Capítulo 8: Almas Destinadas

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Mais tarde passo horas conversando com a Saito, mesmo trocando meus curativos ela não falou nada, não sei se percebeu que a ferida já está se fechando.

Caedes não respondeu mais, meu abdômen se fechou por completo nesta tarde, sei que a hora de ir embora chegou, preciso ir antes que descubram que curei um ferimento mortal em dois dias.

É noite agora, o clima está quente, não consigo pensar direito por causa do calor do verão aqui de Osaka, estamos em Setembro? Agosto?

Alguém está aqui fora, percebo os movimentos dos pés no chão batido e a sombra pelo fino painel translúcido acusa a presença de alguém.

Será que os filhos da puta dos Scariots descobriram onde estou e vieram me matar?

Não será tão fácil assim!

Me esgueiro até a porta e através da fenda espio atento.

A luz do luar recai sobre o corpo atlético da mulher, abdômen definido, peitos grandes, braços fortes mas não masculinos, sua Hakama, calça típica de Samurai, esconde suas coxas grossas e torneadas, seus cabelos negros e compridos esvoaçam enquanto ela empunha sua Katana e sua Wakizashi em uma dança sensual com as espadas, uma dança que seria mortal em um combate.

Seu porte com a espada dupla é imponente e nada convencional, seus golpes, mesmo que em um treinamento não seguem as regras dos samurais, ela luta como uma Deusa da Guerra.

Saito desfere golpes no ar, ela tem uma força incrível, se move tão rápido quanto meus olhos podem acompanhar, seus movimentos são sobrehumanos, seu olhar é obstinado e penetrante.

Não consigo me controlar, a excitação me atinge como fogo, sem pensar duas vezes levanto e ando até aquela mulher.

- Iki Saito... - Murmuro.

- Vix-Kun, deveria estar descansado para melhorar logo o seu ferimento! - Os olhos dela, escuros como a noite percorrem todo o meu corpo, suas bochechas ficam rosadas.

Ela parece surpresa ao me ver ali, de peito nú, de Hakama e um curativo no lado direito indicando o buraco que ali havia antes, ou talvez seja por que ela percebeu que estou completamente duro.

Meus músculos retraem com o vento quente da madrugada.

- Me daria a honra de um duelo? - Minha boca se abre em um sorriso safado.

- Hã?! Está me desafiando?

Ela fica em posição de guarda ou é o que deveria ser, a Katana fica com a mão direita atrás de sua cabeça e a espada curta na mão esquerda à sua frente, eu nunca vi alguém segurar a espada assim, nenhum outro samurai tinha o porte duplo.

Como será que essa mulher consegue erguer essa Katana pesada assim tão alto?

Será que voltei para a época feudal?

Empunho uma das Katanas penduradas no cavalete e avanço em direção a sua Wakizashi com minha espada.

Saito joga a espada curta longe e desvia para a esquerda, o meu golpe pesado atinge nada além do ar, ela então envolve sua mão livre na Katana, nem consigo piscar, a espada já está perto do meu rosto, essa garota vai me cortar no meio agora mesmo, me inclino para trás esperando que ela não me acerte, mas é tarde, não consigo desviar, não dá mais tempo, ela luta para vencer, independente do oponente.

O lobo toma o controle, em um movimento brusco desvio da lâmina, por centímetros.

- Ferido e ainda consegue lutar assim? - Ela me encara.

- Você sabe que não sou um humano normal, não é, Saito-Chan? - Cerro os dentes pensando no que acabou de acontecer. - Você ia mesmo me matar?

Um silêncio constrangedor abrange o local, de longe, apenas as cigarras cantam animadas.

- Bem... Como você mesmo disse, não é um ser humano normal, não é mesmo? - Suas palavras são seguras, sem hesitação.

- Sim, isso mesmo. - Arranco a faixa no meu abdômen para mostrar que não tem mais ferimento algum ali.

- E o que você é? - Ela se aproxima receosa.

- Ainda não posso te contar nada. - Sua mão fria toca minha pele, incrédula de que já me curei, ela pressiona seus dedos sob o local aonde deveria estar o rombo em minha barriga. - Não até que esteja segura.

- Como é possível? - Alisa os músculos do meu abdômen.

Estamos muito perto um do outro, posso sentir sua respiração quente em minha pele, seu cheiro misturado com o aroma de suor de suas mãos calejadas pelo manejo das espadas.

Toco com o indicador o seu queixo e puxo para cima, afim de que possa olhar em meus olhos.

- Você não sabe quantos séculos esperei para que pudesse ter você bem aqui em meus braços...

Vou me aproximando de seus lábios, ela parece retribuir o desejo que tenho de nossas bocas se tocarem.

- Lauryel... - Sussurro.

- Quem? - Ela me empurra para trás. - Você já tem alguém não é mesmo? Não fique brincando com as pessoas, Vix-Kun! Agora você precisa ir, antes que seja tarde demais.

Vira as costas para mim.

Ela se abaixa para pegar sua Wakizashi.

Estraguei tudo.

Eu não posso me esquecer que agora ela é uma pessoa diferente daquela que perdi, apenas sua alma reencarna, suas lembranças não passam para a próxima, a personalidade, aparência, costumes, corpo, tudo muda, fica somente o desejo que sentimos um pelo outro.

Apenas sua presença me faz lembrar de quem ela é.

- Sim, é mesmo.

Largo a Katana que peguei para duelar, Saito não olha para mim e volta a desferir golpes no ar.

- Eu voltarei pare vê-la.

- Não volte! - Responde ríspida.

Ando até o muro alto e dou um salto até a borda.

Antes de ir, viro para a mulher que acabei de conhecer nesta vida, mas que carrego o amor por séculos.

Sempre a encontro só para depois ver ela partir, se quebrar em um milhão de pedaços bem na minha frente, e sofrer cada vez mais com sua partida, isso é um teste? Deus está querendo que realmente me transforme em um monstro? Por que preciso carregar todo o peso do mundo em minhas costas?

- Falta pouco, Samael, mais alguns e estaremos livres! - Da minha boca saem essas palavras.

- Sim, Caedes, está quase no fim, já matamos mais de duzentos deles.

- Aguente só mais um pouco, meu amigo.

Sinto a presença do lobo mais forte do que antes, parece que voltamos ao primeiro ano de nossa transformação...

- Mas que nostalgia, Caedes!

O lobo faz minha boca se curvar em uma risada irônica.

Salto para longe do local aonde a alma da minha amada Lauryel está.

Será que a verei de novo?

Sim.

Sinto que vou ver ela partir mais uma vez.

Logo.

Samael ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora