Semelhanças

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Naruto POV

As pessoas tendem a dizer que eu e Sasuke somos opostos, por isso acabamos como rivais no passado – e por isso não teríamos a opção de ser um bom par no presente. Eu acho que já cheguei a pensar da mesma forma um dia. Mas a verdade é que ninguém entendia o Sasuke, nem eu. Ele não é meu oposto, somos bem parecidos se você realmente souber quem ele é.

Tudo que as pessoas pensam dele é errado. Bom, quase tudo e quase todas as pessoas, talvez com a exceção de nossos amigos. Eu me pergunto como eu, logo eu, demorei tanto pra perceber algumas coisas. Quando éramos crianças, eu implicava com ele, talvez por querer chamar sua atenção ou talvez por querer a atenção de outras pessoas e, por isso, as vezes eu mesmo me esquecia de quem ele era realmente, de como éramos parecidos.

Todos os outros desistiram dele. E, talvez por amor, eu não desisti, muitas vezes tentando me convencer de coisas que nem eu tinha plena certeza sobre. As vezes eu me negava a pensar na realidade em minha frente, pensando em apenas resgatar o Sasuke que eu conhecia – e que não era aquele cara criminoso e sem escrúpulos com quem eu era obrigado a lutar pelas circunstâncias. Mas, aquele era o Sasuke que eu conhecia, carregando os fardos de sua vida.

Somos muito parecidos, em processos inversos.

As pessoas se recusavam a pensar nos motivos que o levavam a fazer isso ou aquilo e até eu, preso no ideal de recuperar o amigo antigo, as vezes ignorei isso. Os meus fardos, quando eram pesados demais, se dividiam entre as pessoas que conquistei. Depois de crescer sozinho por alguns anos, eu realmente aprendi a amar e cuidar dos laços que fazia, cada um deles. Iruka sensei, ero sennin, o time 7, os outros novatos, cada kage, cada ninja, a cada dia eu conhecia novos deles. E foram esses laços que me curaram por dentro, que me permitiram sair do provável caminho pra que a solidão me levaria.

Mas, enquanto eu me reconstruía, Sasuke se despedaçava do meu lado sem que ninguém notasse. O caminho dele era o inverso. Quando eu era criança, achava que podia entendê-lo sem problemas, achava que todas as coisas eram óbvias e que sentimentos eram faceis de entender ou explicar. Definitivamente, só entendia um pouco do que ele sentia quando perdi alguém próximo.

Eu me pergunto como todos ao nosso redor deixaram que ele crescesse daquela forma, no meio de suas dores, sozinho. Eu sabia que ambos experimentávamos o mesmo escuro, mas a minha luz começava a se acender, enquanto a dele se esvazia cada vez mais. Por que, quando brigamos no telhado do hospital aquela vez, eu não o consolei de alguma forma? Por que eu nunca tentei entender de verdade o que se passava em seu coração mais cedo? Por mais que ele me diga que nunca estive errado, não posso deixar de me culpar.

E, mesmo sabendo que não deveria, ressentir à Vila também.

Sasuke perdoou a todos que já o machucaram um dia, mas ele nunca foi perdoado de verdade. Pensar nisso me deixa irritado. Quando Sasuke tinha planos de destruir Konoha ou qualquer coisa relacionada à Konoha, as pessoas diziam que estava maluco, que tinha perdido a sanidade e que deveria ser punido por isso. Bom, eu não me surpreenderia se eu mesmo perdesse a sanidade estando em seu lugar. Mas as pessoas não se importavam com as circunstancias.

Quando penso nas decisões que Konoha tomou no passado em relação a ele, meu único arrependimento é nunca ter feito um pedido oficial de perdão ao clã Uchiha em nome da Vila. Nós, que éramos as crianças, ignorávamos a situação porque Sasuke era bom e popular demais. Os adultos provavelmente ignoraram pelo mesmo motivo. As vezes me pego imaginando o quanto ele sofreu sozinho antes que tudo explodisse.

Mas, no final das contas, mesmo estando em lados opostos, sempre fomos parecidos. Perdoamos tão fácil, nos arrependemos, queremos viver nosso melhor pelos outros e precisamos da nossa família. E por isso eu tenho medo. Como Sasuke já explodiu um dia, eu tenho medo de explodir também. Eu arrisquei tudo, se eu perder... Se eu o perder e todo o resto desmoronar, eu não sei o que faria. Não mais.

ImprevisívelWhere stories live. Discover now