Putz

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Escolhia uma casa, junto com o Chris. Estávamos dentro do closet do quarto de casal, nos beijando. Chris, o rei da pegação, me agarrando no closet. Ah, Deus!
_ Vamos ficar com a casa? _ tinha os lábios no meu pescoço.
_ Sim _ ofeguei.
_ Adorei este quarto. Especialmente o closet.
_ Entendo você.
O Chris comprou a casa. Passamos as noites daquela semana alí. Os dias com os nossos filhos, e parte do dia, o Chris trabalhou.
Assim que encontrei com o Uriel, eu quis saber o que ele fez com o Chris.
_ Ele está melhor assim _ desconversou se servindo de whisky, na sua adega, só para não me olhar nos olhos.
_ Você não acredita mesmo nisto, não é?
Sentei no sofá olhando para ele.
_ Não vejo outra saída _ olhou para mim _ E você?
_ Do que exatamente estamos falando?
_ Suicídio, Helena.
_ O Chris é imortal.
_ Sim. Se alguém tentar mata-lo, vai encontrar grandes desafios. Mas se ele quiser morrer, vai conseguir.
Caminhou até mim e me entregou uma taça de vinho.
Bebi um gole _ O Chris não quer morrer.
_ Agora não.
_ Uriel, o que está acontecendo?
_ Eu dei uma realidade alternativa para o Christian.
_ Como assim?
_ Fiz ele se esquecer que estamos vivendo uma poligamia. Para o Christian, ele é o único na sua vida.
Pensei no que estava acontecendo comigo. Realidade alternativa, relatividade. Pareceu fazer sentido de alguma forma.

