Seu sonho

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 Naruto estava sentado na sala de espera do hospital, desatento, preso nas próprias preocupações. Tinha planejado uma noite perfeita pra desfrutar com a família e tudo tinha saído um enorme desastre, uma confusão que dificilmente seria esquecida tão rapidamente. Nas horas que se passaram depois de sair do restaurante onde tinha tentado jantar, já tinha recebido várias mensagens e ligações, a fofoca começava a se espalhar.

Como hokage, já tinha acertado todas as coisas burocráticas necessárias - tipo garantir que se responsabilizaria pela reconstrução do Ichiraku (ainda que o dono não se importasse); levar a vítima do ataque ao atendimento médico; dar esclarecimentos à mídia de plantão que já tinha aparecido até no hospital atrás de notícias. Naruto pensara que era melhor ele mesmo tentar se esclarecer antes que a noticia começasse a se espalhar em versões mentirosas, mas não que ele pudesse impedir que isso acontecesse, claro.

Shizune estava no atendimento quando chegaram e ela pode garantir que os danos causados no tal homem não eram grandes, nem causariam sequelas futuras. Grande parte dos ferimentos pode ser curado com suas técnicas e poucas cicatrizes sobrariam na pele daquele homem; não atrapalhariam sua movimentação e o restante da recuperação seria rápida. No entanto, como vítima de um 'ataque', o tal paciente ainda pedia por algum tipo de retratação ou compensação. Sem consultar ninguém e apenas querendo acabar de vez com a história, Naruto tinha concordado em dar a ele uma indenização monetária e um pedido oficial de desculpas em nome de seu filho.

Pra equipe médica era óbvio que o homem poderia ir pra casa ainda naquela noite, mas ele insistiu que passaria mais tempo no hospital, como se quisesse aumentar a atenção sobre si ou fazer sua situação parecer pior pra quem a visse de fora. Mesmo sabendo que não poderia fazer mais nada àquela altura, Naruto ainda estava sentado no mesmo lugar, como se esperasse que uma resposta caísse em seus braços.

Estava realmente frustrado, de uma forma que não ficava há um bom tempo. Eram poucas as situações que faziam seu lado positivista se abalar e essas situações raras estavam quase sempre ligadas a sua família. A forma como ele sempre repetia a si mesmo que tudo daria certo, que nada o abalava, que o futuro estava em suas mãos... Nada além de uma tentativa de se convencer de tudo aquilo, as vezes não dava certo.

"Naruto?" - uma voz doce tirou o loiro de seus devaneios. Não era exatamente a resposta que ele esperava receber dos céus, mas era Iruka, o que já poderia representar um grande alívio.

"Iruka-sensei?" - Naruto tinha pensado em contatar Kakashi no meio de toda aquela confusão e perguntar o que ele, como rokudaime, teria feito, mas não quis incomodá-lo. Ele também pensou em seu antigo professor, mas sabia que ele andava ocupado demais com as próximas cerimônias da Academia e descartou pedir sua ajuda. Não esperou que ele fosse aparecer por vontade própria, claro

"Não deveria voltar pra casa?" - o mais velho sentou-se na cadeira ao lado de seu velho pupilo, exibindo um sorriso terno e quase paternal

"É, eu deveria" - o Uzumaki retrucou, cabisbaixo, num riso sem graça. Além de estar perdido nos proprios pensamentos, quase sem forças e coragem pra sair daquela cadeira e voltar pra casa, ele também queria ter a certeza de que teria lidado com todos os problemas antes de se reencontrar com sua família. Não sabia como encarar Sasuke e Katsuo depois de ter deixado sua noite perfeita ir pelo ralo daquele jeito - "Como soube que eu estava aqui?"

"As notícias correm rápido agora" - Iruka encarou a televisão pendurada na parede poucos metros a frente, desligada (provavelmente de propósito, pelos amigos do nanadaime espalhados por aquele hospital).

Konoha tinha mudado muito desde a última grande guerra ninja, em vários aspectos; muitos deles ótimos, mas muitos incômodos e desagradáveis. O poder e influência das mídias e da imprensa talvez fosse a mais contraditória das mudanças. Era ótimo ter notícias do mundo todo com facilidade, atingir mais pessoas sem tanto esforço, dar instruções em uma simples entrevista. Mas, ao mesmo tempo, essa mesma prática e útil imprensa, se transformava num veículo de mentiras e manipulações quando queria, além de acabar de vez com a privacidade das pessoas que se tornaram ainda mais públicas.

ImprevisívelWhere stories live. Discover now