12. Crime, punishment and releaf

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Havia muito tempo desde a última vez que Seokjin tinha ficado com raiva de verdade. Tinha aprendido ainda em casa, com os desmandos e abusos da madrasta e seus filhos — somados à inércia do pai —, que de nada adiantava se irritar com situações que não podia mudar. Quando foi para a capital a lição se mostrou bem mais importante, e facilitava o fato de ser, em seu íntimo, uma pessoa tranquila e de fácil adaptação. Contudo, em algumas situações, não conseguia fingir que não estava zangado, e a que vivia era uma delas.

Não era a primeira vez que ficava encarcerado numa cela de delegacia, mas era a primeira durante a luz do dia. Das outras vezes foi pela noite, quando descobriu na prática que a polícia, para pessoas que trabalhavam em seu ramo, dificilmente eram um ponto de auxílio. Alguns policiais gostavam de obter vantagens, e dentre elas estavam obter os serviços de quem trabalhava nas ruas de graça. Já tinha sido colocado na cadeia uma porção de vezes por ter se recusado a ceder, e com isso perdia a noite inteira de trabalho. Nunca se esqueceria do ódio que sentiu quando, enfim, se viu forçado a aceitar a "proposta", senão ficaria mais uma noite sem dinheiro nenhum. Fez um trabalho tão mal feito, com tanto mal gosto, que nunca mais o procuraram — ao menos para isso a sua raiva tinha servido.

A raiva que sentia naquele momento era muito similar à daquela noite.

Não se tinha em alta conta. Sabia que não valia muita coisa, talvez até não valesse nada. Ser acusado de ser ladrão, porém, era inadmissível até para alguém como ele. Nunca tinha roubado ninguém, e talvez por isso vivesse da forma que vivia. E as chances de praticar roubos eram muitas, elas sempre estavam ali. Sempre podia enganar seus clientes, pegar parte do dinheiro e sumir. Podia cobrar muito acima do valor, afinal, nem todo mundo saberia que estava pagando um preço fora da realidade. Podia puxar as suas carteiras quando eles estivessem distraídos. Podia nem estar vivendo essa vida se em vez de ter entrado num carro para trabalhar pela primeira vez, tivesse roubado as velhinhas que se recusaram a lhe pagar por carregar compras, na porta do supermercado onde implorou por um emprego no dia em que tudo começou. Mas Seokjin nunca tinha pegado nada de alguém que não fosse seu por direito. Seu caráter não era esse.

Talvez fosse trouxa — Jiwoo dizia que ele era muito bobo para aquela vida, e Aurora falava que ele não duraria muito tempo se fosse sempre tão "bonzinho" —, mas não conseguia ser uma pessoa diferente. Tinha uma essência que o forçava a ser correto. Todavia, não quiseram sequer o escutar. Não esperaram que ele fornecesse uma boa explicação — algo que ele tinha. Simplesmente chamaram a polícia, e os policiais não pensaram duas vezes antes de o ameaçar arrastar da loja com algemas caso não os seguisse para fora. Seokjin obedeceu sem questionar — muito embora desejasse tê-lo feito —, porque algumas inocências as ruas já tinham tirado dele: não se argumentava com a polícia quando ela já tinha decidido algo sobre você. Entretanto, imaginou que seria apenas colocado para fora, não que seria conduzido até a delegacia e jogado numa cela. Não esperava que eles dissessem que em breve iriam indiciá-lo. Seokjin não tinha ficha criminal e não queria ter, era por isso que andava na linha, ainda que isso lhe custasse muito. E agora eles iriam indiciá-lo por motivo nenhum, sem ao menos considerar que havia o seu lado da história.

Sim, estava muito, muito zangado. E não só por sua situação; estava com raiva por, também, ter interrompido o dia de Namjoon para pedir por ajuda. Se tivesse sido mais uma daquelas prisões ilegais, que nunca resultavam em nada — com exceção da sua perda de renda diária —, podia se virar. Mas com uma acusação real, não sabia o que fazer. Não conhecia ninguém que o pudesse auxiliar, então precisou perturbar Namjoon. E agora até seu acerto com ele poderia estar em risco.

Maldito inferno!

— Ei, bonitinho. — O outro homem que estava na cela o chamou. Seokjin não o olhou. — Eu falei com você, garotinho. De novo. Vai ficar me ignorando pra sempre?

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