Difudê

Agora essa pirata vai ficar romântica.

Iara levantou aquela manhã ainda um pouco angustiada, mas com uma ansiedade boa. Queria muito se apresentar logo, na festa. Já Eva só levantou várias horas mais tarde, quando decidiu que não era mais tão maravilhoso ficar em seus sonhos com a menina que gostava.

A casa já estava numa agonia só quando Iara saiu do banho, encontrando Dona Sônia na cozinha e Seu Xande batendo papo com Isabella, todos prontos pra tomar café da manhã na mesa como se fosse domingo. Feriados eram assim.

Quando Eva saiu do quarto, todos já estavam cuidando das próprias vidas, mas Rodrigo decidiu fazer uma vitamina pra ela depois de ver a irmã mais nova a envolver num abraço e acariciar seu rostinho inchado e ainda levemente machucado. Ela achava aqueles momentos com os irmãos uma coisa muito boa daquela família completamente quebrada. Os mais novos sempre estavam ali pra ela, do jeito deles.

Pouco depois do café em família, Iara pensou em falar com Eva outra vez, descobrindo que tinham mensagens dela.

Imediatamente pensou, pelo horário das mensagens, que algo devia estar errado com ela ou na casa dela. Mas nada demais nos textos, e ela confirmava presença na festa.

— Ai, ótimo, tudo o que eu precisava.

— O que? — perguntou Isabella.

— Eva vai na festa hoje. Me disse aqui.

— Finalmente ela confirmou, já tava ficando nervosa com você. — Iara riu. — Vocês tão bem?

— Sim, eu acho... sim, estamos sim. Não aconteceu nada, então sim.

— E por que você tá assim? Percebi desde ontem... é porque ela não veio?

— Não por não ter vindo, mas não me disse nada... eu não sei, fiquei com a sensação de que algo estava errado quando ela não me respondeu se chegou em casa bem. Não por isso, mas...

— Clara, às vezes eu acho que você exagera demais, real. Porra...

— Isabella, eu não tô dando chilique nem ficando insegura, é uma sensação que eu tive. Vou fazer o que se é o que eu tô sentindo? Você é muito grossa também. Tudo pra você é simples. — a irmã mais nova deu de ombros.

— Não deveria ser? — Iara só deu um muxoxo.

— A vida não é assim não, Isabella. — é claro que a adolescente tinha certeza de que estava certa, e Iara apenas voltou a atenção ao celular, pra ouvir o áudio de Eva.

"Bom dia Iara, ahn... eu realmente espero que esteja dormindo, pela hora que terminou a festa, mas eu quis mandar um áudio porque... não sei, mas achei que devesse. Pra você ouvir minha voz quando acordar. Espero que tenha se divertido, porque você merece tudo de melhor. Obrigada por permitir que eu fizesse parte disso um pouco... enfim, beijo, neguinha!"

Ouviu uma vez. Duas. Três.

— Depois você vem pra cá falar que eu sou maluca... aconteceu alguma coisa com Eva.

— O que aconteceu?

— Eu não sei, mas a voz dela tá diferente. Tá triste. Ela já digitou estranha e agora tá falando estranha. Alguma coisa tá rolando aí.

— Ai Clara, o que estaria rolando? Ela sabendo que você botou Mariana no colo ontem?

— Eu botei Mariana aonde??

— Eu vi Mariana no seu colo ontem, Clara. Não se faça de maluca não, que eu sei que você não é.

— Ah, foi. Mas não foi nada demais, a gente tava conversando. Não ficamos. E nem tem como a Eva saber disso. E não faz sentido ser esse o problema.