Capítulo 2: Erro Fatal

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Os dias vão passando rápido, e preciso ajudar esse povo a se libertar das garras do demônio, preciso ajudar, é por isso que estou nesse ramo.

A cada dia vou ficando mais tenso e mais longe da verdade, não descubro nada, mas as acusações continuam a aumentar.

Preciso ir para a floresta, preciso observar os sinais, sei que as bruxas caçam animais para sacrificá-los em suas seitas diabólicas. Deus! Como eu odeio essas mulheres!

Juro por ti, Senhor, que matarei todas essas bruxas!

- Vamos ir para a floresta, sabe que é preciso, Samael. - Lauryel está bem na minha frente, com os cabelos em uma trança comprida e bem presa.

- Está tudo bem? - Ela pergunta me tirando de meus devaneios rotineiros, quando a vejo, não consigo evitar.

- Está! - Respondo quase que na mesma hora. - Vamos sim, agora mesmo.

Olho pela janela a neve cair se amontoando em frente ao prédio, moradores entrouxados com roupas de couro.

Teremos de encarar o frio desse lugar, e sem ter a certeza de encontrar os rastros das bruxas, a neve cai grossa e espessa, fazendo quase um metro entre a superfície e o chão de terra batido, pode ter qualquer coisa escondida entre os grãos frios.

Visto meu cachecol e meu sobretudo por cima das roupas, nos pés, botas de couro e na cintura, uma adaga bem afiada e abençoada pelo Papa.

Lauryel me espera na porta impaciente, como se eu demorasse muito a sair.

Seguimos rumo a floresta e passando pela cidade, muitas carroças sendo puxadas por animais esgotados e crianças na rua pedindo esmolas.

Pobres crianças, vou tirar todos da miséria, vou acabar com essas malditas bruxas e assim sua terra poderá prosperar.

- Senhor... - Uma criança de aparência desnutrida e de no máximo 6 anos puxa a barra do meu casaco. - Tem um trocado, senhor? Sou órfão! - O olho por alguns instantes.

Me sinto triste e pesaroso por essa criança. Pego em meu bolso meus últimos trocados, duas moedas de prata, estico a mão e entrego em suas frágeis e pequenas mãozinhas.

A criança abre um sorriso de orelha a orelha, se vira de costas e começa a andar em direção a uma senhora que caminha pela rua.

- Trouxa! - A criança murmura e dá gargalhadas altas quando se afasta.

- Pare com essas idiotices, Samael! Você foi enganado mais uma vez! Olha lá a mãe dele! - Lauryel dá risada sem parar e segura a barriga enquanto faz caretas rindo.

Fico quieto, minha bondade me fez de trouxa outra vez, mas não consigo evitar ajudar os que necessitam.

Abaixo a cabeça olhando meus pés enterrados na neve.

- Vamos logo... - Falo cabisbaixo.

Lauryel se recompõe e me segue até a floresta.

Entre as árvores há pouca neve acumulada, porém, o frio é mais intenso e o vento é mais congelante quanto na cidade.

Os galhos secos cobrem o céu fazendo a floresta escura, úmida e aterrorizante.

Perfeita para uma bruxa. - penso.

Olho ao redor procurando sangue, pegadas, animais mortos ou qualquer outra coisa.

Lauryel faz o mesmo, caminha alguns metros na minha frente, olha para os lados e dá um grito abafado, olho para ela com curiosidade.

- Venha ver isso, Samael! - Ela coloca a mão no rosto tampando o nariz e a boca.

Sigo calmo e com atenção.

Olho para o chão e observo cada detalhe do animal estripado bem na minha frente. Apesar do frio, os vermes estão a comer a carne pútrida de um bode e o mau cheiro chega até mim pela brisa, tento segurar o vômito que sobe pela goela.

Ao redor do animal, velas vermelhas e pretas enterradas pela neve.

Espantei a camada de gelo ao redor doas velas e linhas vermelhas, possivelmente feitas com sangue, se espalhavam por mais ou menos um metro a sua volta, sendo o animal o centro da marcação.

Me levantei para fitar as linhas grossas e concluí que formam um pentagrama invertido com o bode bem no meio.

- Com certeza é uma oferenda ao diabo. - Lauryel fala ainda com a mão no rosto.

- Aqui está a prova, aquelas garotas estão mesmo sendo atazanadas por essas bru...

Não termino a frase, um barulho de galho se partindo atrás de nós chama minha atenção.

Olho rápido ao redor, atento a tudo, a floresta está escura e densa, mas não me impede de ver alguém correr para o lado contrário.

- Pare já!

Berro, mas a silhueta de um corpo se torna um vulto perante meus olhos.

Pare!

Começo a seguir aquela pessoa estranha.

- Samael! - Ouço Lauryel gritar distante.

- Pare!

De forma súbita o indivíduo para bem na minha frente, a apenas alguns metros de mim.

Ele está de costas, usa uma capa de pele de lobo que cobre todo seu corpo e um capuz gigante com a face do animal em sua cabeça.

Uma risada maléfica percorre o espaço, observo o o espaço ao redor, as árvores sobem altas e grossas, formando uma espécie de parede natural com uma clareira no meio, apenas alguns centímetros entre um tronco e outro que permite a passagem.

A neve cai mais grossa e contínua agora, o frio me faz arrepiar a espinha.

A pessoa se volta para mim, ainda de cabeça baixa, os olhos do lobo morto em sua cabeça me encaram com uma intensidade sombria.

Estremeço com a face daquela fera morta.

- Eu posso ajudar, o que faz aqui na floresta? - Pergunto esperançoso.

Pude ver um sorriso malicioso se formar em seus lábios carnudos, então ele levanta a cabeça bem devagar, e revela uma linda jovem de cabelos ruivos compridos com belas sardas alaranjadas e olhos azuis como o mar, por um momento fico encantado com aquela jovem moça.

- Precisa de ajuda? - Pergunto mais uma vez.

Ela começa a gargalhar cada vez mais alto, três mulheres nuas e velhas, se juntam a ela gargalhando em unissono.

A garota ruiva tira a pele de seu corpo e fica nua também, fico sem reação, adimiro a bela jovem, e ignoro as outras mulheres mais velhas e gordas que correm ao nosso redor.

Sinto uma batida forte na cabeça, elas me acertaram com um tronco.

Despenco ao chão, vou fechando os olhos aos poucos, entrando em uma escuridão sem fim.

Samael ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora