Capítulo 1: Cidade Amaldiçoada

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Meu nome é Samael, quem sou eu?

No ano de 1692, em Massachusetts, o mal recaía sobre a terra em suas diversas formas, uma denúncia de bruxaria chega até a Igreja e sou enviado para a cidade afim de investigar a veracidade das denúncias e acabar de vez com a mal pela raíz.

Nessa época, eu tinha 27 anos, fui treinado desde os meus 6 anos a acabar com os domínios do diabo sobre a população.

Sou da Ordem Scariots, trabalho para a Inquisição, aprendi a lutar e a matar bruxas desde cedo, e isso se tornou a minha missão.

Essa foi a caçada que marcou minha vida, me lembro bem como foi quando pisei pela primeira vez naquela maldita cidadezinha, era Outubro, o céu estava nublado e sobre o meu rosto pequenos flocos de neve pingavam...

- Já não era hora! - Lauryel está bem na minha frente, ela ajeita o enorme casaco entre os ombros.

Lauryel é minha parceira de caçada, a conheço desde quando ela tinha 5 e foi recrutada, assim como eu, é orfã.

É extremamente proibido um Scariot se relacionar com alguém, e ainda fazemos voto de castidade, sou apaixonado pela Lauryel, é por isso que escondo o que sinto por ela.

- Vamos imediatamente para a casa do ministro, temos que ver a situação da garota! - Aperto o cachecol no pescoço e começo a andar pela cidade.

Na principal rua do vilarejo, se ergue entre os aldeões desconfiados, uma enorme casa de dois andares com paredes de pedra e uma placa chamativa na entrada do portão com palavras grossas dizendo "Propriedade da família Parris".

Entro sem demora.

Lauryel me segue sem proferir uma palavra sequer.

Penduro meu sobretudo ao lado da porta e observo a casa em um silêncio mortal.

Lauryel me olha como se soubesse o que estou pensando.

- Meu senhor, o ministro pediu para que fossem até o quarto da menina, o médico também está aqui. - Uma mulher negra fala e aponta para a escada.

Faço o que ela fala, caminho em passos lentos, posso ouvir cada grunhido que começa a reverberar pelo estreito corredor que entramos, no fim, uma porta entre-aberta e uma movimentação estranha.

Entro.

- Olá senhor Vix, estávamos esperando por vocês. - O senhor mais velho estende sua mão para que o cumprimente.

- Pode me chamar de Samael, senhor Parris, e esta é Lauryel. - Aponto para minha parceira que se encolhe atrás de mim.

Na cama, uma garota pálida, de camisola branca, com os cabelos despenteados me encara atordoada.

Ao seu lado se encontra um indivíduo de meia idade com instrumentos médicos.

- Vamos direto ao assunto! - Falo rispido, estamos cansados da longa viagem até aqui. - Quais os sintomas?

- Ela tem tido delírios, se debate ao chão em alguns momentos, da sua boca sai espuma como um cão raivoso, não segura nada no estômago e diz que a escrava lhe contou coisas estranhas. Com certeza é bruxaria! - O médico encara o pai da menina que está sério apenas ouvindo.

- É o que viemos descobrir. - Lauryel toca a testa da garota com delicadeza e observa sua aparência frágil e esgotada.

Peço para todos saírem do quarto, menos a garota e minha parceira, para que eu possa procurar alguns indícios pelo quarto.

Começo pelo guarda-roupa, procuro algo pequeno que indique a bruxaria. Nada. Olho em baixo da cama e nada.

Então a garota já sem forças, aponta para o sótão, uma pequena abertura entre as madeiras do forro do teto.

Com o auxílio de uma escada e uma lamparina, olho atento ao redor do pequeno espaço e algo chama minha atenção, uma boneca de pano, não maior que minha palma da mão, com cabelo humano grudado na cabeça da mesma cor que o cabelo da menina.

Mostro a todos.

Eles se espantam no mesmo instante.

- Como fazemos para salvar minha menina? - Uma mulher, com expressão cansada fala chorosa, a mãe da garota presumo.

- Só acabará quando matarmos a bruxa. - Meu olhar é sério e determinado.

A mulher explode em lágrimas e abraça o marido.

Sinto pena desta família, mas sei que se a bruxa for realmente a escrava, ela vai ser julgada logo, assim que eu conseguir provar.

- Fique calma, vamos ajudar sua filha, não medirei esforços para libertá-la! - Falo dedicado.

Queimo a boneca e já começo a pensar na investigação e em como isso pode demandar tempo e que vamos ficar presos aqui nessa cidade por um bom tempo e tenho um mau pressentimento quanto a isso.

Nos hospedamos em um hotel próximo, em frente a praça da cidade.

- Vá descansar, pequena. Amanhã sairemos especular os aldeões. - Digo e ela acente com a cabeça.

Ela entra na porta ao lado.

Sei que alguma coisa está acontecendo e me preocupo demais.

Deito na cama e apago.

No dia seguinte, começo a ouvir cada palavra de cada pessoa da cidade, todos estão muito assustados e desconfiados, estão duvidando até mesmo de suas esposas e familiares, já que diversas denúncias foram feitas, mas não consigo nada de concreto com as pessoas.

Algumas pessoas dizem que outras meninas na mesma faixa etária estão sofrendo dos mesmos sintomas, essas bruxas vão se arrepender de amaldiçoarem estas pobres e doces meninas!

Preciso ler os sinais que as bruxas deixam na natureza, preciso ir até a floresta assim que eu tiver acabado de ouvir os aldeões.

Lauryel consegue convencer outra família a abrir as portas para que investigássemos. É por isso que a admiro tanto!

- Olá senhora Willians. - Estico minha mão para cumprimentar a moça, de aparentemente 40 anos, de vestido e cabelo comprido.

- Olá! Entre por favor.

Entramos e logo começamos a procurar algum sinal.

Embaixo do assoalho no quarto da menina de apenas 11 anos, a mesma boneca estranha, com o mesmo cabelo estranho e olhos esbugalhados.

As duas garotas são primas, algum mal está recaindo sobre esta família.

Esse é o início de tudo o que poderia acontecer de ruim.

A bruxa está perto! Eu sei disso.

Samael ImortalWhere stories live. Discover now