Capítulo 23: Recordações

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Depois de toda a tensão dos primeiros toques, decidimos entrar na hidromassagem, afinal era o plano inicial.

- Vamos ligar a televisão, talvez um filme?

Iki sai da água quente e liga o aparelho, começa a procurar algo interessante trocando os canais.

- Espera! Volta um canal, Iki.

Caedes percebe algo estranho, ela volta para trás e para em um canal de jornalismo, estão transmitindo notícias sobre o mundo.

" Cerca de três dias atrás essa nuvem negra se expande sobre diversas cidades do mundo, trazendo essa doença estranha, que causa deformidades pelo corpo, de preferência fiquem em casa!"

A jornalista informa e várias imagens de pessoas deformadas, entrevadas em camas, doentes, vomitando sangue aparecem no programa para assustar as pessoas.

- Três dias atrás? Será que...

- Puta merda!

Completo, agora se encaixa.

- Aquela merda não era uma bomba, era um temporizador, pra libertar essa merda no mundo!

Caedes se levanta furioso.

- É nossa culpa essas pessoas sofrerem!

- Calma, Caedes, não tinha como saber o que ia acontecer!

- Tem pessoas no mundo inteiro morrendo, como eu vou ficar calmo?

- Se a nuvem foi liberado pela Inquisição mesmo, eles devem ter algum plano pra manipular a população.

Saito compartilha seus pensamentos.

- Será que esse pesadelo nunca vai ter fim?

Caedes se encolhe, segura a cabeça com as mãos, é claro que ele está abalado, enquanto estava aqui se divertindo com a gente as pessoas do resto do mundo estavam sofrendo com a doença da nuvem.

Me abaixo na frente dele, espero ver aquele olhar de predador que ele possui, mas preciso me segurar pra não cambalear para trás quando vejo seu rosto.

Os  olhos dele estão cheio de dor, perdido, assustado, nunca o vi assim, como se fosse a presa desta vez, ele está com medo? O meu Caedes está com medo?

Iki vem até ao meu lado também, ela sente o mesmo que eu, não vamos perder Caedes agora que ele está aqui em carne e osso.

- Vamos concertar isso, com certeza! Agora somos três jogadores, Caedes, você não está mais sozinho.

Ela fala animada, e por mais que eu sinta que algo está errado eu concordo com ela, somos três agora, nosso poder demoníaco ficou muito maior agora, a Inquisição não deve ter medo de mim e do Caedes, é com a Iki que eles devem se preocupar, o porte duplo de espadas dela é impecável.

- Sim!

Concordo, mas antes que possa falar qualquer outra coisa vejo Iki estremecer o corpo todo, ela se levanta meia tonta, tenta se segurar sem sucesso e cai no piso da sala.

- Iki!

Caedes grita atrás de mim, ele esquece tudo que está acontecendo e corre até o corpo gelado dela, se contorcendo no chão.

- Iki!

Grito também, preocupado com ela, os olhos ficam brancos como se estivesse possuída, a pele arrepiada e pálida, um líquido saindo da boca.

- É uma convulsão, será alguma doença?

- Não, são as memórias das vidas passadas voltando.

Lembro exatamente de como aconteceu da última vez, foi assim mesmo, aterrorizante para mim, mas não demorou tanto pra acontecer quanto foi com ela, e o pior veio ainda depois, com o tiro na própria cabeça.

Me sinto horrível, olho pra Caedes e sei que ele também se sente assim, é culpa nossa ela estar nessa situação, se tivéssemos ficado longe dela, agora ela está recordando todas as vidas e mortes de vidas passadas que ela teve, e não sabemos como ela vai reagir depois disso.

Coloco ela deitada de lado e apoio a cabeça na minha perna, ela parou de convulsionar e está apenas desacordada agora.

Caedes não sai do nosso lado, observa com preocupação.

- Sa... Sa...

Iki murmura.

- Samael... Caedes...

Ela acorda depois de mais ou menos uma hora, não saímos de perto dela.

- Você está bem, Iki?

- Não sei ainda, é uma sensação estranha.

Nossos olhares se encontram.

- Eu vi a Lauryel, não... Eu estava lá quando tudo aconteceu, foi horrível...

Caedes tentar tocar a perna, mas ela recolhe para perto de mim.

Eu não a culpo, ela o viu comandando meu corpo, matando todas aquelas bruxas nojentas, inclusive ela junto na caverna.

- Sinto muito.

Ele se afasta de nós dois.

- Caedes, eu não estou com medo de você agora, só preciso de tempo para colocar a cabeça em ordem, o que eu vi por último foi o dia que a Lauryel morreu, eu ainda estou tremendo sentindo a angustia que ela tinha no minuto final.

Iki cerra os dentes, aperta o punho perto do corpo, ela está perturbada demais.

- Eu ainda posso sentir a parte aonde foi cortado na minha barriga, as tripas...

Ela continua e para hesitante nas suas palavras.

- Está tudo bem, Caedes entende o que está acontecendo, não é?

Tento acalmar ambos.

- Sim, isso mesmo.

Ele se vira para encarar a vista da cidade pela enorme janela de vidro, não consigo ver a expressão do rosto dele, ele está tão tenso quanto nós dois estamos aqui deste lado do quarto.

- Vamos dormir um pouco, amanhã vamos pegar um vôo para o Japão, Caedes.

- Sim.

Damos um banho rápido na nossa garota e nos deitamos na cama para descansar.

Adormeço em segundos, Saito já estava cochilando quando larguei ela no meio de nós dois.

Acordo com o movimento de alguém na cama, abro os olhos, mas só vejo o escuro do quarto, me movo para olhar do outro lado da cama e Iki está adormecida, mas Caedes não está lá, entro em desespero, me levanto olhando em volta atordoado.

- Samael.

Vejo o olhar de predador dele no canto escuro do quarto, posso sentir o poder demoníaco exalando do corpo até mim.

A voz rouca de recém acordado me arrepia, é sexy e convidativo para mim.

- O que está fazendo, meu Caedes?

Posso ver o sorriso pelas presas que reluzem em meio ao escuro, aliás está transformado por quê?

- Cuide da Iki por mim, viva bem, por mim.

- Do que você está falando?

Me aproximo dele, é uma criatura assustadora encostado no canto da parede.

Ele não se move, me aproximo mais, e o agarro pela cintura, ele vai voltando a forma humana.

Caedes me puxa colado ao seu corpo e me beija, a língua pede passagem na minha boca e eu deixo entrar, sinto o pau roçando na minha cintura, quase implorando para que eu o toque.

Vou levando minha mão até a base do pau, em um movimento brusco ele me empurra para trás, desfazendo nosso contato.

- Eu vou partir, Samael, não me siga!

- O que?

Ele volta para a forma demoníaca de lobo e sai pela varanda.

Se eu soubesse que essa seria a última vez em que estivesse com ele, jamais teria deixado partir.

Samael ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora