A volta da que não foi!

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— Filho da puta... — Eva agora chorava de verdade. De raiva, de angústia, de dor. Estava devastada, quebrada e machucada, por dentro e por fora também.

Levantou, indo até o espelho redondo da mesinha e percebendo as marcas no rosto, além da vermelhidão no quadril que definitivamente ficaria roxa em pouco tempo. Limpou o nariz e olhou para os pedaços da carta e da foto das duas. Sabia que estava bom demais para ser real, mas tinha que admitir: esperava ter que ir embora para outra cidade talvez, mas não ter que terminar tudo com Iara antes mesmo disso.

Doía não ter apoio. Ninguém nessa casa parou aquele homem, nunca. Ninguém o impediu de machucá-la como tantas vezes já havia feito, ainda que não fisicamente. Ela não queria ter medo, mas... como não teria? Michel era poderoso, maior e mais inteligente que ela.

Não sabia o que tinha feito para merecer ser odiada pelo próprio pai. Não fazia sentido, ele não odiava os filhos. Mas ela... algum dia, tudo o que ela fazia começou a ser errado pra ele. Insuficiente, insignificante, ruim.

Que valor tinha Eva, se nem a própria família gostava dela? Por que alguém gostaria?

— Evinha? — Rafaela entrou no quarto, não sabia quanto tempo depois. Eva estava de frente ao espelho do banheiro, recém saída do banho. Nua, observava a si, tentando ver onde estava o maior erro.

Na verdade, via vários defeitos, um milhão de coisas que poderia mudar, mas não exatamente odiava nada tão específico que justificasse aquilo. O que realmente detestava eram aqueles pensamentos ruins, aqueles que havia lutado tanto para se livrar. Odiava que eles voltassem, interferissem em seu humor e nas suas relações. Odiava que se sentia culpada por tanta coisa. Era culpa dela mesmo? Às vezes, sentia que não, mas parecia ser.

— Eva.

— Oi, Rafa. — olhou a irmã na porta do banheiro.

— Trouxe uma coisa pra você comer...

— Obrigada. Pode deixar aí que eu como.

— Não, eu vim ficar com você também. Sei que não está bem.

— Ah. Vai ficar tudo bem, não se preocupe.

— Ele... mandou eu vir ver se você tinha limpado o quarto, mas eu não entendi o porquê.

— Ele rasgou minha carta pra Iara. E a foto que estava junto dela. Eu catei todos os pedaços e... não tenho coragem de jogar fora. Devo usar pra alguma coisa. Talvez eu faça um painel, ou use pra pintar, ou faça uma colagem, sei lá, eu não quero me desfazer dessas memórias.

— Você é tão talentosa, Eva...

— Ei, pelo menos ele não achou nenhuma foto dela pelada, né? Já que eu tenho algumas até muito boas... — deu de ombros, tentando melhorar o humor.

— Ele abriu seu celular, foi?

— Não, Deus é mais. Fiz fotos nossas na câmera também. Mais dela do que nossas, mas também nossas. Estão guardadas. Acho que eu estaria morta de verdade se ele achasse alguma. — riu, mas sem muita graça. A irmã não riu.

Eva voltou ao quarto e vestiu-se, deitando na cama. Rafaela foi abraçá-la.

— Foi horrível...

— Não foi ideal, Rafa. Mas pode ficar ainda pior, então não vou brincar mais. É sério, agora.

— Como assim, brincar?

— Vou embora com ele. — deu de ombros. — Não tenho escolha e não tenho nada me prendendo aqui. Se a universidade não é um motivo pra seu pai, o que poderia ser?

DifudêWo Geschichten leben. Entdecke jetzt