(Jungkook) Capítulo 42 - Agora ou nunca

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Sinto o sangue congelar. Empalideço. Com os olhos arregalados e a respiração ofegante pelo o que eu - insensatamente - permiti acontecer, observo Clara parada de braços cruzados na porta e não faço nada além de engolir seco. Seu rosto repleto de frieza me atinge, mas não tanto quanto o brilho magoado que carrega em seu olhar.

Decepção...

É isso o que eu vejo. Há tanta decepção em seus lindos olhos. E, entre todas as pessoas que um dia me encararam com esse mesmo sentimento, ela, definitivamente, é a que eu jamais gostaria que o fizesse. Porque é a decepção que mais me dói.

Dói tanto! Merda, porque dói tanto assim?

Sem que eu possa controlar, minha respiração se agita ainda mais. Sinto o peito descer e subir depressa, um incômodo sufocar a garganta, cada músculo do meu corpo tencionar e as palavras que precisam ser ditas se perderem diante o embaraço do seu silêncio. Silêncio este que perdura e me esmaga segundo a segundo, até Taehyung se pronunciar, tentando fazer o que sou incapaz nesse momento:

- Professora Clara, nós...

Mas um gesto e ele se cala. Com um olhar que gela a minha alma, Clara alterna sua atenção entre o meu amigo e eu, e com a voz mais cortante que uma faca, diz:

- Eu sei exatamente o que estavam fazendo aqui, senhor Kim. Porque eu vi!

Tanto Tae quanto eu ficamos calados. Meu interior revira. Desvio o olhar por um instante, constrangido e quebrado, mas reúno o que resta da minha dignidade e volto a observá-la, me arrependendo de imediato. Deparar com o seu desprezo é como um balde de água fria sobre a minha cabeça e sinto-me baixo, miserável.

Apesar da angustia e todo o receio que se apossam de mim, mantenho meu olhar sobre o seu. Porém, ao notar seus ombros trêmulos e a forma como seus orbes marejam pouco a pouco, meu coração pressiona forte e dolorido contra o peito.

Tenho que fazer algo. Tenho ou vou acabar mais arrependido do que já estou. No entanto, antes que eu possa sequer abrir a boca, vejo-a ir em direção a porta e então murmurar:

- Saiam daqui...!

Não espera por respostas ou qualquer outra coisa, simplesmente dá as costas e sai em disparado para o corredor. Estático, encaro a porta escancarada por uns segundos, mas salto da mesa num surto de coragem e corro atrás da mulher que acabo de partir o coração.

Avisto Clara no final do corredor, prestes a descer as escadas, e me apresso para conseguir detê-la. À passos largos, me próximo e seguro o seu pulso. A sensação quente da sua pele faz o meu corpo estremecer, bem como a maciez que me arrasta as lembranças de todos os nossos toques. Do nosso desejo. Mas, ao contrário do que sempre acontece, ela não procura os meus braços ou os meus beijos. Apenas permanece parada, querendo repelir o meu contato. A nós dois.

- Me solte, senhor Jeon.

Seu menosprezo me acerta como um soco no estômago.

- Noona, por favor, não me chame assim.

Minha voz sai tão baixa que mal a reconheço. Espero que diga alguma coisa, que, apesar de toda a sua raiva, não me trate como o desconhecido que não sou. Mas, nada acontece. Por intermináveis segundos, nos mantemos calados em meio ao corredor.

Hesitante, Clara se vira e nos encaramos, frente a frente. Lanço um olhar aflito, tentando de alguma maneira quebrar a barreira que repentinamente surgiu entre nós e assim ter uma chance de dizer que tudo tem uma explicação. E por um instante penso ter conseguido, isso até seu semblante endurecer outra vez.

- Vou dizer outra vez: me solte, senhor Jeon – esbraveja - Agora mesmo!

Com a vontade que não tenho, mas ciente de que devo lhe dar espeço, afrouxo o aperto em seu pulso e deixo o braço cair ao lado do corpo. Rendido, enfim.

IrresistívelWhere stories live. Discover now