FILLER: Parfum d'amour

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Antes que você leia: esse capítulo não é sobre os NamJin e nem sobre nenhum personagem importante. É sobre a Jung Wheein, vendedora da loja de perfumes inspirada na Wheein do Mamamoo. Ela é só figurante, mas eu tenho carinho por ela (sei lá por que) e eu quis dar um foco pequeno nela. Você pode não ler e não vai atrapalhar o entendimento da fic, tá? Mas, se for ler, espero que goste =3

***

O despertador tocando era um dos maiores pesadelos de Wheein. O som estridente sempre penetrava seus sonhos e os transformava em algo ruim.

Gostaria de poder fazer algo a respeito. Trocar o som do alarme para algo suave, por exemplo, ou arrumar um emprego que pagasse razoavelmente bem, com um turno que começasse mais tarde. Não havia possibilidade nem de um, nem de outro. Sons fracos não a despertariam com facilidade as cinco da manhã. Quanto a um emprego que começasse mais tarde, somente se aceitasse ganhar menos ou se arriscar em atividades ilícitas. Não estava disposta a arriscar em nenhuma das hipóteses.

Poderia ser que, se fosse sozinha, Wheein pudesse se aventurar mais. Ela, contudo, tinha um peso nas costas do qual não poderia se livrar. Para fugir de um marido abusivo, a mãe precisou deixar tudo para trás e carregar consigo os três filhos que tinham vindo a partir do casamento. por deixar tudo para trás, era no sentido literal. Nem as roupas conseguiram levar. Saíram da casa do jeito como estavam, com um punhado de dinheiro para o ônibus e era isso. Tiveram que contar com a sorte de encontrar pessoas boas pelo caminho — o que aconteceu no máximo três vezes —, e com a boa vontade da madrasta de sua mãe, que aceitou a abrigar por dois meses. Depois disso, precisaram ir embora dali e tentar a vida de outra forma.

Como se não fosse o bastante, sua mãe descobriu que estava grávida do quarto filho quando lutava para se manter num porão minúsculo e insalubre perto da capital do país. Não houve alternativa para Wheein senão começar a trabalhar também, no alto dos seus treze anos de idade. Desde então, era o que vinha fazendo: trabalhar e trabalhar para ajudar nas despesas da família. Como irmã mais velha, era igualmente a sua obrigação auxiliar a garantir o sustento dos irmãos. Assumiu a responsabilidade junto com a mãe e nunca mais a largou.

Sua sorte, se havia alguma, era que apesar de tudo, vivia numa família amorosa. A lembrança do pai abusador tinha ficado para trás, e os cinco agora podiam viver não em paz, porque nenhum pobre tinha paz em parte alguma do mundo, mas em união. Quando tudo parecia muito difícil, havia sempre um beijo no rosto, um abraço apertado, uma comida simples, porém quentinha e bem feita para ajudar a distrair dos problemas. Juntos, lutaram e seguiam lutando para que nenhum deles passasse necessidades demais, perdesse os estudos ou qualquer atividade mais básica. Luxo não tinham — e provavelmente jamais iriam ter —, e o básico em questão vinha sempre muito racionado, contudo, havia amor na família. Wheein já tinha visto famílias sem esse elemento, e estava longe de dizer que era mais afortunada, mas sabia que tinha vantagem. Era bom ter a quem recorrer nos piores momentos da vida, e somente quem amava e era amado tinha isso. Sem amor, não saberia onde estaria agora.

Arranjar o emprego numa das perfumarias mais caras de Seul tinha sido quase um milagre que esperava saber aproveitar bem. A maior parte do tempo era ruim, com colegas de trabalho soberbos, chefes que cruzavam a linha com facilidade e clientes mal educados, porém o dinheiro era bom e, com ele, Wheein podia ao menos sonhar. Sonhar com uma casa melhor, com fardas mais novas para os irmãos menores, com o descanso de sua mãe. Com a faculdade de Artes Cênicas que gostaria de fazer, os filmes que poderia vir a participar no futuro. Nada disso passaria de sonho, muito provavelmente. O sistema não deixava pessoas como Wheein, sua mãe e seus irmãos prosperarem de verdade. Eles vendiam a ilusão de que todos podiam chegar nos mesmos lugares, mas não davam acesso às ferramentas para quase ninguém. Wheein já estava ciente disso, e mais: estava conformada. Sonhar, porém, ainda era de graça, nem configurava crime. Podia se render aos sonhos de vez em quando.

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