Só sangue

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Acordei, e fui percorrendo o caminho de volta para a saída. Desci as escadas e avistei a porta da sala, na verdade era um salão. Entrei por uma porta lateral, era um corredor. Nele havia a porta da sala de jantar, mais à frente a porta da cozinha. Entrei e examinei a dispensa, estava com fome. Vampiros sentem fome?
A dispensa estava cheia, a geladeira também. Havia bastante comida pronta e um bolo recheado e coberto. Desconfio de que o Lui não ​sabe cozinhar. Será que ele sente fome? Por via das dúvidas, cozinhei para dois. Passei café fresco e fiz panquecas finas, para comer com as frutas em calda enlatada, que achei no armário. A mesa estava posta, quando ele surgiu diante de mim, vindo de lugar nenhum.
_ Bom dia _ pareceu confuso com a mesa _ Café para dois?
_ Bom dia. Fiz para nós.
Sorriu para mim, pareceu contente, e sentou servindo-se. O imitei, feliz por ter companhia para comer e, também, porque ele pareceu gostar muito da panqueca com calda, embora bebesse muito café. Comeu apenas uma panqueca, mas o fez com vontade.
_ Você gosta mesmo de panqueca com calda?
Segurou a minha mão por cima da mesa e acariciava sorrindo para mim _ Eu não como, doce Helena.
Fiquei preocupada _ Você não come! E agora? Por que você não me disse?
_ Porque eu não perderia a chance de comer algo que você preparou para mim.
_ Mas e se você passar mal?
_ O meu corpo pode lidar com isso, não se preocupe.
_ Pensei que você comesse. A dispensa está cheia.
_ Fui ao supermercado enquanto você dormia. Não sabia muito bem o que comprar. Tive que seguir os pensamentos de uma senhora durante as compras. Se você quiser algo que não tem aí, eu posso trazer.
Sorri agrado pelo seu esforço. Ele era tão prestativo, mas eu não me lembrava do que comprar. Tudo estava sendo muito intuitivo. 
Mais tarde, passeamos pela floresta. O clima estava muito agradável. Borboletas coloridas voavam entre as flores de uma clareira, pássaros cantando pela vasta floresta, nada para se preocupar.
_ Você disse que este lugar foi nossa casa, no passado. O que aconteceu? Por que mudamos daqui?
_ Nada _ omitiu simplesmente.
_ Foi uma coisa ruim, por​ isso você não quer falar sobre isso?
_ Não foi ruim nem bom, apenas aconteceu e, nos afastou de como éramos. Só eu e você, como agora.
Entendi que ele não queria que eu lembrasse, porque não queria que isso nos afastasse de novo. Por isso parei de perguntar. O Lui vai me dizer tudo o que eu precisar saber, eu sei. O mais não importa. Estamos juntos, é só no que penso agora. Estamos bem.
_ Chegamos! _ sorriu olhando não muito longe.
Acompanhei o seu olhar e vi uma nascente que havia criado muitas piscinas naturais nos​ declives do solo rochoso. O Lui tirou suas roupas e entrou na água, me olhando, me esperando.
Tirei a roupa e entrei na piscina maior, onde ele estava.

