Soltando os cachorros

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Somewhere over the rainbow, skies are blue

And the dreams that you dare to dream

Really do come true

Tum tum...

Tum tum...

Tum tum...

Meus pés tocavam o solo no ritmo das batidas do meu coração.

Sincronizado.

Harmonioso.

E eu acelerava cada vez mais. Sem parar. Sem descansar. Apenas deixando a adrenalina invadir meu corpo. Entrei na trilha sentindo o aroma das árvores me envolver. O alaranjado do céu estava cada vez mais intenso deixando feixes de luz entrar na floresta escura e densa. Segui sem rumo, meus pés trilhando o caminho enquanto minha mente viajava incessantemente.

Eu não queria pensar.

Mas eu tinha. Foi para isso que eu fui correr. Era isso que a corrida sempre fazia: clareava minha cabeça e me deixava mais leve. Era como se o suor que descia por mim levasse consigo cada peso que meu corpo carregava. E o peso daquele momento era enorme. Eram tantos tópicos a se pensar que tive de enumerá-los para não esquecer nenhum. O sonho caiu como uma bomba, deixando estilhaços de confusão em todos os pontos de minha mente.

- Como se já não bastasse minha dor de cabeça ter triplicado desde que cheguei ao acampamento! – murmurei comigo mesma – Acho que os queridos deuses deveriam marcar data, hora e lugar para as coisas acontecerem, saber quando minha vida vai girar trezentos e sessenta graus não seria nada ruim!

Então entra os tópicos.

Primeiro, a sombra estranha e assustadora que me atacara mesmo sem poder me tocar de verdade. Hera com certeza não havia criado aquilo, sua confissão foi bem sincera e ela não teria motivos para mentir. Na verdade pareceu até bem preocupada quando citou o assunto. Mas uma coisa era certa: Aquela sombra era bem real! Podia não ser no sonho, mas algo me dizia que ela existia no mundo real e que era tão perigosa quanto aparentava. Eu queria correr e falar para alguém sobre isso, qualquer um, mas a mesma "vozinha" dizia que era melhor manter segredo, pelo menos por enquanto. A sombra emanava perversidade e eu precisava descobrir mais sobre ela antes de envolver outras pessoas. Isso estava decidido.

Segundo tópico, a missão para resgatar O Sangue do Olimpo. Eu ainda achava que me mandar era um grandessíssimo erro, um daqueles suicidas, mas tinha que admitir que sair do acampamento em missão era algo que eu ansiava a muito tempo, antes mesmo de descobrir que era uma semideusa. Era um desejo oculto, mas que ainda estava lá. E eu não iria sozinha! Teria companhia, pessoa para me ajudar. Metade do problema já estava resolvido. E só faltava a outra parte: A tão almejada Profecia. Até porque toda missão precisa de uma profecia. Cedo ou tarde a da minha missão se revelaria. Era só esperar.

O que levava ao terceiro tópico, ser a "cola" entre os Sete. Eu não entendia que desunião era essa de que Hera falava, eles pareciam bem unidos para mim. E, de qualquer forma, como eu iria unir pessoas que eu mal conhecia e que mal conheciam a mim? Como eles iriam confiar em mim? E o mais fantástico: eu teria apenas uma missão, ou seja alguns dias, para fazer isso enquanto tentava sobreviver aos monstros e outros perigos que vinham no pacote. Bem animador!

E por fim o quarto e mais espetacularmente difícil dos tópicos, os meus poderes. Por parte do meu lado semideusa seria uma completa perda de tempo! Eu era indeterminada e a probabilidade de descobrir quem era meu pai era minimamente mínima assim como a de descobrir quais eram meus poderes. Mas o que mais me preocupava era a minha outra parte. Aquela chamada Língua Encantada. Esses poderes eu conhecia bem. Bem até demais. Havia prometido a mim mesma que nunca mais os usaria, até Hera aparecer e, praticamente, profetizar que mais cedo ou mais tarde eles seriam descobertos e que eu teria que fazer uma escolha. Controlar ou perder o controle.

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now