Capítulo 03 - Dezenove

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Suspiro pela terceira vez enquanto levo a xícara aos lábios e ouço Manuela caçoar da minha falta de sorte. Pois é, eu deveria ter ficado de boca calada. Mas não, eu tive que contar à ela e desde que ficou sabendo da fatídica notícia de que serei a responsável do terceiro A, justo a sala do garoto que eu mais detesto naquela escola, minha amiga não para de encher o meu saco com piadinhas de mau gosto.

No fundo, eu sei que ela me odeia. Eu sei.

— O universo é engraçado, não é?! — diz, sentando-se ao meu lado.

— Ele até pode ser, você eu já não tenho certeza...

— Aaahh, mulher azeda! — dá-me um tapinha no ombro — Eu não tenho culpa da sua falta de sorte, só estou me aproveitando da situação para rir um pouco.

Encaro minha amiga de canto de olho e solto um suspiro derrotado.

— É karma. Não tem outra explicação.

— Você deve ter sido uma péssima pessoa na sua vida passada.

— Nossa... — rio soprado — Eu devo ter jogado pedra na cruz, mesmo.

— Acho que sua última vida passada foi um "pouquinho" depois da época de Cristo. — debocha.

— Está bem, eu devo ter jogado pedra em um cachorro então, ou num velhinho. Talvez dado início a Segunda Guerra Mundial?! Sei lá...

— Velhinho não, velhinha. Por que você provavelmente deve ter jogado a pedra na vida passada da diretora da sua escola e isso explicaria o fato de ela ter escolhido logo você para ficar como responsável pelo tal Terceiro A. — ri e morde um pedaço do biscoito de chocolate — Ou, se foi o caso da guerra, com certeza ela é um inimigo abatido que quer vingança. Imagina só, uma rixa que será levada por várias reencarnações se não for resolvida?!

Volto a encarar Manuela por mais alguns segundos e termino o meu café num gole.

— Sério Manu, pare de assistir séries. Elas estão mexendo com a sua cabeça.

— Ei! Deixe minhas queridas séries fora disso, entendeu?! Se estou ficando louca com teorias da conspiração e reencarnações, a culpa não é delas.

Rio alto com sua fala e expressão contrariada. Levanto, coloco as louças sujas dentro da pia e saio em direção ao quarto, sendo prontamente seguida por minha amiga. Manuela continua falando e falando no meu ouvido, e eu apenas concordo e sorrio ao ouvi-la defender tão assiduamente suas séries. Pelo menos ela esqueceu completamente de continuar me azucrinando com a história de eu ser responsável.

Termino de me arrumar e logo estamos no carro, saindo para mais um dia de trabalho e, milagrosamente, mais cedo do que de costume. A rotina é a mesma. Velocidade, comida e canções cantadas a plenos pulmões. E, claro, Manuela tagarelando como as aulas no estúdio de dança estão animadas e que daqui a dois meses haverá um concurso regional entre grupos. O qual me fez prometer antecipadamente de ir.

Despeço-me da minha querida amiga assim que estaciona em frente ao portão da escola e saio carregando as minhas tralhas. Dou um último aceno e lhe jogo um beijo. Ela sorri e afunda o pé no acelerador, disparando pela avenida. Sei que esse é o seu modo de dirigir e até estou acostumada com ele, mas, no fundo, tenho que admitir que ficou um pouco receosa toda vez que vejo minha amiga sair apressada com o carro desse jeito.

— Oh, Clara. — olho para o lado e vejo Jackson se aproximando — Bom dia!

— Bom dia. — sorrio.

IrresistívelWhere stories live. Discover now