 Cheguei mais perto da sua beleza exposta, como ele podia ser tão belo e sedutor? Seu olhar sobre o meu rosto parecia saber o que o meu silêncio escondia. Seu olhar percorria o meu corpo com o mesmo desejo que eu tentava esconder, mas será que conseguia? Sua mãos envolveram minha cintura com um deslizar e o seu nariz percorreu a lateral do meu rosto e pescoço, antes de me morder. Não era dor o que eu sentia, mas luxúria líquida e quente invadindo o meu corpo inteiro, se espalhando. O seu olhar percorreu o meu rosto com satisfação excitada, suspirou tomado de desejo pelo que via.
_ Beba de mim _ pediu.
_ Não, e-eu...
_ Você precisa. Beba de mim até ficar saciada. Não se preocupe comigo. Você não precisa de muito, já fizemos isso antes.
Havia a barreira de sua altura ser muito superior a minha. Mas antes de tudo, os seus braços me elevaram em seu colo. O mordi, hesitante, excitada. Cada celula de mim já gritava por ele antes de eu o morder e, só piorou. Assim que eu o mordi, senti o seu sexo penetrar o meu e me preencher. Os movimentos o seguiu ininterrupto. Era tão gostoso beber o seu sangue repleto de feromônios, pela sua respiração, eu sabia que a luxúria que senti na sua mordida, devia se aplicar a ele também. Ambos chegamos ao ápice, e minha sede cessou. Agarrou os meus lábios em um beijo, continuou como se não estivesse satisfeito. Era tarde alta, nossos corpos tremiam juntos naquele abraço, enquanto nós acalmávamos. 
_ Por que eu bebo de você?
_ Porque você é uma vampira de imortais.
_ E você?
_ Sou um vampiro de mortais. Eu caço humanos.
_ Por que essa diferença?
_ Porque você é mais evoluída. É uma rainha, soberana da sua própria espécie.
_ Quem fez isso comigo?
_ Você fez. Você foi mordida por um lobisomem e sobreviveu.
_ Lobisomens existem?!
_ Claro que sim, são letais para mim, mas não para você _ afastou uma mecha ​de cabelo do meu rosto _ Você quer dar uma volta comigo, essa noite?
_ Sim, por favor.
_ Vou adorar _ sorriu.
Chegamos em um casa noturna do Rio de Janeiro, era mais quente que na floresta, gritantemente quente. Não que a temperatura me alterasse, de forma alguma, mas era nítido que estávamos muito longe da nossa casa. O Lui chamava a atenção, era como luz para mariposas. Todas as mulheres o comiam com o olhar. Pude ouvir seus pensamentos, por um instante, antes de bloquea-los. O incomodo por tanto desejo sobre o meu Lui, persistia.
_ Você está bem? _ o olhar verde ficou cinzento e preocupado sobre minha face.
_ Posso ouvir o que estão pensando.
Seu riso lindo fez deliciosas cócegas nos meus ouvidos, o som era sedutor como sua voz. A expressão do seu lindo rosto, no rir assim, combinava com o som, me fez esquecer o que me incomodava.
_ Ignore-os, eles somem se você perde o interesse.
Houve um pedido de swing, vindo de um casal charmoso que parecia disposto a tudo para conseguir uma noite de satisfação conosco.
_ Podemos? _ o olhar do Lui parecia um pedido.
_ Nós... e eles...? _ eu não conseguia dizer não para o Lui, mas a ideia de partilha-lo com alguém me era muito ruim _ Se você quer? _ saiu com um lamento profundo da minha alma.
Seguimos o carro do casal no carro do Lui, alugado, até um hotel. O casal pagou a cobertura para nossa noite juntos. Uma música suave e envolvente tomava o lugar. O Lui dançava com a mulher com a boca na curva do seu pescoço. O homem nos servia drinks e puxava assunto comigo, na sala com vista para o Pão de Açúcar. Eu não parava de olhar para o Lui grudado na mulher. 
Em um momento, cedi ao ciúmes e fui até o casal abraçado, toquei o moreno no ombro. O seu olhar lascivo veio para mim, haviam feridas no pescoço da mulher, ele se alimentava dela. Sua boca hostil seguiu para a minha, assim que saiu da fonte de sangue. A mulher seguiu para o assento mais próximo e deitou largada nele. Parecia em êxtase de prazer, mas embriagada ou muito sonolenta, de repente. Neste instante, notei que os meus ciúmes salvaram a vida daquela mulher. Como mariposa na lâmpada, o homem veio até nós e procurou espaço, eu deixei. Aquilo não era sobre sexo, era sobre sangue.
 Assim como fez com a mulher o Lui fez com o homem. Embora o cara estivesse interessado em mim, não rejeitou o beijo mortal do Lui que o abraçou por trás e beijou seu pescoço. Fazíamos um sanduíche com o sujeito. 
Da mesma forma como foi com a mulher, eu tive que para-lo. O êxtase causado por aquela mordida, com certeza, causava mais luxúria que qualquer noite de swing que aqueles dois já viveram. O homem fazia companhia para sua mulher, em outro assento perto dela.
_ Vamos para a cama? _ Lui disse entre um beijo e outro que me dava.
_ Nós vamos...?
_ Não vamos desperdiçar, o quarto está disponível _ divertiu-se.
Foi entre beijos que encontramos o quarto e a cama. Fizemos um sexo rápido, ainda era noite, antes das três. Nos vestimos e estávamos de saída.
 _ O que você quer fazer agora?
Pegou minha mão e se afastou para a porta me levando com ele.
_ Podemos ir à baía onde fica o Pão de Açúcar?
Seu riso surgiu _ Vamos à Praia Vermelha, então _ decidiu abrindo a porta para passarmos, e fechando atrás de nós.

Numa Noite Sombria Where stories live. Discover now