Capítulo 10: Na tua Mira

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- Mas que merda é essa?

Ainda seguro em minhas mãos na cabeça decepada do Thomas, por entre meus dedos o sangue escorre grosso e pútrido.

- Saito?

Minha voz soa mais rouca e animalesca do que queria.

Acabo por me lembrar que ainda estou meio transformado.

- Quem é esse aí? - Ela se aproxima.

Saito carrega a Katana embainhada na cintura e a Wakizashi pendurada nas costas.

As roupas típicas de Samurai, Hakama, uma armadura leve sobre os ombros e um capacete de metal.

Não respondo nada.

- Vix-Kun, está com medo? Não me diga que esse aí é o Thomas, aquele louco dos experimentos?

Me surpreendo.

Como me reconheceu assim?

Como ela conhece esse Scariot nojento?

- Como você sabe quem é?

- Então é ele mesmo? Merda! Eu estava procurando por ele faz mais de um ano e você o pegou primeiro! Esse monstro deveria morrer pela minha espada!

Seus olhos transbordam de raiva.

Sinto Caedes recuar e meu corpo vai voltando ao normal

Fico ali, totalmente nú, sem entender nada.

- Você pode me explicar o que está acontecendo aqui?

- Sim, nos encontramos aqui dentro de uma hora, é tempo suficiente para que arranje umas roupas não é?

Ela anda até a parte mais escura da rua, se vira para mim e lança um olhar sério e penetrante de cima a baixo, como se estivesse analisando.

Quase que desmancho todo.

E assim foi como combinado, uma hora depois a bela jovem Iki Saito apareceu ali, com a sua Yukata e cabelo preso com um prendedor.

- Vamos caminhar?

Ela segura em meu antebraço, suas mãos frias e calejadas apertam minha pele.

A noite é escura e quente, aqui no Japão as cidades nunca dormem, é sempre movimentado.

O som de nossos passos são abafados pelos veículos e pessoas que transitam para todos os lados.

- Então... Do início, pequena Saito. - Digo.

- Sim... Vamos do início...

Seu rosto tem expressão séria, a boca sem curvatura para aquele sorriso lindo que ela tem, os olhos parecem vagar em uma memória antiga e dolorosa.

- Quando tinha 6 anos de idade, um homem chamado Marcos foi acolhido em nossa casa pelo nosso pai, ele estava muito doente, disse que era câncer e não adiantaria que fosse até o hospital, minha mãe e irmã mais velha cuidaram dele por meses.

Ela pausa.

É como se a voz não saísse de sua garganta.

Sinto seus dedos flexionando tensa em meu braço.

Ela cerra o maxilar e continua:

- Acontece que o filho da puta era da Inquisição! Ele chamou um bando de Scariots nojentos e levou minha mãe e irmã, eu consegui me esconder embaixo do assoalho e não fui levada.

Mais uma pausa.

Parece segurar o choro.

- Meu pai se culpou por tudo e encontrei ele enforcado em seu quarto uma semana depois, as autoridades não encontraram ninguém relacionado, pensavam ser algum tipo de culto satânico. Acontece que eu treinei durante anos e rastreei aquele idiota do Thomas, ele tinha um laboratório aqui no Japão aonde fazia experimentos com humanos, foi lá onde encontrei minha mãe, ela já estava irreconhecível, então cortei sua garganta assim que a vi.

- Puta merda!

Fico tenso.

- E tem mais, depois disso resolvi viver minha vida e assumi esse castelo, me casei e tive dois filhos gêmeos, Yuki e Yato.

A tensão aumenta com o pronunciar de suas palavras.

- Três anos atrás, quando voltei para casa não encontrei mais meu marido e filhos, minha casa estava destruída, eles foram levados por algum desgraçado da Inquisição.

Ela engole em seco, segurando as lágrimas que insistem em saltar para fora das pálpebras.

- Eu retomei a investigação e consegui alguns registros estranhos sobre um tal de Samael Vix, um ex- Scariot procurado e uma moça chamada Lauryel, foi por isso que te encontrei naquele dia no beco, eu estava te rastreando, não foi coincidência.

Ela para de caminhar, seu olhar perfurante atravessa meu rosto, é como se pudesse ver dentro de mim, sinto Caedes reverberar no fundo do meu corpo.

- Assim que encontrei você eu já sabia quem era e o que era, na verdade estava disposta a assumir uma aliança temporária para caçar esses desgraçados, Vix-Kun, já se passou alguns anos desde que perdi tudo, e mesmo assim não deixo de pensar nem um instante na minha família, mesmo quando quase nos beijamos, lembrei do meu marido, ele era um samurai também, meus filhos tinham quatro anos de idade, eu não fui capaz de encontrar eles, sinto que vou quebrar em pedaços se não fizer nada...

Ela desaba, solta soluços atrás de soluços em meio ao choro, parece uma criança pequena.

Meu coração corrói ao ver minha amada assim, não quero que ela sofra nunca mais.

Em um movimento desesperado, a abraço.

Minhas mãos envolvem aquele corpo pequeno e afago suas lágrimas na minha roupa.

- Ele também apanhava como eu apanhei de você?

Solta um riso curto e abafado.

- Sim.

Continua a soluçar.

- Eu vou te ajudar, mas por favor, não chore mais, pequena Saito.

- Certo.

Ela se afasta, esfrega as costas das mãos sobre os olhos molhados.

- Muito obrigado, Vix-Kun, não tenho como te agradecer!

Faz uma saudação respeitosa, seus olhos, mesmo que inchados, transmitem uma sensação de alívio, acho que ela estava segurando tudo dentro de si.

- Certo, me conte tudo o que sabe sobre esse Inquisidor nojento que levou sua família!

Seu olhar choroso de repente dá lugar a uma determinação que jamais tinha visto antes em qualquer um.

- Sim!

Ela assente com a cabeça.

- Vamos acabar com esses desgraçados!

Caedes treme dentro de mim de excitação, sinto a sede de sangue que emerge de minhas entranhas, a parte da alma já corrompida pelo demônio lobo também reverbera em meus lábios formando um sorriso assustador de assassino.

Esse foi eu ou Caedes?

Já não consigo mais distinguir a vontade de ambos, eu ou o demônio.

Samael ImortalWhere stories live. Discover now