 61 - Complô

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Passando para desejar um feliz ano novo a todos os meus amores. Festejem, porém, lembre-se de continuar se cuidando e não façam aglomerações. Usem máscaras! Vamos trabalhar para que em 2021 possamos comemorar com quem amamos <3 


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Eu sempre acreditei que não tinha vocação para cuidar de alguém. Afinal de contas, paciência e destreza nunca foram os meus pontos fortes. Porém, sempre fiz o meu melhor quando a situação me exigia isso, por exemplo, como agora. Sobretudo quando se trata de cuidar das pessoas que eu amo, e por Manu, ainda mais.

E é exatamente por essa razão que estou colocando o meu lado cuidadora em ação.

Embora os meus dotes culinários não sejam muito bons, preparo uma canja de galinha bem caprichada, com direito a pedacinhos de legumes e frango. Assim como a receita indica, deixo o caldo ferver um pouco mais para engrossar e aproveito esse tempinho para dar as vitaminas que o médico indicou para Manu depois que foi liberada.

Pego o frasco sobre o balcão e um copo com água.

- 'Tá na hora do remediiiiiinhoooooo!! - grito, erguendo as mãos para mostrar a minha amiga deitada no sofá.

Geralmente eu não sou a animada e sim a chata e resmungona, mas quero animar a Manu e não me incomodo de tomar o seu lugar por uns dias; ela sorri e levanta devagar, até estar apoiada no encosto do móvel, ainda envolta por sua manta favorita.

- São vitaminas, sua boba. - diz.

- Tem forma de remédio, está em um frasco tipo de remédio e provavelmente tem gosto de remédio. Ou seja...

- Me dá logo esse treco!

Ponho uma das cápsulas gelatinosas em sua mão, a qual leva a boca e engole com ajuda da água. Sento ao seu lado depois de largar o copo sobre a mesinha de centro, lembrando-me de ficar atenta a penela no fogo. O sorriso que antes enfeitava o meu rosto se vai, assim como o seu.

- Você está bem? - pergunto, mesmo sabendo a resposta.

- Apesar dos pesares, sim. Estou bem melhor.

Solta um suspiro e junta os joelhos contra o peito, abraçando-os. Olho para a TV, onde passa um programa qualquer e ficamos as duas em silêncio por um instante.

- Sabe que não pode esconder isso para sempre, não é?! - me pronuncio.

- Ainda que eu queira fingir, sei que não.

- E quando pretende...

- Não sei! - corta-me, aflita - Tenho pensado nisso desde que sai do hospital. Na verdade, desde que recebi a notícia. Mas, mesmo que eu pense e pense, me vejo perdida no mesmo lugar.

Agora sou eu quem solta um longo e profundo suspiro. Não faço ideia do que dizer. Apesar de eu defender a ideia de que deve logo falar e fazer o certo, tenho consciência de que não é tão fácil quanto parece, especialmente porque o cenário está longe de ser dos mais favoráveis para ela. Quer dizer, para ambos.

Se o que me contou for verdade, isso vai ser uma bomba - se bem que, seria uma bomba de qualquer maneira. A questão agora é: quando ela será detonada.

Nós nos encaramos e noto um relampejo de medo passar por seus olhos. Por mais que esteja "lidando bem" com tudo o que está acontecendo, sei que no fundo tem medo e eu não posso culpá-la. Se eu estivesse em seu lugar, com certeza já teria surtado. Só por receber aquela notícia, acho que teria provocado um escândalo.

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