For Sale

9. Deal

Seokjin passou a viagem toda com a cabeça escorada no vidro da janela do carro, no banco de trás, em completo silêncio. Olhando as luzes dos postes e as fachadas dos prédios passando ligeiros, achava curioso que estivesse se sentindo tão exaurido se não tinha, de fato, feito nenhum esforço físico tão significativo. Talvez fossem os "boletos" de quase um ano numa vida que exigia demais, em muitos aspectos, chegando em seus vencimentos. Por receio de ser isso preferiu mudar a linha de pensamento; não era hora de questionar suas decisões. Tinha necessidades a suprir e tinha Namjoon esperando por ele num bairro caro de Seul. Pensaria sobre a vida mais tarde, com um cliente satisfeito e dinheiro no bolso.

— Chegamos.

O taxista disse ao encostar o carro numa calçada. Seokjin olhou de relance para fora, tentando achar Namjoon por ali, mas não o viu. Um leve arrepio percorreu sua espinha. E se Namjoon tivesse desistido e não avisou? Ia ter que pagar aquela corrida e sabe lá como voltar para a praça. Seus pensamentos, porém, foram cortados quando viu Namjoon surgir da penumbra, e foi com alívio que os teve cortados. Ele vestia roupas informais, bem diferentes das que usava quando o contratou das outras vezes, e aquilo o surpreendeu. Não imaginava que Namjoon fosse do tipo de usava moletom e camiseta, mas até que combinava com ele.

A primeira coisa que Namjoon fez ao chegar perto do veículo foi lhe dar um sorriso, e em seguida bater no vidro da janela do carona. Iniciou o pagamento da corrida e Seokjin pôde ver que naquele momento o taxista entendeu o que estava acontecendo. Esperou alguma reação negativa do sujeito, mas ele não pareceu se importar. Ele também trabalhava na noite de Seul, também lidava com pessoas. Era possível que já tivesse visto de um quanto na vida, igualmente, ao ponto de não se importar mais com muita coisa.

Não percebeu quando Namjoon se aproximou de sua porta e a abriu para que saísse. Ficou um pouco constrangido por ter ficado tanto tempo dentro do táxi ao ponto de ser necessário ele vir abrir sua porta, mas tentou disfarçar saindo rapidamente de lá.

— Boa noite. — Namjoon fechou a porta e se despediu do motorista. — Como vai? — Virou-se para o menor, sorrindo.

— Bem. — Sorriu também, um pouco comedido. — Tava esperando ali no canto faz tempo?

— Não. Acabei de voltar da conveniência, praticamente. — Guardou o celular que usou para fazer o pagamento e pegou a carteira. — Pode ficar a noite toda comigo, como da última vez?

— Posso.

— O mesmo preço?

— É, mas cê vai pagar aqui?

— Você não recebe adiantado?

— Recebo, mas não precisa ser assim, bem na beira da calçada, correndo risco de passar um safado e bater sua carteira.

— A vizinhança é segura.

— Mesmo assim, guarda aí tua carteira, a gente fala do dinheiro depois, onde cê tá morando. Qual dessas casas é?

— Não é nenhuma dessas, ela fica entrando nessa ruela. Pode me acompanhar, por favor?

Anuiu, passando a seguir Namjoon. Viu o mais velho voltar para o local de onde tinha surgido, pegando algumas sacolas de papel que tinha deixado no chão. Por instinto tentou pegar uma delas, visto que eram três, mas Namjoon recusou a ajuda com bastante convicção, e os dois foram andando ruela adentro. Não era uma área tão clara assim, e formava uma pequena subida que parecia não ter fim. Seokjin pensou no quanto era perigoso fazer o que estava fazendo, seguindo um cliente para o interior de uma área isolada, e que se não fosse Namjoon era provável que já tivesse voltado correndo para a avenida e sumisse. Esperava que ainda pudesse confiar em Namjoon. Já tinha tido alguns clientes bons com ele, mas nenhum o tinha tratado com tanto respeito e igualdade quanto Namjoon. Seria uma queda e tanto se, de repente, sua confiança fosse traída.