Espelho, espelho meu...

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Pain!

You made me a, you made me a believer, believer

Pain!

You break me down and build me up, believer,

- Pássaros... gigantes?

Levantei-me em um salto ao ver as formas quase humanas e asas de morcego cortando o céu. Eles estavam em perfeita formação, como um exército organizado o que me apavorou ainda mais. Arregalei os olhos, pronta para me esconder e observar para onde eles seguiam até ver dois dos monstros saírem da formação e olharem para baixo. Na verdade, olharem para mim. E em um voo rápido eles desceram rasantes em minha direção com as bocas escancaradas e os braços finos abertos para um abraço mortal.

Saltei para trás no exato momento em que eles pousaram onde eu estava segundos antes. Ergui os olhos a tempo de desviar das garras de um dos monstros e escorreguei pelo chão escapando da mordida do outro. Levantei a alguns metros deles e percebi que se tratava de harpias como aquelas que limpavam o acampamento. Porém havia algo de errado com essas. Elas se movimentavam eretas, como humanos, e não atacavam de forma irracional. Elas pareciam pensar. Caminhavam com cuidado, me analisando, e eu ergui a espada cerrando os olhos e esperando o próximo ataque que não tardou a chegar. Logo uma delas pulou em minha direção e eu saltei sobre sua cabeça, deixando-a desnorteada, porém não antes de receber um golpe da asa do segundo monstro. Senti a pele escamosa e dura contra minha bochecha, instantes antes de voar pelos ares e bater contra uma das enormes letras do hotel. Minha espada voou longe e eu gemi de dor, provavelmente com uma ou duas costelas quebradas. Expirei o ar dos pulmões, sentindo meu corpo dormente pela dor, e permaneci de olhos fechados, atenta aos sons. Ouvi o som da minha espada rolando pelo chão e logo o som das garras dos monstros estavam a poucos metros. Mas o pior de tudo foi ouvir a voz deles.

- Uma sssssemideussssa! - Uma das criaturas sibilou. Sua voz como metal arranhando contra metal o que fez meu corpo gelar. Como ele poderia estar falando? - O messstre ficaria felizzz com uma ssssemideusssa?

- Ele quer desstruir todosss. - O outro monstro falou com uma voz ainda pior. - Quem sabe até noss dê maisss poder?

Aquela foi minha deixa. Ignorando a pontada em minhas costelas, me ergui o mais rápido que consegui, puxando a adaga que carregava escondida no cinto, e apunhalei o monstro mais próximo de surpresa. Pude sentir o metal frio rasgando o coração da coisa e ele desabou aos meus pés logo virando pó. Meu corpo queimava e controlei a respiração acelerada encarando a harpia que restou. Ele escancarou os dentes afiados e eu me pus em posição de combate com a adaga bem presa entre os dedos. Porém não houve ataque. O monstro encarou o céu, seu bando já distante como uma mancha no horizonte, e me olhou uma última vez de relance lançando um sorriso diabólico.

- Nos vemosss no confronto final, cria de deusssesss.

E alçou voo em direção ao bando. Atônita, só continuei a encarar os monstros sumindo ao longe em uma luz enorme e ofuscante que surgiu. Não, não podia ser...-

- Um portal.... - Sussurrei para mim mesma e me forcei a caminhar em direção à minha espada. Transformei-a no tridente e prendi na pulseira. - Para onde eles estão indo?

Cheguei à porta de metal que levava as escadas e vi meu reflexo. Meu cabelo estava desgrenhado e a roupa coberta dos restos do monstro. Mas o pior era o arranhão em minha bochecha que ia da orelha direita até o início dos lábios e ainda sangrava. Passei a manga do casaco contra o sangue seco e logo puxei o capuz sobre a cabeça, andar por um hotel cinco estrelas com sangue escorrendo do rosto com certeza não era algo tão glamouroso assim. Desci as escadas prendendo a adaga de volta no cinto e logo cheguei ao corredor. Diferente do silêncio de quando saí, o hotel estava movimentado. Pessoas chegando com suas malas abarrotadas e outras saindo entre conversas e risos. Abaixei o rosto e puxei ainda mais o capuz quando um grupo de adolescentes passou por mim. Caminhei rapidamente, desviando das pessoas o máximo que podia, e segui para o hall de entrada. Já eram quase três da tarde e eu preferia encontrar meu grupo fora do hotel lotado e dar um jeito nos meus ossos quebrados e bochecha sangrenta longe de olhares curiosos. Xinguei-me mentalmente por não andar sempre com meu pote de ambrosia e logo cheguei ao hall de entrada que parecia ainda mais lotado do que os corredores. E o pior foi acabar dando de cara com Nico e Venília discutindo no meio do hall.

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now