Capítulo Bônus: Degustação de Caedes Imortal

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Meu nome é Caedes, quem sou eu?

Eu sou um Demônio, eu vivo dentro do corpo de um hospedeiro humano, quando entrei ele já não tinha mais consciência, eu permaneci aqui para dar vida a este corpo, e também, para me vingar da Inquisição.

Samael Vix e Iki Saito eram dois humanos que queria proteger no passado e morreram pelas mãos podres dos Scariots da organização da Inquisição, esses bastardos já destruíram muitas vidas desde a antiguidade, acusaram minha esposa e filhas de bruxaria e as queimaram vivas bem na minha frente, eles tambem fizeram e ainda testes com humanos.

Largaram no mundo uma doença, aonde milhares de pessoas morreram ou foram transformados em coisas, monstros, bestas mutantes e sem cérebro, manipularam a população mundial e usaram suas artimanhas para formar um governo próprio, prometendo proteção e cura, isso causou mais uma guerra, depois de anos e centenas de mortos, uma metrópole se ergueu para os mais ricos, enquanto os pobres vivem do lado de fora das muralhas, sem proteção nenhuma destes monstros, e eu sou quem mantém todos seguros que vivem fora daquelas paredes imensas de ferro.

Por muitos séculos eu me escondo por entre os aldeões pobres do lado de fora das muralhas, para o resto do mundo eu não existo, para a Inquisição eu sou apenas uma lenda agora, os soldados do passado já morreram, e mesmo assim o legado de merda deles ainda sobreviveu, eu esperei que acabasse quando matei o pesquisador chefe, mas não acabou, outros vieram depois e mais tarde se proliferaram como ratos, eu ainda não consegui minha vingança.

Essa é a história do declínio de um Demônio, uma alma torturada pelo inferno e que perdeu tudo, mas não descansou até obter sua vingança, mesmo que custasse tudo o que conquistou... Mais uma vez...

Eu me lembro bem como tudo começou, sim, era inverno no continente, acho que aqui era a Antártida no mundo antigo...

Cidade da Inquisição, ano 2950:

Acordo.

Deve passar das oito e meia da manhã, aqui é muito frio, tenho apenas a fogueira dentro da casa e um cobertor velho e fino para me aquecer.

Saio pela porta estreita de madeira, a casa é pequena, mas é minha, neve tampa o chão e cria montanhas de gelo, o frio é intenso e congelante, mas isso não importa mais, os seres humanos não dirigem pelas ruas, não caminham pelas calçadas e nem se encontram para conversar no mercado, os tempos mudaram, a tecnologia evoluiu, existem portais que transportam as pessoas de um lado a outro, as compras são online e entregues em casa por robôs e tudo foi criado pelos pesquisadores estudiosos da Inquisição, eles lucraram com tudo o que o ser humano precisou para sobreviver, hoje eles são uma enorme organização, impossível de derrubar, se eu não vivesse, é claro...

Os únicos humanos que vivem fora das muralhas tem uma realidade bem diferente, eles precisam cultivar para ter alimento, criar animais para obter carne e pele para roupas e calçados, as mulheres fazem artesanato e todos ajudam uns aos outros, eu aprendi muito aqui neste lugar, com essas pessoas, mas sinto que algo vai mudar, em breve, meus instintos são muito bons, eu nunca errei, talvez seja a hora da minha vingança, ou de partir deste mundo.

Caminho pela aldeia, lhamas e animais que se adaptaram ao frio são os que mantemos, a horta é dentro de uma estufa que ajudei a construir, tudo para sobreviver.

Atravesso o deserto gelado até um riacho e me preparo para o dia, lavo o rosto, os dentes, ajeito o cabelo desgrenhado, é difícil ficar sozinho por tanto tempo, tem homens e mulheres na aldeia, mas eles têm medo de mim, sabem que não sou bom, eles me toleram pela própria proteção, sinto falta de Samael e Iki.

Observo meu reflexo na água.

- Já fazem mais de 900 anos, Samael, quando você vai voltar para mim? - Sussurro para mim mesmo.

Solto um suspiro cansado, eu sou um demônio lobo imortal, mas não aprecio viver desse jeito, me sinto miserável, sem prazer, sem ganhos, apenas perdas e solidão.

Sinto um arrepio percorrer meu corpo, e uma sensação de alguém me observando, olho ao redor, por entre as neve, procuro alguém, não vejo nada, não tem ninguém aqui.

Fecho os olhos e me concentro, uso o nariz para sentir, ouvir e procurar, mas não há nada, nenhum cheiro ou som diferente, não posso usar a Respiração da Besta*, vou ficar vulnerável, preciso de cobertura.

Me esquivo por entre as árvores e corro mais próximo da cidade da Inquisição.

Meu nariz pega um rastro, é o cheiro de podre característico dos infectados da Doença da Nuvem, sigo até o destino, o fedor é forte e impregnante,  não tenho dúvidas, continuo seguindo, cheiro e sinto, pegadas com sangue coagulado no chão branco chama a minha atenção, observo ao redor, é um silêncio mortal, quieto demais, não deveria ser assim.

Estou no limite da cidade, do meu lado esquerdo uma parede de 30 metros forma uma sombra gelada no local, o frio penetra pela minha roupa de couro e pêlo, o inverno é brutal aqui fora, não há nada para se aquecer, apenas o frio e a vastidão do deserto branco.

Gemidos estranhos alcançam meus ouvidos, parece a voz de uma mulher, continuo em frente, devagar, paro a centímetros da quina da muralha, espero para entender o que está acontecendo, cheiro o ar, está impregnado de sangue, minha boca saliva, é adocicado e gostoso, parece até... Magia.

Avanço, a cena que vejo me causa um arrepio na espinha, congelo na hora, jamais pensaria em encontrar isso na minha vida, nem sei o que significa isso que vejo.

Uma silhueta feminina escondida sobre um enorme corpo defeituoso, parece secar de dentro para fora, quase uma uva passa, mas os gemidos continuam, a mulher solta alguns suspiros de prazer em meio a situação estranha, não consigo ver seu rosto nem o corpo, a pressão do ambiente e o cheiro gostoso de sangue e magia me deixa completamente excitado, meu pau lateja por dentro das minhas calças, tanto que faz doer.

Não penso direito, salto sobre eles e arranco o corpo do toque da mulher, atiro para o lado contrário, minha velocidade é sobre humana, vejo a surpresa no olhar dela, a boca encharcada de vermelho me deixa com vontade de colocar a minha sobre a dela, mas sei que não estou pensando direito, é a magia que está me deixando louco, tenho que controlar a vontade de agarrar a mulher ruiva na minha frente.

Minha mão direita alcança o braço esquerdo dela.

- Não! - Ela grita.

Um choque passa pelo meu corpo, a corrente elétrica começa pela planta dos pés e para na minha nuca, seus olhos arregalados ficam em um branco profundo, a pele fica pálida e as pernas tremem bambas, apoio o peso do corpo dela em meu peito, minhas mãos formigam em contato com a pele dela.

As costas estão descobertas, um vestido preto leve, até os pés, me faz pensar se não sente frio, mas a pele está quente, na verdade está fervendo.

Ela se mantém próxima a mim, ofegante, apoiando o corpo sobre mim.

- Jamais me toque sem que eu esteja no controle, Caedes.

Congelo, como ela sabe quem sou?

O que ela é?

Por que ela causa esse efeito sobre meu corpo?
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*Para entender melhor as habilidades é recomendado ler o capítulo 30: Guia de Habilidades de Samael Imortal

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