10. Not ordinary

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A mochila nas costas de Seokjin não tinha quase nenhum peso. Segurando uma caixa de pizza com duas fatias que sobraram de mais cedo, ele andava pela ruela onde ficava a casa em que se hospedaria com Namjoon. Tentava lembrar qual era, mas não estava sendo muito fácil. Era noite e no escuro todas pareciam estranhamente iguais naquela parte da cidade. Desceu novamente a rua em questão, esperando ter mais sorte, e não conseguiu se localizar.

Suspirou, sentou numa calçada, tirou a mochila das costas e a acomodou entre as pernas. Deixou a caixa de pizza ao seu lado e esticou os braços para trás, inclinando o próprio corpo com o apoio deles. Limpou as mãos depois de algum tempo, pondo os braços nos joelhos e a cabeça sobre eles. Estava um pouco sonolento, provavelmente por ter organizado a própria mudança num piscar de olhos, e talvez pelo excesso de queijo que consumira antes de ir ao encontro de Namjoon. A sonolência não podia ser proveniente do cansaço de carregar uma bolsa e uma caixa de pizza, afinal.

Seu inventário pessoal consistia em cerca de cinco mudas de roupas, umas poucas cuecas que usava para trabalhar, sapato, dois pares de meia, celular, relógio, fotografias e o dinheiro que escondia. Colocou tudo na mochila de qualquer jeito, separando a maior parte do dinheiro para guardar pelo próprio corpo, dentro das roupas, por precaução. Saiu daquele prédio caindo aos pedaços e foi embora, sabendo que nunca mais voltaria. Quando se despedisse de Namjoon já seria para ir procurar outro lugar para morar. Para onde iria ainda não podia precisar, mas certamente não seria para aquele prédio decrépito.

Antes de ir até Namjoon, porém, resolveu passar na praça, para informar suas amigas que não apareceria por no mínimo uma semana. Podia ter avisado por mensagem, mas pelas condições de trabalho era melhor que um pudesse ver o outro para ter certeza de que estava tudo certo. Explicou a elas o acordo com Namjoon, e enquanto caminhavam para uma pizzaria — que sempre sentiam o cheiro, mas nunca podiam experimentar os sabores dos produtos lá vendidos —, Seokjin teve que ouvir sermões e mais sermões das duas.

Escutou tudo com atenção, porque elas tinham mais vivência que ele, mas sentia vontade de interromper a ladainha dizendo que Namjoon não era do tipo que o forçaria a nada, que o machucaria à toa, que atentaria contra sua vida. Se não o fez foi por saber que, em primeiro lugar, elas não acreditariam e, em segundo, talvez tivessem razão em não acreditar. No fundo sabia que confiar completamente em qualquer pessoa não era inteligente. O problema era que confiar em Namjoon cem por cento era a única opção que ele dava a alguém, e não havia maneira convincente de explicar isso a uma pessoa que nunca tinha convivido com ele. Era apenas algo que se sentia quando se conhecia o sujeito um pouco melhor.

Tendo que se contentar em comer a pizza na calçada, após pedir a alguém na rua que entrasse e comprasse porque o dono do estabelecimento não permitia a entrada de "certos tipos" ali, as duas deram a Seokjin o que restara, porque segundo elas, o dinheiro que pagou a conta era dele. Aceitou, na esperança de encontrar alguém que pudesse estar sentindo fome em seu caminho, mas não achou pessoa alguma que pudesse ficar com os pedaços restantes, então levou consigo. Dois ônibus depois e uma caminhada que não o levava a canto nenhum, estava outra vez sentado em outra calçada, sem saber ao certo o que fazer.

O telefone vibrando no bolso o levou a sair da posição em que estava. Viu o nome na tela e atendeu.

— Já pode vir ou precisa de mais tempo? — Namjoon perguntou do outro lado da linha. — Precisa que eu vá buscá-lo? Já estou livre, posso ir.

— Não, eu... — Olhou ao redor, desistindo de fosse lá como pretendia agir. — Eu acho que me perdi.

— Se perdeu? Não sabe onde está?

— Não. Eu tenho certeza que tô na sua rua, mas não sei que casa é.

— Vou buscar você.

— Não, só fica na porta que eu vou andando e acho.

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