Capítulo 04 - Segure

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Um... Dois... Três... Quatro copos cheios de água vão goela abaixo e nada desse calor estranho passar. Me sinto nervosa, muito nervosa. E tudo por que sequer me passou pela cabeça que um dia pegaria Jeon Jungkook fazendo esse tipo de coisa, ainda mais na escola, e muito menos que presenciar tal cena me afetaria tanto.

O que era aquele corpo? Aquela voz? Aquela força? Só de lembrar, eu...

Louca. Eu só posso estar ficando louca.

Deus, ele é apenas um garoto de dezenove anos. O mesmo garoto que vive me importunando e não perde a oportunidade de começar uma discussão quando lhe convém somente para sentir-se o melhor. O queridinho dos professores, o "aluno de ouro" do terceiro ano, que ri das piadas de seus colegas enquanto as aulas não começam e parece saber a hora exata em que entro na sala todas as vezes.

Isso que ele é. Esse garoto.

O mesmo garoto que dá de dez a zero em muito homem feito por aí.

— Pelo amor, Clara, tome vergonha na cara. — repreendo a mim mesma.

Respiro fundo, balançando a cabeça para espantar esses pensamentos. O segundo sinal já tocou e eu ao menos organizei o material para subir e dar a próxima aula. Merda!

Esse episódio envolvendo Jungkook realmente me abalou e de uma forma que não gosto nem um pouco.

— Professora Clara, o que ainda está fazendo aqui?

A voz da diretora tira-me dos devaneios e sou obrigada a respirar fundo antes de virar e então deparar com sua expressão nada satisfeita. E, bem, agora ela tem razão em ficar irritada e eu não posso ser indiferente a isso.

— Desculpe-me, diretora Cho Hee. Não estava me sentindo muito bem. — minto descaradamente, embora essa evasiva já esteja muito batida.

— Huh, é mesmo?!

— Sim. Mas agora estou melhor.

Sem dar chance para que comece mais um de seus discursos de boa conduta, pego meus pertences e saio rapidamente da sala dos professores, largando a megera para trás e prestes a falar sozinha. Subo as escadas para o andar dos terceiros anos às pressas, torcendo para que o salto não se parta no processo, e entro na sala do Terceiro C de supetão, interrompendo a alegria dos alunos que provavelmente pensaram que não teriam essa aula.

Ajeito os materiais sobre a mesa e logo dou início a lição, tudo para ocupar a mente e afastar ainda mais aquela bendita cena. O que, por incrível que pareça, acaba funcionando. Ao longo dos cinquenta minutos de aula, concentro-me em passar o conteúdo para os alunos e corrigir com eles o exercício em dupla que propus.

No entanto, assim que o sinal toca anunciando o fim do período, o cronograma aberto sobre as outras pastas me faz o favor de lembrar que as últimas duas aulas serão justamente na sala do palerma que peguei transando na hora do intervalo.

Ó-T-I-M-O.

— Por favor, lembrem-se que o trabalho referente ao livro Ilíadas de Homero é para o final da próxima semana e eu não vou tolerar atrasos, ok?!

Todos assentem e então saio da sala, rumo a segunda porta do corredor. A passos vagarosos, percorro o que agora parece ser um caminho longo demais e minha respiração trava no instante em que levo a mão até a maçaneta para puxá-la.

— Não posso deixar que isso me afete. Não posso.

Como um mantra, repito essa frase dentro da minha cabeça por vezes que mal consigo contar e só então movo a porta para enfim entrar na sala, onde sou recepcionada pela bagunça de sempre. No entanto, assim que os olhos do garoto sentado na penúltima mesa da fileira do meio recaem sobre mim, mais profundos do que estou acostumada, o meu coração dispara e as imagens do que flagrei no intervalo despencam como pedras sobre a minha cabeça. Tão vívidas que ainda sou capaz de ouvir claramente o suspiro áspero e forte que deixou sua garganta no momento em que gozou.

IrresistívelNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