Bebi todo o conteúdo da taça de uma vez e deixei a taça no móvel.
_ Está me afetando, Uriel. Isto que você fez com o Chris, está afetando a mim.
_ Como?
_ Estou revivendo a minha história com vocês, como se os outros não existissem.
_ Ainda não entendi.
_ É como um sonho. Eu acordei em outra realidade, com o Lui. 
_ Foi um sonho.
_ Não foi um sonho. Estive com você também. Você tomou o lugar do Lui no meu passado. Anulou a existência dele. 
O Uriel gostou da ideia, deu para ver na cara que fez _ Me leva para essa realidade e me esquece lá _ brincou _ Foi só um sonho, Helena.
_ Como nos conhecemos? 
Sorriu afastando uma mecha de cabelo do meu rosto _ Eu tomei coragem, e me apresentei para você, depois de anos te observando. Te ofereci a imortalidade e você aceitou.
Pegou as minhas mãos e me fez levantar para o seu abraço. Depois de me beijar, sorriu para mim.
_ Se foi assim que nos conhecemos, como foi que eu conheci o Lui?
_ Lui? Eu conheço um Lui, mas você não deveria conhecer.
Hesitei constatando que definitivamente, não foi um sonho.
_ Você lembra do Chris?
_ Quem é Chris?
A sede me tomou e ele notou. Beijou o meu pescoço, enquanto eu bebi do pescoço dele. Consequentemente fizemos amor depois e eu adormeci. Sentia que o que estava acontecendo era mais forte do que eu.
O cheiro de café fresco me fez despertar. O Uriel havia me trazido café da manhã na cama, mas não era a mesma época. 
Tudo o que acontecia no passado mudava o meu presente. Será? 
O Uriel só esqueceu do Lui e do Chris, quando ele soube.
_ Eu não devia estar aqui, não é? _ sentei recebendo a bandeja no meu colo.
_ Não? Onde você deveria estar?
_ No futuro. 
_ Você não é a Helena _ percebeu no meu olhar _ Não a mesma Helena, pelo menos. O que você está fazendo aqui?
_ Você causou isso, no futuro. Eu não sei como fazer parar. Porque quando contei para você, no futuro, você foi influenciado pelo passado e tudo mudou.
_ Que loucura, moça. Mas não parece ser ruim.
_ Como assim? Você ouviu o que eu disse?
_ Sim, mas preciso de mais detalhes. Talvez eu consiga te explicar o que está acontecendo, Helena do futuro.
_ Vamos dar uma volta, depois do seu café da manhã.
_ Vamos agora.
_ Você vai comer de vagar e com calma _ tocou a lateral do meu rosto e sorriu excitado com a ideia de estar falando com o meu eu do futuro _ Não se preocupa. Está tudo bem. Pode me contar tudo enquanto se alimenta.
Obedeci. Ele não estava nem aí para a minha preocupação e não me ajudaria se eu não o obedecesse. Queria saber, porque ele estava tão tranquilo?
Fomos até a biblioteca daquela mansão. A enorme biblioteca que o Uriel mantinha até hoje. Seguimos até uma estante protegida por portas de vidro. Ele a abriu e pegou um grande livro que abriu sobre uma mesa.
_ Este livro é uma réplica do livro de magia da minha avó. Eu nasci de um ritual mágico _ olhou em meus olhos _ Você acredita em magia?
_ Na verdade, não. 
_ Explica, para mim, a sua presença aqui, sem magia?
_ Uma teoria científica de Albert Einstein.
Gargalhou _ Ciência é o nome de algo que tenta explicar magia. Onde você vê um espaço vazio, não há vazio. 
_ A resposta está neste livro?
_ Nestes livros _ apontou a estante protegida _ Não posso te dar a resposta. Você não entenderia. Mas sei que mesmo no futuro, você vai poder pesquisar. Estes livros são o meu maior tesouro. Eu nunca me desfaria deles. 
_ Não pode me ajudar? _ decepção na minha voz.
_ Não prometi te ajudar. Prometi uma explicação.
_ Porquê não quer me ajudar? É a sua vida que está em jogo.
_ Não há vidas em jogo. É somente a realidade se ajustando.
_ Se ajustando à que?
Sorriu somente _ Se tiver dúvidas sobre a leitura, posso te ajudar. Uma resposta por uma resposta. Eu não minto se você não mentir.
Sentou a mesa, na cadeira a minha frente e me observava.
Comecei a ler do início. Era difícil me concentrar na leitura quando queria uma lógica para seguir.
Li o primeiro parágrafo em voz alta para que o loiro me explicasse. Se ele estava alí devia, ser útil, de alguma forma.
_ Como você se sente vivendo uma poligamia? _ cobrou a sua resposta adiantada.
_ Dividida.
_ Do caos se fez a ordem. É isto o que esta página inteira diz.
Passei a página e li em silêncio, pensando na natureza da sua pergunta.
_ O que diz a segunda página? _ eu estava perdendo a paciência.
_ Você gostaria de se dedicar a somente um relacionamento, como é o usual?
_ Isso seria impossível _ retruquei.
_ Uma resposta sincera por outra resposta sincera _ cobrou.
_ Sim _ respondi.
_ A natureza do universo é harmonia. 
_ O que diabos isso tem a ver comigo, Uriel? _ irritação na minha voz.
O loiro gargalhou se divertindo com a minha reação. Depois fez um segundo de silêncio me analisando _ Tudo _ soou simples.
Fechei o livro _ Eu não vou ler mais nada. Quero respostas. E se quer saber, acho que foi você quem bagunçou com a minha vida.
_ Nossa, como eu te amo, Helena! _ gostou de me ver irada, bem a cara do Uriel.
Moveu o livro tirando-o da nossa frente e se inclinou para mim, me olhando nos olhos _ A regra continua a mesma. 
_ Diga-me o que está acontecendo.
_ Como você está se sentindo, neste momento, com a situação dos seus matrimônios?
_ Triste. Eu queria que fosse mais simples. Sempre quis, porém estávamos bem quando eram apenas eu, você, o Lui e o Will. Mas com o Chris... não está mais funcionando.
_ É isso o que está acontecendo. Nós estamos insatisfeitos. Todos nós. O universo está criando a ordem no caos das nossas vidas.
_ Isso é loucura.
_ Loucura é você viver em completa solidão por trinta e sete anos. Isso não é equilíbrio. Depois, viver sendo o alvo do amor de três pessoas, e agora, quatro pessoas. Percebe que houve total escassez seguida de total abundância?
_  Uriel, isso é magia para mim. Não faz sentido algum. Foi você, não foi?
_ Acha que eu tenho esse poder?
_ Se não tem, sabe mais do que está me contando.
_ Eu não sei, mas desconfio.
_ Fala.
_ Vamos almoçar fora _ levantou me convidando.
_ Sei que você está me enrolando.
_ Estou sendo bem condescendente. Deveríamos estar mudando o futuro em vez de falar sobre ele. Mas eu estou cooperando.
Aceitei o seu convite. Ele estava cooperando realmente.
Eu estava vivendo com o Uriel, mais um dia que eu me lembrava de ter vivido com o Lui. Os mesmos elementos a nossa volta. Fotografos, pessoas conhecidas pelo Uriel. Embora o Uriel comesse de verdade, diferente do Lui.
De repente, me veio um estalo. O Uriel sempre quis o lugar do Lui. Ele estava conseguindo agora. Ate este momento, apenas a realidade do Uriel mudara. Era um bom motivo para pressiona-lo. Esta era a minha prova.
Olhei em seus olhos e ele soube o que eu pensava. Negou com a cabeça.
_ Explique _ exigi.
_ Você está se multiplicando por quatro. Este é o motivo de apenas você viajar no tempo. Também é o motivo de só você saber o que está acontecendo.
_ Fala a verdade. Você fez isso tudo acontecer?
_ Sempre falo a verdade e você sabe disto. Não fiz nada. 
_ Então porque eu sinto que estou perdendo algo? _ chorei.
_ Simplesmente porque você está com medo. Mas está tudo bem.
Uma mão do Uriel segurou a minha sobre a mesa e a outra segurou a lateral do meu rosto, enquanto o polegar secava minhas lágrimas. 
_ Sabe que eu não posso simplesmente acreditar que eu estou me multiplicando, não sabe?
_ Já ouviu falar em física quântica? _ falou sério, mas me fez rir e riu junto.

Numa Noite Sombria Where stories live. Discover now