Capítulo 25: Reencontro

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- Consegue sentir ele?

Iki está na minha frente, vestida com aquela roupa estranha de Samurai, não reclamo, agora é ela que me protege, eu sou um inútil sem o poder demoníaco do Caedes.

Seguro perto do peito as duas adagas abençoadas que peguei de um Scariot fudido que matamos a alguns meses, eu precisei me adaptar, agora que não consigo usar nada de poder demoníaco, isso inclui o poder da cura.

- Não fique tão perto dessas coisas, Sami!

Iki me repreende, posso ver a fumaça saindo das adagas com o contato na minha pele, minhas mãos já estão em carne viva, enfaixadas com ataduras, mas assim mesmo eu sinto queimar minha pele, é uma adaga abençoada contra minha pele embebida de sangue de demônio.

- Está tudo bem, vou tentar localizar ele!

Estamos em um beco nojento da cidade, latas de lixo, animais abandonados, cheiro ruim... Tudo combina com o meu estado deplorável.

Abaixo a cabeça, fecho os olhos, me concentro, sinto as presenças ao meu redor, o cheiro dele está tão perto, tão perto que parece aqui.

- Merda!

- O que estão fazendo?

Caedes está aqui, bem na minha frente, com um sobretudo preto até os pés, sapatos e roupa social, está elegante demais, aquele cabelo branco platinado ainda o destaca de todos ao seu redor, e ele está mais forte, o corpo mais definido ainda.

- Caedes! Viemos te encontrar, sentimos tua falta!

Iki não se segura, ela corre e o abraça sem se importar com mais nada.

Eu fico ali no chão, atirado em meio ao lixo, parecendo um perdedor.

A expressão dele é de repugno, olhar de predador, agora me julga como nunca antes fez.

- Por que você está usando uma arma de um Scariot da Inquisição?

A voz rouca e imponente do Caedes me atinge em cheio, é como se tivesse levado um soco no estômago e não consigo sugar o ar para os pulmões.

Não respondo, fico em silêncio com a minha vergonha.

- Ele não teve escolha! Você deixou a gente sozinhos!

Iki aponta para ele.

- Você sabia que ele fica doente sempre? E também não consegue se transformar porque você está longe demais?!

O tom de voz dela é alto e áspero, posso ouvir enquanto ele cerra os dentes na boca e segura o punho perto do corpo.

- Sim, eu imagino, ainda bem que não me afetou em nada a distância.

- O que? Tá falando sério?

Ela reclama.

- Vocês devem ir embora, e se livre dessas porcarias, tem Inquisidores demais na cidade.

Caedes olha em volta desconfiado, para alguns segundos analisando minhas mãos apodrecendo pelo toque das adagas, e depois salta para longe de nós, frio e calculista, um verdadeiro predador.

- Ele mudou, Sami.

Iki me ajuda a levantar do chão sujo.

- Não... Ele sempre foi assim.

Minha voz sai cansada, quase não me reconheço.

- Não com a gente.

Ela completa.

Sinto minhas mãos trêmulas, meu coração dispara tão forte que meu peito dói, começo a suar, puxo o ar mas não alcança meus pulmões, as lágrimas escorrem pelos meus olhos.
A cada batimento cardíaco é uma agonia, luto com a dor, ofegante. É um ataque de pânico.

Caio com a mão sobre o peito.

- Samael!

Iki me observar cair, seus olhos arregalados em medo e angústia.

Começo a perceber uma movimentação estranha ao nosso redor, o ar fica pesado e a sensação de alguém nos observando me incomoda já faz uns minutos, não sei dizer se foi o causador do ataque de pânico.

- Iki...

Não posso terminar a frase, algo com asas e chifres salta para cima dela, não tem tempo para reagir, a Katana e a Wakizashi estão embainhadas na cintura, ela segura a mordida do animal com o antebraço, a mandíbula aperta o osso com força, o barulho do braço se partindo me atinge, o cheiro do sangue escorrendo pela roupa dela e o som gutural de dor que ela emite me faz agir e fazer o que eu deveria já ter feito.

Pego as adagas e corro até eles, seguro as asas da besta e corto forte e rápido, a lâmina não hesita, o animal grita de raiva e se vira contra mim, a face do animal é de um cachorro, corpo de morcego, é um mutante, certamente um dos experimentos horrendos da Inquisição.

Ele pressiona os dentes para frente e tenta me morder, desvio com agilidade para baixo e levanto as adagas em direção ao pescoço dele, em formato de cruz eu seguro contra a jugular e em um golpe fácil e rápido corto a cabeça fora, derramando o sangue fedorento sobre meu rosto e corpo.

Minha visão fica turva pelos respingos, o cheiro característico confirma minha teoria de que a besta era um experimento, nesta etapa não posso excluir nada, tudo é possível.

- Sami!

Iki corre até mim, chuta a carcaça da besta para longe e apoia meu corpo fraco.

Sinto que estou perdendo as forças, vou desmaiar e acontece o que eu previa.

Apago.

Sempre que me esforço muito, como fiz agora, meu corpo reage com exaustão, desmaio por algumas horas até recuperar a saúde, deve ser a distância entre mim e Caedes, já que ressoamos, estamos conectados como ele disse, mas acho que isso se aplica apenas a mim, ele está em perfeita saúde.

Depois de um tempo desmaiado acordo.

Estou em um quarto desconhecido e Iki ao meu lado, com a cabeça apoiada no meu braço, dormindo.

Observo ao meu redor, estamos sozinhos.

Iki me carregou até aqui sozinha?

Ela é mesmo uma grande mulher, vou tentar cuidar melhor dela.

Isso me lembra o braço mordido dela.

Pego o braço envolto de ataduras, eu deixei outro ferir ela.

Me sinto um lixo, sem motivo nenhum pra viver, tudo o que faço é ferir as pessoas ao meu redor, eu feri Caedes, por isso ele partiu, eu estou ferindo a Iki e ela pode partir logo também e vou ficar sozinho mais uma vez, e o pior, desta vez sem nem a presença do lobo dentro de mim.

- Estou bem, Sami.

Ela me encara.

- Talvez devêssemos ir embora, minha Iki.

- Nem pensar! Olha o que eu fiz!

Ela me mostra um ponto vermelho na tela do celular dela.

O ponto se move muito rápido para ser de um humano.

- Um rastreador?

Pergunto incrédulo.

- Mas é claro! Eu jamais iria perder ele de vista de novo.

- Você sabe que ele vai descobrir não é?

- Quando descobrir já será tarde para fugir da gente!

Ela solta uma risada maléfica, do tipo de um vilão de filme infantil.

Samael ImortalWhere stories live. Discover now