14. Supper

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Já tinham cruzado parte do caminho de volta para a hanok, e até o momento, estavam no mais absoluto silêncio. Julgando que Seokjin não queria conversar, Namjoon ficou calado, se concentrando no trânsito. Aos poucos, foi percebendo um barulhinho insistente de leves batidas, e ao olhar para o lado, viu que Seokjin batia com as pontas dos dedos no vidro da janela. Estava absorto na atividade, e por um tempo se deixou olhar para ele assim, sem perder o controle da direção.

— Como é que você está? — Perguntou baixo, enfim, quando se deu por satisfeito. — Tudo bem?

— Uh-hum. — A resposta curta foi quase inaudível.

— Vou considerar isso como sim. — Deu uma olhada de relance para Seokjin, que acenou para ele. — Que foi? — Novos sinais. — Seokjin, fala direito, por favor. — Parou num semáforo fechado. — Por que você simplesmente não fala?

Uma nova leva de sinais foi feita, e Namjoon julgou ter entendido qual era a situação. Isso o fez rir. Não podia acreditar que Seokjin estava "falando" sério.

— Seus lábios não estão trancados de verdade. Pare com isso. — Gestos e mais gestos. — Seokjin, por favor! — Nova gesticulação. — Sim, eu sei que jogou a chave fora, mas aquilo foi só...

Foi interrompido por movimentos das mãos de Seokjin, e decidiu que não adiantaria nada tentar ser o ponto de lucidez naquela situação. Deixando-se levar, fingiu pegar algo no porta-luvas e mostrou a Seokjin, que subitamente ficou quieto.

— Isso aqui é um mini pé de cabra, consegue ver? — Seokjin concordou, e Namjoon riu, desacreditado, mas divertido. — É claro que consegue... Fique parado que eu vou quebrar o cadeado. — Fez um leve movimento próximo ao canto da boca do jovem. — Pronto, está livre.

— Até que enfim! — Exclamou, entusiasmado.

— Se eu não fizesse isso, ficaria calado a noite inteira?

— Claro que ia!

— Não é possível... — Balançou a cabeça em falsa desaprovação. — Agora que pode falar, me diga: você está bem?

— Tô! Não parece que eu tô bem?

— Parece, mas você estava quieto demais e eu precisava ter certeza. Agora sei por que não falava.

— Eu posso falar sem parar se você quiser agora que minha boca tá solta.

— Eu vou estar aqui para escutar.

Namjoon sorriu para o jovem, e voltou para a avenida, retomando a direção. Seokjin, a partir dali, não voltou mais a ficar em silêncio absoluto. Pediu a Namjoon que abrisse a janela a fim de sentir o vento no rosto, que ligasse o aparelho de som do carro, que cantasse junto com ele as músicas que nenhum dos dois sabia cantar corretamente. Falou sobre o que achou das comidas, sobre como a alcachofra era feia e sem sabor, o quanto gente rica comia mal e pouco, e também sobre o quanto eram ridículas aquelas regras de etiqueta que faziam todos parecerem pequenos robôs sem personalidade. Namjoon não tinha visto Seokjin falar com tanta propriedade sobre suas opiniões antes, e a maneira com que ele falava, além de lhe mostrar um pouco mais do rapaz que tanto queria conhecer melhor, lhe fazia rir. Talvez estivesse rindo até demais. O que não era problema nenhum, muito pelo contrário. Era gostoso.

Seguiram o restante do trajeto assim, e quando chegaram na rua em que o veículo ficava estacionado, Namjoon abriu a porta do carro para que Seokjin saísse e foi subindo com ele para a hanok. A caminhada, porém, estava lenta porque Seokjin parecia pouco disposto a andar em linha reta, ficando constantemente para trás, forçando Namjoon a parar e o esperar. Na quarta vez que isso aconteceu, Namjoon aguardou que ele chegasse ao seu lado e então o fez parar, o trazendo para perto.

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