Eu estou bem

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Já era noite, Katsuo dormia num quarto especialmente preparado pra ele (embora ainda não inteiramente pronto), enquanto Naruto e Sasuke dividiam uma cama no outro quarto. O Uchiha se distraia lendo um livro qualquer enquanto o Uzumaki encarava o teto deitado ao seu lado. Sasuke não parecia preocupado em começar qualquer interação e permanecia quieto, mas Naruto nunca foi do tipo que gostou do silêncio ou de dividir sua atenção com um livro.

Se revirou na cama tentando irritar o moreno e ganhar sua atenção, em vão. O encarou em silêncio por um tempo, também sem resultados. Até não aguentar mais aquela quietude chata – era quase como se as palavras começassem a entalar em sua garganta até que ele resolvesse cuspir todas elas. Mesmo já tendo passado a noite juntos, jantado juntos e trocado beijos, abraços e carinhos antes, o clima parecia estranho por algum motivo e isso era um pouco desconfortável.

"Hm... Então, Sasuke..." - depois de resistir a abrir a boca por muito tempo, Naruto começou uma conversa, mesmo sem ter qualquer tópico em mente - "Desde quando arrumou esse apartamento?" - encarou o quarto quase pronto, falando da primeira coisa que vinha em sua mente

"Faz uns dias" - o outro respondeu, ainda sem tirar os olhos do livro

"Já pretendia sair de casa?" - Naruto insistiu na conversa, ouvindo só um 'hm' murmurado como resposta - "E já preparou um lugarzinho pra nós dois né..." - um sorriso bobo e vitorioso ocupou seus lábios

"Eu não te convidei pra morar aqui" - Sasuke retrucou, parecendo sério, ainda na mesma postura. Naruto fez um bico e cruzou os braços, feito uma criança brava - "Que eu saiba você ainda é um cara casado e eu já disse que não serei seu amante" - o loiro reclamou sussurrando, fazendo um riso escapar do Uchiha - "Se quiser ficar aqui e seguir em frente com isso, vá logo se acertar com sua família"

"Eu vou..." - respondeu, sem muita vontade - "Mas eu nem sei por onde começar"

"Do começo é uma boa ideia" - Sasuke retrucou - "Você pode dizer que se apaixonou por todas minhas infinitas e irresistíveis qualidades"

"Você anda bem engraçadinho, hein, quando foi que aprendeu?" - Naruto riu, satisfeito por ver um novo lado daquele que amava. Na verdade, o Uchiha costumava ficar mais extrovertido e brincalhão quando estava feliz.

"Só fale de uma vez" - Sasuke continuou, rindo de si mesmo. Podia dizer que não era assim tão comum vê-lo rindo com facilidade e frequência, mas Naruto tinha esse poder sobre seu humor - "Hinata é mais calma que Sakura, ela vai te entender bem"

"Meu problema não é Hinata, nós meio que já conversamos sobre isso antes" - Naruto ainda encarava o teto quando Sasuke deixou o livro de lado e finalmente o encarou como ele queria - "Mas Boruto vai me odiar pro resto da vida" - suspirou, desanimado - "Como foi com Sarada?"

"Eu ainda não falei com ela" - retrucou, surpreendendo um pouco o outro - "Eu a procurei hoje, mas ela saiu de casa mais cedo pra me evitar"

"Parece que nós dois somos pais fracassados no final" - Naruto resmungou, mas ainda num tom cômico. Era o típico 'seria cômico, se não fosse trágico'.

Podia-se dizer que ambos tinham pouca experiência paterna e ainda menos exemplo. Passavam mais tempo ocupados com missões que com suas respectivas famílias e tinham poucas ou nenhuma lembrança sobre como seus pais foram no passado. Por mais que se esforçassem, ainda era difícil acertar o 'tipo ideal' de pai que projetavam - e a verdade era que eram menos falhos do que imaginavam e seus filhos guardavam mais amor por eles do que pareciam demonstrar.

O silêncio pairou mais uma vez e Sasuke retomou a leitura que tinha abandonado. No entanto, Naruto ainda não se contentaria com aquela quietude chata, menos ainda aguentaria ficar naquela cama a noite toda só assistindo o moreno virar páginas quieto, sem receber a atenção dele e sem mais aproximações. Bom, qualquer leitura deveria ser menos importante que ele, então Naruto não via problemas em atrapalhá-la discretamente se enfiando entre os braços de Sasuke e acabando sobre seu peito, obviamente na frente do livro que ele tentava ler. O moreno pensou em repreendê-lo por isso, mas não resistiu ao sorriso infantil que recebeu e desistiu de ler outra vez.

ImprevisívelWhere stories live. Discover now