Capítulo 3: O Ritual

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- Acorde meu querido...

Uma voz feminina me chama, sinto alguns tabefes no meu rosto para despertar.

Minha cabeça lateja junto com minha pulsação, meu corpo dói e meus olhos ardem como se estivesse pegando fogo.

Na minha frente, a apenas alguns centímetros do meu rosto, uma mulher de aparência de uns 60 anos, muito acabada, me encara atenta.

- Acordou meu amor! - Seus cabelos desgrenhados e sujos me enojam. - Bem na hora da nossa festa! - Ela me dá um beijinho e sorri.

Seus dentes são podres e sua boca cheira a carniça, seu cabelo cheio de óleo e o rosto todo gorduroso.

Mas está de roupa, e isso me faz agradecer.

Ela se afasta.

Olho para o lado procurando uma saída, o local é uma caverna, iluminada por lampiões, não consigo ver nada além dessa galeria em meio aos pedregulhos.

Estou deitado, amarrado com correntes nos pés e mãos e ao meu redor estão posicionadas velas já acesas.

Alguns segundos se passam e surgem várias mulheres, algumas velhas demais e outras nem tanto.

A mesma que me acordou, segura um livro grosso e grande, com uma capa estranha que não consigo ver direito e ao seu lado, a garota ruiva segura minha adaga abençoada e uma taça de prata.

- Todas posicionadas!

A velha que me acordou grita autoritária.

"O Satanae!"

A velha começa a ler o livro.

"Invoco virginis corpus habere!"

Todas falam juntas agora e apontam para mim.

"O Satanae invoco virginis corpus habere!"

Repetem todas juntas fazendo soar um cântico sobrenatural e a garota ruiva começa a se despir.

"Accipe quod offerimus, et nos gratias longa vita!"

Duas outras mulheres arrancam minhas calças e minha camiseta, desvio o olhar para o teto, mas elas seguram meu rosto para o lado aonde a ruiva está e puxam minhas pálpebras para que não possa fechar os olhos.

"O Satanae invoco virginis corpus habere!
Accipe quod offerimus, et nos gratias longa vita!"

A garota nua, começa a dançar sensual bem na minha frente, suas mãos alisam o próprio corpo, tento me conter, ela morde o lábio inferior e solta gemidos baixos, já estou muito excitado e ela continua se tocando.

- Agora!

Uma outra mulher grita e todas começam a andar ao meu redor de mãos dadas, menos a que está lendo o livro.

A garota ruiva sobe sobre mim com as pernas abertas e de olhos fechados.

"O Satanae invoco virginis corpus habere!
Accipe quod offerimus, et nos gratias longa vita!" - Cantam.

Percebo o que está prestes a acontecer e começo a me debater, mas as mulheres que seguravam meu rosto, agora seguram meu corpo rente a mesa fria.

A garota ruiva introduz meu pênis na própria vagina e começa a cavalgar soltando gemidos altos.

- Não! Não! Não! - Grito sem parar, penso no que acarretaria em minha expulsão da Inquisição e da Ordem dos Scariots.

A garota aumenta o ritmo e mesmo sendo prazeroso eu sinto apenas nojo.

Uma mulher que segura meu corpo pega minha adaga e faz um corte grotesco entre minhas costelas, arfo de dor.

Ela encara o sangue que pinga na taça de prata lambendo os lábios.

Minha visão fica turva e escurece rápido, me sinto imóvel dentro de meu próprio corpo, minhas mãos vão até a cintura da garota, a pressionando com força contra mim, mas não sou eu que faço isso, é como se outro estivesse dentro de mim enquanto estou dentro da ruiva.

"O Satanae invoco virginis corpus ha..."

- Samael!

Ouço a voz da Luryel de longe.

Pelo canto do olho esquerdo vejo uma faca voar no peito da mulher que lia o livro, e outra ao seu lado é atingida bem no meio do rosto, caindo dura no chão.

Mas ainda não consigo me mover e nem parar de transar com a garota, por dentro estou gritando por liberdade mas meu corpo não responde aos meus comandos, minha visão escurece totalmente e sou preso em um local de breu denso com uma neblina forte, um lugar sombrio dentro de minha própria consciência.

Olho ao redor, me encolho em um canto qualquer, e a alguns metros olhos animalescos azuis me encaram raivosos.

- Que... Quem é você? - Gaguejo. - Onde estou? - A voz sai trêmula e fraca, pigarro limpando a garganta.

Dentro da escuridão posso ver o animal rir mostrando seus dentes enormes e afiados, mas seu corpo parece se misturar com o ambiente.

- Está no inferno! - Ele rosna.

- Não é verdade! - Me levanto indignado e lágrimas tendem a rolar.

- Então olhe. - Ele some entre a escuridão.

Minha visão vai voltando ao normal, vou abrindo os olhos como quem acorda de um sono profundo.

- Sa... Samael... - Uma voz rouca me chama.

Estou de pé, olho ao redor e o terror toma conta de mim, um arrepio atinge minha espinha e paralizo no mesmo instante que vejo os corpos das mulheres todas mutiladas, devoradas pela metade e com os órgãos expostos, tripas e miolos esmagados, sangue respingado por todos os lados.

- Meu Deus! - Grito.

Uma sensação aterradora cerca minha alma.

- Sa... - Vejo Lauryel atirada no chão a alguns metros de mim.

Corro até ela, coloco sua cabeça no meu colo e a observo com lágrimas nos olhos.

Ela está com um enorme buraco em sua barriga, não sei como ela não morreu ainda.

Uma pontada no meu coração, como se alguém estivesse apertando meu órgão, a dor de pensar que não vou nunca mais ver minha amada.

- Eu... - Começa a falar, mas tosse sangue pelo esforço.

- Shhh... - Lágrimas rolam pelo meu rosto encharcando os cabelos dela, agora soltos pela luta que travou.

Ah, como eu desejava vê-los e tocá-los, mas não assim, não dessa forma, maldito dia que fui desejar essa mulher!

- Eu te amo. - Sua voz sai em um sussurro.

Ela fecha os olhos pela última vez.

- Lauryel! - Chacoalho seu corpo sem vida em minhas mãos. - Lauryel! - Começo a soluçar, quase me afogo com a água que jorra pelos meus olhos. - Não! - Apalpo seu cabelo macio, de cor escuro e molhado pelo sangue e pelo meu choro. - Eu te amo! - Berro cada vez mais alto. - Volta para mim! - Minha visão embaçada pelo choro. - Lauryel! Eu te amo! - Grito.

Só então percebo, aquele animal horrível a matou!

- Não!!! - Grito para o alto ainda chorando com ela em meus braços.

Ao nosso redor uma poça de sangue densa e quente.

- Eu ainda estou aqui, junto de você Samael! - Uma voz animalesca sai de minha boca e eu arregalo os olhos.

Um calafrio passa pelo meu corpo e sinto um sorriso malicioso se formar em meus lábios contra minha própria vontade, estou tremendo de medo.

O que é que está acontecendo?

Samael ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora