Um cabo de guerra

3 0 0
                                    


Não tinha mais nada realmente meu naquela casa. Apenas  saí. 
Me sentia como se não  existisse. Parecia que o meu corpo não  tinha matéria.  Mesmo  assim algo me tocou. Não  sentia  falta do Chris.  Eu o sentia em mim. Só  não o tinha ao meu  alcance.
Os olhos verdes do Louie me  olhavam de perto. 
- Dá um  tempo pra ele - assentiu.
- Um tempo pra  quê? Ele está certo. Sou uma intrometida.
Me abraçou. Afagando os meus cabelos.
- Eu não sou um lobisomem, mas quebro um galho. 
Tomamos  um sorvete juntos, na sorveteria da esquina. 
- Nem sabia que você podia tomar sorvete. 
- É  líquido - soou óbvio com  um sorriso - Lembra quando eu entrei na sua casa, a forma como eu te persuadi para ter você  em minha vida? 
- Lembro.
- Como você classifica o que eu fiz? Hoje,  sabendo que eu fiz isso para te manipular. Para te ter para  sempre.  
- Egoísta. 
- Sim - sorriu - Mas foi o meu amor por você que me levou para essa atitude. Isso foi um ato de amor. 
- Foi.
- Se você for ver bem, o amor de verdade, é um cabo de guerra com a pessoa amada. Ganha quem quer mais desesperadamente. Mas quem perde, ganha a certeza de que é  muito amado. 
- Eu ganhei - soei triste - Mas  ele me odeia. 
- Só se for um idiota completo. O Christian é um  idiota,  Helena? 
Levantei o olhar para o Louie. Com a esperança de que a sua teoria estivesse  certa. Fomos  passear pela Roménia. Nossa aventura levou o dia todo  era oito da  noite quando  cheguei  em casa encontrando o Will.
- Boa noite  Helena - disse.
- Boa noite,  Will. O que você está fazendo aqui? 
- Alimentei o seu novo híbrido. Ele está te esperando. 
Foi quando reparei que eles estiveram cuidando de nós o dia todo.
- Obrigada.
Beijei os dois antes de entrar. Fui para a
cozinha fazer café,  mas percebi a garrafa cheia. Me servi. Estava bem  quente. Me perguntei aonde estava  o Chris? Ele  pode ter ido quando eu  cheguei.  Não  o ví na sala ou na cozinha. 
Senti suas mãos  grandes me abraçar  por  trás.  Beijou a minha  nuca. Olhei para ele por cima do meu  ombro. Me perguntei o que havia  acontecido?
- Me desculpa.  Eu estava errado. 
- Em que?
- Em tudo. 
- Eu não te dei escolha. 
- Nem eu dei à  você.  Eu faria a mesma  coisa com você. 
Virei de frente para  o Chris  depois de por o caneco de volta na mesa.
- Eu te amo, Christian. 
- Eu te amo, Helena. E está tudo  bem assim. 
Beijou  meus lábios de leve me provocando.  Riu quando  desejei mais do que um selinho,  para só então me beijar  ardentemente com  saudades.
Me entregou a caneca de café e pegou outra. Se serviu, e sentou à mesa, me convidando com  o olhar. Sentei. 
Bebi do meu  copo, suspirando.  Apreciando o líquido amargo e doce com o seu cheiro aromático único. Ouvi o riso do Chris e levantei o olhar. 
_ Entendo porque você suspira com café _ achou graça _ Quem diria que isso aconteceria algum dia?
Bebeu do próprio caneco mantendo o seu olhar em mim. Eu mantive o meu olhar nele. Senti que o Chris queria me dizer algo. E era isso mesmo. 
_ Eu fui preconceituoso quanto à ser criado por você. Eu pensei que eu não conseguiria mais ter opinião própria depois disto. Eu estava errado. A raiva que eu sentia quando vi que você passou por cima da minha vontade, deixou isso claro. Me desculpa?
A lembrança da sua raiva e a culpa que sentia por ter passado por cima do desejo dele, me machucaram, mas nem se comparava ao alívio de saber que ele estava bem. De que nada, nunca seria capaz de machuca-lo gravemente de novo.
Continuou.
_ Eu não devia ter te deixado sair daquele jeito. Eu quis te segurar. Pedir desculpas, mas eu me segurei. Estava confuso sobre o que estava me impulssionando. Se era o meu amor por você,  ou a compulsão de te agradar, por ter sido criado. 
_ E qual é a resposta? 
Eu também estava insegura quanto à isso.
_ Eu te amo _ sorriu _ Eu te sinto. E é muito mais esclarecedor do que só ouvir os seus pensamentos. Mas isso não me induz à fazer nada. Porém agora eu vou estar na sua vida para sempre _ deu um sorriso de olhos levados _ E você vai ter que me aturar, porquê eu te amo muito.  E eu nunca mais vou te deixar ir. Mesmo que você queira, moça.
_ Vai ter que me dividir com os outros _ provoquei. 
_ Isso não me preocupa mais. 
_ O que foi que mudou? 
_ Minha  visão sobre o amor. Minha  compreensão sobre você. Não tem insegurança que sobreviva à  tantas demonstrações de amor vindas de você. Sei que você faz qualquer coisa para o meu bem. 
Sorri. De repente, as coisas  pareciam tão perfeitas que eu senti medo de ser um sonho e eu acordar.
A mão do Chris acariciou a lateral do meu rosto. 
_Você sente algo diferente _ sorriu _ Escuta esse silêncio dentro da cozinha. Nada além das batidas dos nossos corações. 
Me concentrei  neste som.  O meu coração e o do Christian.  Não. Tinha algo de errado.  As batidas do meu coração tinham eco? Olhei para o Chris confusa. Ele riu excitado como uma criança brincando de adivinhação. 
Foi quando reparei que não  era um eco. Era um coração menor e bem mais  rápido dentro de mim. A mão do Chris pousou na minha barriga. 
_ Vamos ter  um lobinho _ disse sorrindo com o seu olhar  sobre o meu  _ Mamãe _ me beijou.
Agora sim, eu com certeza, estava sonhando.
Acordei numa sala de hospital. Havia  um aparelho de ultrassonografia de um lado da cama. Será que aquilo era outro sonho?
Priscila, a responsável pelas  ultrassonografia do hospital, entrou na sala.
_ Você  acordou! _ riu _ Você  foi a primeira mulher que eu já vi desmaiar quando soube que estava grávida _ sorriu.
_ Que bom que eu divirto você _  brinquei _ Quem me trouxe  aqui?
_ Que tipo de pergunta é  essa? _ estranhou _ O seu namorado.  Aquele  mal caminho  inteiro, que é  um pecado que seja  só  seu.
Olhei feio para ela.
_ Eu só  tô falando _ levantou as mãos em rendição antes de descobrir a minha barriga e começar a me examinar.
O Chris entrou na sala me  olhando enquanto  sorria. Caminhou para  mim e afastou as mechas de cabelo do meu rosto. 
_ Você  me deu um  baita susto desmaiando assim. 
Sorri  por descobrir que não foi um sonho, mais do que imaginando o seu pânico por eu ter desmaiado.
_ Isso  mesmo. Ri do cara assustado demais para  dirigir. Eu cheguei  aqui tão rápido que devo ter perdido a minha  sombra no caminho _ fez piada. 
_ Desculpa _ ri mais ainda.
O som do coração do bebê, mais alto, chamou a nossa atenção para a tela.
_ O quanto  vocês querem  um filho? _ a Priscila soou divertida com algo.
_ Muito _ falamos em coro. 
_ Que sorte a de vocês! São dois bebês.
O espanto seguido do riso foi inevitável. 
O meu  olhar tentava entender os movimentos dos dois borrões na tela. O olhar  do Christian  era mais bobo que o meu, com aquele  sorriso lindo.
O charme  dos vampiros, sobre aquela  beleza natural do Chris  não  mudou quase nada da sua aparência já  tão  bela.
Me  beijou. 
_ Agora  quem vai desmaiar sou eu. Dois bebês, Helena! 
Christian parecia mais  entusiasmado que assustado.

Numa Noite Sombria Where stories live. Discover now