Eu não te perdoarei

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"Sakura-chan..." - Naruto sentou ao lado da amiga na sala de espera do hospital, passando a ela um copo de café que tinha comprado antes de ir com a intenção de agradecer por seus esforços. Como ele, Sakura parecia destruída, seu olhar não tinha ponto fixo nem brilho algum e ela também já tinha gastado todo choro que poderia

"Obrigada" - agradeceu e aceitou a oferta do outro, talvez alguns goles ajudassem a recobrar um pouco de força. Suspirou, enquanto mantinha a bebida quente nas mãos trêmulas. Nem sabia dizer direito como tinha sido capaz de agir tão rápido e precisamente quando precisou, estava tão nervosa - "Naruto, Sarada já sabe de tudo..." - com a voz tão trêmula quanto as mãos, aquela frase saia com dificuldade. Até falar naquilo era difícil, principalmente quando se lembrava do olhar desolado que tinha visto nos olhos da filha - "Ela me ouviu falando com Tsunade-sama aqui, eu não queria que descobrisse dessa forma"

"Sakura-chan" - Naruto não sabia o que responder. Aquilo tudo era tão doloroso pra todos que não tinham mais forças pra consolar uns aos outros. O sentimento de desesperança, o senso de que deveriam parar de tentar lutar contra o óbvio, era péssimo. E Sarada era só uma criança, lidar com aquele assunto seria ainda mais complicado pra ela.

"Minha filha é a única pessoa que quero proteger de todos os maus desse mundo, Naruto" - o coração de mãe destruído tirava dela a força pela que era conhecida. E o nanadaime compreendia bem o que ela dizia, o amor que pais e mães compartilham por seus filhos, o maior de todos, só é compreendido por alguém que está na mesma situação. Ele se sentia igual quando o assunto era Boruto, Himawari e Katsuo; queria protegê-los de tudo que pudesse, de toda dor que teve que passar quando tinha a idade deles, das perdas, do medo. Mas as vezes parecia impossível - "Nós nem pudemos conversar direito, ela só saiu daqui chorando..."

"Boruto estava com ela, não estava?" - tentando se manter forte pra ser o pilar que a seguraria, Naruto se impedia de demonstrar o seu nervosismo e permanecia em postura segura. A médica deixava algumas poucas lágrimas escorrerem sem pressa por suas bochechas e assentia devagar - "Ele vai cuidar da Sarada, não se preocupe" - um sorriso leve surgiu em seu rosto com certo esforço. O filho mais velho podia ser rebelde as vezes, mas era um ótimo amigo e tinha um coração enorme, ele com certeza estaria tomando conta de sua amiga da melhor forma – "Sarada é uma garota inteligente e compreensiva, vocês poderão conversar melhor depois e eu tenho certeza que ela vai entender bem a tudo, vocês duas são uma boa dupla afinal" - não havia muito o que fazer ou falar, nem muito o que a filha do Uchiha pudesse fazer no futuro. Mesmo que fosse difícil, ela teria que aceitar e aproveitar o tempo da melhor forma, antes que o pior acontecesse. Ela não era do tipo que perderia tempo brigando com seus pais ou com o destino, o Uzumaki podia prever isso.

E, naquele momento, Naruto e Sakura eram só os amigos de infância, companheiros de batalha, sofrendo por Sasuke como já aconteceu antes. Não importava mais coisas de relacionamento, nem se tratariam como ex ou atual. Acima de qualquer romance, o amor que os três sentiam um pelo outro era mais forte. Sakura aproveitou do café e do ombro de Naruto em silêncio por mais alguns minutos, enquanto tentava acalmar o próprio coração em relação à filha e ao futuro da família.

"Naruto, Sasuke-kun foi pra outro quarto" - a kunoichi se afastou do ombro do loiro depois daquele tempo silencioso que foi suficiente pra que tomasse todo o café que ele havia trazido e também controlasse sua respiração pesada - "Ele melhorou um pouco, talvez acorde logo"

"Serio?" - Naruto se levantou apressado, com um pouco mais de brilho nos olhos até então tão foscos.

"É provável que a recuperação seja um pouco mais lenta dessa vez e que ele não esteja 100% bem quando acordar, mas já é um alívio" - Sakura complementou, se levantando também. Ainda que não fosse pelo antigo casamento e sim pela amizade de anos, era um alívio pra ela também - "Kakashi-sensei ainda está por lá. É o último quarto do corredor 4" - a médica deu um sorriso fraco na direção do loiro e saiu em seguida, com seus mil pensamentos e a tristeza por não poder mais ser quem estaria naquele quarto durante a noite. Sua vontade era correr até lá, não sair do lado daquela cama e abraçar o Uchiha assim que ele abrisse os olhos, mas sabia que a realidade não era mais essa e tinha que aceitá-la.

ImprevisívelWhere stories live. Discover now