Capítulo 18: Transferência

5 1 0
                                    

- Veja, a cabeça e o cérebro já se regenerou, logo ele vai acordar!

Escuto ao longe a voz daquela coisa nojenta, Ren Kentaro.

- Tomem cuidado, Projeto 1A e 1B, fiquem longe dele por agora!

Ele repreende os meninos, esse cara é realmente um louco, chamando os próprios filhos assim, espero que Saito esteja bem.

Não me movo, os sentidos voltam aos poucos, audição, tato, visão, olfato, o sangue circulando pelas veias e neurónios cerebrais, consigo ter tempo de pensar em um plano.

- Eu sei que já está consciente, Samael Vix.

Ren percebe, abro os olhos frustrado, esse merda me conhece bem, deve ter estudado muitos anos sobre mim e feito muitos testes em outros humanos, esse pensamento me causa mais raiva.

- Você é inteligente, Ren, o Thomas não pensava tão bem assim.

Tento enrolar, ganhar algum tempo para ver o que está acontecendo na minha volta.

Saito está deitada ao meu lado, inconsciente, amarrada e amordaçada.

Também estou amarrado, sem forças para conseguir me soltar, Caedes ainda dormindo.

Estamos em um tipo de laboratório, equipamentos e tubos com partes humanas e partes que parecem de animais, fetos, e líquidos estranhos por todas as prateleiras.

- Precisei administrar sedativos nela, estava fora de si, olha o que ela fez no próprio filho, é muita crueldade!

Ele aponta para o menino ao seu lado, sem braço, com a barriga costurada, marcas de luta contra a Saito.

Ren se aproxima dela, acaricia seu cabelo com as mãos nojentas dele.

- Não toque nela!

Grito.

- Cala a boca seu imundo!

O homem me atinge com o punho mais uma vez, minha face se torna em mil pedaços de ossos.

A dor é insuportável, só consigo gemer.

- Mestre, trouxe o Árabe que você pediu.

O outro menino, deve ser o Yato, trouxe Ali Salim para a sala, larga ele na maca ao meu lado.

- Certo! Pegue o livro das bruxas na gaveta.

O lugar é um laboratório, tem pedaços de pessoas para todos os lados.

- O que vai fazer?

Consigo finalmente falar, Caedes mesmo inconsciente está me curando.

- Bom, já que você faz parte do meu plano, eu vou te contar.

Ele gargalha.

- Vou fazer um ritual de transfusão, vou usar o corpo desse Árabe insignificante para hospedar a alma do Caedes por alguns segundos e depois vou trazer para mim, com a ajudinha da Saito ali.

- Você é louco! Como vai fazer isso?

- Usando o livro de bruxaria que temos desde o seu ritual na primeira parte, depois vou degolar o homem e estuprar a Saito para puxar a alma demoníaca do lobo Caedes para dentro do meu corpo, aonde vou suprir por completo e usar o poder imortal para sempre!

- O que? Você fez tudo isso e vai fazer mais com a Saito só por imortalidade?

Me sinto indignado, não consigo descrever todas as sensações que partem de meu estômago, meu coração doe como se tivesse sido esmagado, sinto tanto pela Saito e por ser possível perder Caedes, sem os dois não vou ser capaz de fazer nada.

- É o que todos querem, meu caro amigo!

Ele continua gargalhando como um animal grotesco e nojento.

- Imperdoável! Imperdoável! Seu lixo! Eu vou te matar!

Me debato com toda a força que tenho, grito com todo o fôlego que ainda me resta, mas não consigo me mover nenhum centímetro.

- Você não vai ser capaz de fazer nada, Samael, você é um nada sem o demônio, vou te matar logo após concluir tudo!

Ele pega o livro, aquele livro conhecido, capa escura, páginas velhas e amareladas.

Se prepara para começar o ritual.

"O Satanae invoco virginis corpus habere!
Accipe quod offerimus, et nos gratias longa vita!"

- Pare!

Uma pontada em meu corpo surge, da planta do pé até a ponta do fio de cabelo, a dor corre por todo meu corpo, como se uma electricidade estivesse andando por dentro de mim.

- Não!

Grito, lágrimas rolam de meus olhos, não consigo pensar em viver sem Caedes.

"O Satanae invoco virginis corpus habere!
Accipe quod offerimus, et nos gratias longa vita!"

Recita o parágrafo mais uma vez.

É aí que tudo começa a girar, parece que estou bêbado, tudo fica estranho, a ânsia aponta em minha goela, o desconforto ainda percorre cada centímetro da minha pele, a visão vai escurecendo pouco a pouco.

- Samael?

Caedes está diante de mim, parece calmo, suas palavras são suaves, estamos na minha consciência.

- Obrigado por tudo, amigo, eu não vou permitir que esse porco leve minha alma, muito menos que faça mais mal para a nossa Saito-Chan, quando eu sair do seu corpo, vou voltar para o inferno e desaparecer, você precisa parar o Ren Kentaro e levar a Iki Saito com você, vou deixar um pouco do meu poder para ti, meu amigo.

- Não! Eu não que ficar sem você! Não me deixe Caedes!

Meus soluços são altos, o lugar dentro de minha consciência se torna maior e mais vazio que o habitual.

- Não me deixe, Caedes!

Choro como uma criança, o nariz escorrendo, os soluços, as lágrimas, um turbilhão de emoções, o coração em meu peito arde com a dor de mais uma perda.

- Vai ficar tudo bem, Samael, viva bem por nós dois.

Ele vai caminhando na direção contrária, seus passos são lentos, cada vez mais longe, ele vai desaparecendo diante de meus olhos, como uma miragem no deserto.

- Caedes!!

Grito desesperado.

- O que é isso?

Abro os olhos e Ren está tentando conter o Ali amarrado na maca hospitalar.

- Esse é o seu fim, seu Scariot maldito!

Ali grita como uma besta, sua voz é rouca e autoritária, me causa arrepios de excitação só de ouvir suas palavras.

Ele ainda se debate tentando se soltar.

- Samael.

Ele me chama, para de se movimentar no mesmo instante, não consigo olhar seus olhos, ele esconde com o cabelo comprido, antes era castanho agora é branco como a neve.

- Samael.

Me chama mais uma vez.

- Ali?

Não sei por que pergunto isso, está mais que na cara que esse não é Ali Salim, talvez o corpo sim, mas o que tem dentro daquela casca é outra pessoa, outra coisa, um demônio.

- Samael.

Me chama mais uma vez, a voz ecoa pelo local, sinto a excitação percorrer meu corpo.

- Ca... Ca... Caedes?

Gaguejo, afinal é estranho ver ele em outro corpo, é estranho não sentir a sensação da sua alma demoníaca esmagadora dentro de mim.

- Sim.

A boca dele se abre em um arco malicioso, o sorriso dele me deixa muito, muito, animado.

Samael ImortalWhere stories live. Discover now