| Capítulo 02 |

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        Terror

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        Terror.

Sugando o ar para dentro dos meus pulmões, consegui acalmar o leve tremor que dançou sob meu corpo. Foi como se pudesse sentir o sangue nas minhas veias estancar diante da imagem. A curiosidade ingénua e infantil que possuiu minhas entranhas na primeira vez que estive aqui não existe mais. Talvez, porque na altura, acredito que essas estruturas de pedra não estavam logo na entrada, gritando "bem-vindo" de modo irreal com a voz aterrorizante de um fantasma.

Já ouvi dezenas de histórias repugnantes sobre o horror dessa casa, porém me mantive o mais longe possível para não comprovar nenhuma delas nos últimos anos. Entretanto, diante desse cenário, é impossível não ver realidade em tudo o que vi. Por instinto, minha atenção virou em volta do lugar e um calafrio arranhou minha pele com força suficiente para fazê-la sangrar de medo. Se não fosse pela grandiosidade da luz da lua que impera no céu, tudo estaria muito mais escuro e assustador. O som de pássaros noturnos reverbera ao vento e em sintonia com o balançar dos cascalhos e troncos de árvores; isto também não ajuda em nada a tornar o lugar minimamente agradável.

Engoli um caroço.

Chegamos faz quase trinta minutos, mas fui incapaz de continuar sentada na mesma mesa que Boris e Nathalie, aguardando que a maldita cerimônia comece. O ar naquele recinto parecia contaminado pela toxicidade das almas presentes, e são muitas. É realmente uma pena que todas tenham que ser podres para pertencer a algo tão desumano como a máfia. Mesmo sendo a anfitriã, pude escapar pela porta traseira sem chamar muita atenção. Só não cogitava que minha válvula de escape me encaminhasse directo para o próprio abismo.

Nos primeiros segundos aqui, entrei em um estado de parafuso e perplexidade pela visão da floresta sombria em meus olhos. Rodei perdida em minhas pernas, e quando finalmente percebi que não havia qualquer saída plausível, decidi voltar para dentro, porém foi exactamente neste instante que a imagem me travou: dois corvos negros enormes, um assentado em cada pilar da fachada e separados pela linha que leva até a porta dos fundos.

Deste ângulo, parece uma casa tão diferente da que entrei. Há um contraste crónico e assombroso. O jardim frontal da propriedade foi invadido pelo estacionamento de carros milionários dos membros da organização, mas cada flor existente ainda exala o mais caro e requintado dos luxos ao longe, enquanto isto só representa degradação em um estado grave e psicótico. É como se fossem duas personalidades completamente opostas coabitando um único corpo, luz e sombras do mesmo homem.

Sem perceber no momento, meus pés caminharam para mais perto da estátua no lado direito. Não contive minha mão quando ela acariciou toda sua estrutura de modo atrevido, me dando quase certeza que foi moldada no barro, por sua espessura.  Por um segundo, tive um vislumbre da morte quando de súbito, seus olhos acenderam vermelhos e sobressaídos como se fossem sangue espesso.

Meu coração voou dentro da caixa torácica enquanto os reflexos seguiam pelo mesmo caminho, a respiração pronta a perder o corpo. Instintivamente, recuei dois passos para respirar melhor. Com o tronco inclinado e minhas mãos apoiadas um pouco abaixo das coxas, quem me visse podia jurar que a situação arquejante é característica de quem percorreu centenas de quilómetros numa maratona. Minhas passadas foram finitas e brandas demais para isso, entretanto, posso afirmar que desci para o inferno num estalar de dedos.

BRATVA - Czar da Máfia (+18)Where stories live. Discover now