Samael Imortal

Capítulo 29: Mortal e Brutal

Todos os Scariots riem ao mesmo tempo, não parecem acreditar que posso vencer esse porco demônio.

- Sami, não!

Caedes grita segurando o golpe de duas adagas próximo do rosto.

- Escute seu amiguinho demônio, Samael, você não é mais Imortal.

Tim debocha, suas palavras saem ásperas.

Me preparo, aperto a lâmina nas mãos e me posiciono no centro da sala.

Ele vem rápido, tenta alcançar meu pescoço, desvio para baixo, levanto as lâminas para cima e deslizo, a adaga corta o antebraço do animal, sangue pinga sobre meu rosto.

Tim solta um tipo de rugido de dor, o barulho da carne balançando é nojento, preciso segurar o vômito que sobe pela garganta.

- Seu filho da puta! - Ele grita.

Ele já está em processo de cura, o braço já se fechando em segundos.

Esse demônio é sem dúvidas mais forte que Caedes, eu o subestimei.

Tim se aproxima mais, relaxa os músculos e começa uma série de golpes na minha direção, desvio do primeiro, me abaixo do segundo, pulo sobre o terceiro e nem sei como desvio do quarto soco dele, mas não prevejo o que vem depois.

Ele estica a perna e acerta um chute forte no estômago, recebo todo o impacto com a barriga, tento respirar de vagar, me manter em pé é difícil.

Caio para trás, o ar sem entrar nos pulmões.

Tim pula em mim e começa a acertar meu rosto com os punhos, esse é o meu fim.

- Nãoooooo! - Caedes rosna a palavra.

A sequência de socos para de repente, consigo virar e olhar para Caedes, ele está se transformando em lobo.

Sons de agonia e rosnados saem da boca dele, o barulho dos ossos se moldando e crescendo chega aos meus ouvidos, tim observa boquiaberto.

A adaga está ainda em minha mão direita, ele nem percebe que me movo e golpeia a cabeça atrás da orelha dele.

Tim grita e cambaleia para trás com a lâmina aterrada no cérebro, ele tropeça e se lança sobre mim, a adaga enterra sobre meu peito e cai sem vida ao meu lado.

Sinto algo trancando em minha boca, uma tosse surge pela minha garganta, sangue se espalha pela minha roupa.

Caedes está destroçando os outros Scariots, ele desmembra, morde, arranha e estraçalha os homens como se não fossem nada.

Tripas, sangue e membros atirados para todos os cantos, um banho de sangue.

Minha consciência se esvaindo do meu corpo, tudo girando e a dor no peito aumenta.

- Sami!

Caedes me chama, a voz sai rouca e animalesca.

- Ca.... - Sussurro, não consigo falar, mais sangue surge por entre minha goela.

- Samael!

Caedes corre até mim, se ajoelha ao meu lado e encara a adaga enfiada no meu peito.

- Iki...

Pergunto esperançoso.

Ele chacoalha a cabeça em negativo, lágrimas transbordam dos olhos tristes dele.

Eu jamais vi ele com esse olhar de dor, apenas no dia da morte da sua esposa e filhas.

- Está tudo bem, Caedes.

Consigo dizer afinal.

- Não, eu não posso te perder também, Iki está morta, bateu a cabeça muito forte, não posso ficar sozinho aqui.

Ele solução e enrola as palavras, com pressa de dizer tudo.

- Calma, você sabe que eu iria morrer, está tudo bem, essa é a hora, Meu Caedes, nos veremos na próxima vida...

- Eu vou esperar por vocês!

- Algo me diz que a Iki não vem mais para nós... - Levanto minha mão até o rosto dele, faço um carinho na bochecha dele.

- Sami... - Ele coloca a mão dele em cima da minha e aperta contra o rosto.

- Eu amo você, Caedes.

Eu precisava dizer antes de morrer.

- Eu também te amo, Samael.

Um sorriso solta de meus lábios sinto o mundo apagar aos poucos, a dor sumindo e estou na escuridão mais uma vez.

E foi assim que eu morri depois de tantos séculos vivo, mesmo depois de ser considerado imortal, eu não vivi para sempre.

Nessa jornada conheci Caedes e as diversas vidas da minha Lauryel, me apaixonei muitas vezes por ela e no final só queria ter podido salvar ela e Caedes, mas não consegui.

Também não consegui acabar com a Inquisição, nem mesmo matei Scariots suficientes.

É por isso que Caedes ainda continua solto por aí, vivendo pela escuridão, disfarçado, caçando a Inquisição, pronto para matar esses bastardos.

A jornada ainda não acabou.

Meu nome é Samael, quem sou eu?

Eu fui um jovem apaixonado que perdeu tudo e perdeu mais uma vez depois de muitos séculos.

Séculos mais tarde...

Subo no alto do prédio, meu nariz não engana, o cheiro daqueles bichos podres está no local, os resquícios da doença da nuvem ainda andam sobre a terra, tudo mudou depois daquele fatídico dia em que perdi as duas únicas pessoas no mundo em que eu já amei, Iki e Samael, eles eram meus bens mais preciosos, mas os perdi no mesmo dia, para esses Scariots filhos da puta!

Levanto a barra do meu sobretudo de couro e pouso sobre a borda, lá embaixo as pessoas parecem pequenas, aqui em cima, longe de todo aquele barulho até parece que esse mundo está saúdavel.

Um barulho atrás de mim chama a minha atenção, algo caiu no mesmo telhado que eu.

Me viro rápido e busco algo pelo recinto, algo ou alguém está escondido atrás dos tubos de ar, no canto mais escuro do lugar.

Uso a visão de lobo para ver melhor, é um ser humano, ou quase.

Me aproximo atônito.

- Samael?!

Fim!

Ou apenas o começo...