No silêncio do corredor, encaro o garoto a minha frente sem exatamente entender ao que se refere. Eu o olho, olho e olho. E, como um estalo dentro da minha cabeça, as palavras se encaixam e então tudo faz sentido.
A voz!
Agora entendo porque Jungkook simplesmente se dispôs a dizer que não era ninguém importante na porta. A voz que escutei naquela madrugada na casa dele e me soou tão familiar, que tanto rondou meus pensamentos, era ele. Era o Taehyung.
Minha expressão de surpresa deve ser evidente, pois um sorrisinho brota nos lábios de Taehyung. Um sorriso cheio de ironia e arrogância. O que aconteceu com o menino brincalhão e sorridente que eu conhecia? Onde foi parar aquele Kim Taehyung que é amigo de todos e que alegremente me dava 'bom dia' ou cumprimentava por onde nos esbarrávamos?
Não consigo entender. Por que, da noite para o dia, ele se tornou essa pessoa?
Ainda sem mover um músculo, observo o sorriso debochado que adorna seu rosto e, apesar de saber que é errado, sinto uma vontade muito grande de apagá-lo e de um jeito nada civilizado. Porém, me detenho. Custosamente, mas detenho.
Ele é apenas um garoto, no final das contas. E meu aluno.
Continuamos nos observando. Por mais que eu não queira admitir e lá no fundo algo diga que vou me arrepender amargamente, a curiosidade se instala em mim e não posso lutar contra. Uma hora ou outra eu teria que lidar isso e se ele está tão disposto a dar respostas as minhas perguntas, que seja. Mesmo com o desconforto que sinto em meu estômago, tomo a decisão que me parece mais sensata.
Que façamos logo de uma vez.
- Tudo bem - digo, por fim - Vamos conversar.
Novamente, ele sorri. E a sensação de que eu deveria ter me dado o benefício da dúvida ao invés de procurar a perturbadora certeza se ergue dentro do meu coração. Mas, reunindo todas as minhas forças como fiz hoje de manhã para entrar naquela sala e enfrentá-los, mando a hesitação para o inferno e, fazendo questão de mostrar que tanto a sua presença quanto a ideia de falar sobre o assunto me desagrada, pergunto:
- E então, onde quer conversar?
- Meu motorista está esperando lá fora. Me acompanhe e podemos encontrar um bom lugar. O que acha?
- Prefiro que diga um lugar e vá na frente. Eu vou de táxi logo atrás.
- Por que?
- Você sabe muito bem o porquê.
- Medo de que tirem fotos de novo? - indaga e posso sentir o deboche em sua voz.
Se o plano desse moleque é me tirar do sério, ele está conseguindo.
- Não se preocupe - ele diz - Já passou do horário dos alunos saírem dos clubes, não tem mais ninguém aqui além de mim. Então, não há chances de mais mal-entendidos.
Respiro fundo. Sei que está tentando me irritar e só para provar que terá que se esforçar mais do que isso, tenho vontade de pegá-lo pelo braço e arrastar até onde o tal motorista espera. Mas só de pensar em entrar naquele carro preto, o mesmo que Jungkook e ele foram embora juntos ontem, minha confiança estremece.
Não sei o que foram fazer ou para onde foram, e só de imaginar que talvez tenham terminado o que eu interrompi na sala de aula, sinto o meu sangue correr mais rápido.
Tirando paciência de onde não sei e apertando o pequeno botão do 'foda-se' que guardo dentro de mim, volto a encarar Kim Taehyung e lhe respondo:
- Pois bem. Vamos no seu carro.
Percebo que não esperava pela minha resposta, tanto que por um instante permanece desconcertado, mas logo retoma sua postura e faz um sinal para que eu o siga.
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Irresistível
FanfictionClara é uma brasileira que está trabalhando em Seoul como professora do ensino médio. Com todas as dificuldades de cultura e por ser nova nesse emprego, tudo de que ela não precisava era ficar à fim de um garoto de 19 anos, que ainda por cima é seu...