Capítulo 5: Além dos séculos

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Meu mentor está em meus braços, suas pernas estão separadas de seu tronco e as tripas se espalham pelo chão.

Porque fui amaldiçoado?

Porque fui escolhido para um destino cruel?

Imagens da minha Lauryel surgem diante de meus olhos, ela sorrindo para mim, me repreendendo sempre por ser muito inocente, nós dois quando éramos crianças...

Deus! Como eu a amo! Não posso viver sem!

Todos que amo morreram diante de meus olhos, eu não tenho mais motivos para viver.

Tudo o que faço é chorar, meu estado é deplorável, cabelo desgrenhado, corpo desnutrido e esquelético.

Sem pensar muito, uma idéia me recorre, como se eu tivesse um estalo em minha cabeça.

- Nem pense nisso, Samael.

Ouvir a fera dizer meu nome me faz estremecer.

- Vai se arrepender!

Pego um caco de vidro que está estilhaçado ao chão da igreja e em um movimento brusco faço dois enormes cortes em meus pulsos que começam a sangrar na mesma hora.

Me recosto na coluna circular da igreja, observo meu sangue denso se esvair e formar uma poça ao meu redor.

Minha visão já está falhando, me sinto fraco e feliz por acabar com a desgraça logo.

Uma risada maliciosa sai de minha boca.

De repente, o sangue que escorre, começa a regredir para meu corpo pelos cortes e por fim, são selados como se nunca tivessem existido.

Arregalo os olhos e toco no pulso que deveria estar aberto.

- Eu não permitirei que acabe com meu corpo!

A fera rosna dentro de mim.

- O corpo é meu!

Me levanto, ainda meio tonto.

- Você está no inferno agora!

Solto outra risada maliciosa.

- Meu De... - Não consigo pronunciar a palavra. - De...

O nome de nosso criador é falha em minha língua.

Um nó se forma em minha garganta.

O que farei agora?

Deus me abandonou.

Procuro algo para vestir.

Vou em direção a saída e procuro uma pensão de confiança, alugo um quarto e desabo na cama.

Olho para o teto que está mofado, na porta do banheiro um gancho.

Pego os lençóis e faço uma forca, penduro no gancho, subo em um banco, coloco a cabeça pela corda e chuto o banco longe.

Sinto sufocar, a corda cada vez apertando mais, e apago.

Consegui.

- Eu já te avisei, Samael. - O lobo surge em minha frente.

Estou no mesmo local neblinoso, a escuridão cegante.

- Me deixa em paz! - Berro me ajoelhando ao chão.

O lobo começa a andar em volta de mim, me cerca como se fosse uma presa, sua boca espuma e seus olhos são famintos.

- Você me pertence!

O lobo ri.

Ele parte para cima de mim.

Acordo.

Samael ImortalWhere stories live. Discover now