22. That thing we can't explain

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Surpresa!

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Os planos de Namjoon de um passeio na praia no fim da tarde foram um pouco frustrados pela visita à alfaiataria. Precisaram fazer uma série de ajustes nos ternos de Seokjin, e isso levou mais tempo do que o previsto para ser finalizado. Poderia ter deixado que fizessem o que tinham de fazer e ir buscar depois, porém, achou melhor corrigir de uma vez os problemas do que ficar parcelando a situação, e isso acabou por tomar um tempo precioso. A praia mais próxima ficava a cerca de três horas de onde estavam, e por um momento pensou em desistir e deixar para o outro dia. No entanto, achava que tinha criado uma expectativa em Seokjin e não queria a destruir. Tinham subido a um novo nível de intimidade e suspeitava que qualquer passo equivocado poderia o derrubar escada abaixo. Chatear Seokjin já lhe parecia um erro antes, quando não tinham conversas mais longas sobre assuntos pessoais e não pensavam em ter. Agora, então, era quase um crime. Não chatearia Seokjin enquanto pudesse evitar, e naquele dia daria o seu melhor para tanto.

Era por isso que, como na vez em que dormiram ao relento, Namjoon dirigia como se tivesse esquecido a sopa do jantar no fogo aceso do fogão. Não tão rápido para ser multado, mas o suficiente para não perder o momento em que o sol iria se por. Um dos espetáculos mais belos da natureza era poder presenciar o sol se pondo à beira da praia, e então esperar que a lua viesse se espelhar nas águas do mar. Tinha aprendido a apreciar momentos assim depois de adulto, conforme sua vida foi entrando nos eixos, psicologicamente falando. Antes disso não se permitia ver a vida acontecendo ao seu redor. Havia a necessidade de preencher o tempo, a mente e o coração de tudo que pudesse o distrair do passado que o perseguia, e fazia isso trabalhando e estudando sem parar. Somente quando parou para respirar e compreendeu que não adiantava fugir de si mesmo foi que se deu a chance de ser em vez de apenas existir. Foi quando se libertou dos estudos que não estavam o satisfazendo, de uma relação que não acrescentava, e se convenceu de que precisava curar a cabeça para, enfim, viver e buscar sua paz.

E tinha sido bom. Afastou-se de Seul, onde as dores permaneciam muito vivas, e foi para o mais longe que poderia bancar. Iniciou um trabalho de terapia com a psicóloga que o acompanhava até o presente. Aos poucos, retomou o controle dos próprios impulsos e sentimentos, pôs as lembranças ruins em seus devidos lugares, cicatrizou as feridas. Passou a dar vazão ao seu amor por plantas. Conheceu Jimin, unindo forças a ele no campo profissional. E, após um tempo, Mikhail surgiu para lhe apresentar um lado da vida que ainda não tinha experimentado, não de verdade.

As chagas foram sumindo e, numa manhã fria, Namjoon descobriu que se sentia feliz. Descobriu isso comendo torradas amanteigadas enquanto olhava o nascer do sol. Estava completamente sozinho, e seus olhos se encheram de lágrimas ao presenciar o show silencioso da grande estrela. Não foram lágrimas de dor, como quando seu avô lhe batia, humilhava e desprezava, nem de raiva, quando jurava que iria se vingar de tudo e de todos, destruir quem quer que entrasse em seu caminho, incluindo a si próprio. Eram lágrimas de alegria por estar vivo, por estar onde estava, por ter conseguido se tornar a melhor pessoa que poderia ser. Por ter tirado do peito as angústias e as enfiado apenas nas lembranças, onde não podiam mais lhe fazer mal. Por ter conseguido deixar de odiar o mundo por ter sido injusto com ele. A sensação de felicidade o acompanhou o dia inteiro, e quando o sol ia se pôr, também se acomodou para admirar o show. Ao ver a estrela se retirar, deixando apenas a lua no céu, se convenceu de que sim, o que sentia era felicidade, e que tinha sido a melhor escolha tentar ser uma pessoa boa e leve.

Desde então amava ver o sol chegar e se despedir, porque eram sinais de que tinha superado o seu eu anterior e saído do casulo como uma bela borboleta. Nem sempre podia fazer isso, mas vez ou outra dava um jeito. Aquela seria uma dessas vezes, porque queria muito poder dividir o momento que era, ao mesmo tempo, tão particular e tão coletivo, com Seokjin. Tinha acordado feliz por causa de Seokjin. Nada melhor do que se unir a ele também naquela hora tão querida, que trazia um simbolismo tão incrível para sua vida.

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