Imprevisível

Sasuke

Uma pequena fresta deixava a luz do sol entrar, o que não era algo muito comum naqueles corredores subterrâneos que sempre cercaram os esconderijos de Orochimaru. Por algum motivo existia aquele único cômodo com um ar mais tranquilo e vívido. Dentro dele, não se ouvia muito além de uma risada despreocupada e gostosa de criança. Katsuo estava se divertindo brincando com Mitsuki, seu queridinho irmão de laboratório.

O mais velho usava alguns truques aprendidos com o pai e Katsuo achava que aquelas pequenas cobras brancas eram ótimas amigas, elas pareciam fofas e divertidas aos seus olhos. Felizmente não eram do tipo perigosas, já que o menininho não se importava em pegá-las no colo e tratá-las feito gatinhos. Mitsuki estava feliz em poder cuidar de seu irmão de criação; alegrava seu coração saber que existia outra criança como ele por aí, criada pela inteligência e pesquisa de seu pai.

Os adultos estavam ocupados e preocupados em outras salas. E haviam vários deles, o que não era muito comum naquele lugar. Sakura, Tsunade, Shizune, Kakashi, Shikamaru, Sai, Yamato, Karin, Juugo, Suigetsu... E isso, claro, além de Naruto e Sasuke que eram as verdadeiras atrações. Katsuo brincava, mas não deixava de ir até a sala do lado a cada cinco minutos pra ver se um de seus pais tinha acordado - nem que tivesse que passar por debaixo das pernas de algum ninja intrometido que estivesse na porta.

Já fazia algumas horas desde que o procedimento acabara, mas nem Naruto, nem Sasuke tinham acordado. O clima entre todos os outros era tenso, mas de alívio. Por mais que ainda estivessem desacordados, estavam bem e todos sabiam disso. Sasuke estava vivo, como num milagre, e Naruto só precisava de tempo pra recuperar o chakra perdido. Em análise rápida, Tsunade e Sakura podiam concluir que ambos teriam algumas sequelas, mas não parecia nada preocupante frente ao que tinham acabado de fazer.

Era quase certeza que Naruto tinha danificado seu sistema de distribuição de chakra. A enorme quantidade que corria por seu corpo já havia lhe causado problemas antes, mas agora era provável que existissem danos irreversíveis. Usar o modo Barion era arriscado demais e ele sabia disso; mais arriscado ainda era uni-lo a um jutsu tão forte quanto o de ressurreição. Talvez nunca mais conseguisse acessa ro chakra da Kurama ou controlar bem seus jutsus, o que certamente era preocupante.

Já Sasuke parecia inacreditavelmente bem. Todos os órgãos reconstruídos por Orochimaru funcionavam bem e o tratamento genético contra sua doença tinha sido um sucesso. No entanto, ainda não podiam concluir sobre sua rede de chakra ou se existia algum dano cerebral grave - era uma possibilidade. Nunca na história alguém havia sido mantido num estado de quase morte, nem passado por todos aqueles experimentos do sannin lendário, menos ainda morrido e ressuscitado depois de tanto tempo. Era um caso único.

E que não se repetiria.

Basicamente tudo usado naquele procedimento era ilegal ou proibido. Desde o jutsu, a ressurreição, os órgãos de laboratório, até o próprio Orochimaru. Além disso, se o que aconteceu com Sasuke ganhasse destaque e fosse a público, criaria uma grande guerra social e todos os envolvidos sabiam disso. Na verdade, admitiam que suas decisões foram um tanto egoístas e guiadas pelo desespero. Resgatar pessoas da morte usando jutsus proibidos não poderia se tornar um hábito, nem mesmo uma discussão, ou as consequências seriam terríveis.

Shikamaru projetava as possíveis consequências de um assunto como aquele vir a publico. As pessoas começariam a tentar por conta própria e questionar por que seus entes não foram salvos da mesma forma. E, em certo ponto, estariam certas em se chatear. Cobrariam a mesma posição de Naruto com qualquer morte e ele seria o único capaz de executar o jutsu outra vez, ainda que isso provavelmente o matasse. Questionariam o motivo de Sasuke ter sido escolhido e não outra pessoa e o culpariam pelo caos e pelos danos no nanadaime. Além de que todos os envolvidos acabariam julgados por usarem o tal jutsu proibido pra salvar uma única vida sem aprovação coletiva. Sendo assim, o melhor era que ninguém soubesse.