Amantes Amaldiçoados

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P.O.V. Annabeth

- Por onde começamos?

Leo deu voz aos meus pensamentos. Ao menos, a um deles.

Fazia pouco mais de uma hora que havíamos atravessado a longa estrada coberta de neve que cortava a pequena e silenciosa cidade de Titan. A placa de alerta na entrada da cidade era bastante precisa já que o local transparecia uma aura pesada e sinistra. Pessoas vagando como fantasmas, semáforos piscando fracamente para os poucos carros que circulavam e as casas com fachadas sombrias compunham o cenário digno de filme de terror. A neve e o vento ruidoso que soprava de tempos em tempos não ajudavam a melhorar a primeira impressão. Apesar de meus dedos dormentes e o nariz ardendo do frio, minha curiosidade ansiava para que iniciasse as investigações naquele momento. Uma cidade amaldiçoada! Como eu não conhecia aquela cidade? Nunca ouvira falar de Titan ou de qualquer maldição que ainda afligisse uma cidade inteira. Aquele mistério me corroía por dentro e apesar de tentar focar no caminho a frente, meus olhos continuavam se desviando para todos os lugares, analisando e indagando. Apesar de meio lerdo, Percy me conhecia bem demais e logo senti sua mão na minha, tão gelada que quase me fez saltar.

-Eu sei o que está pensando, Sabidinha, mas acho que todos precisamos arranjar umas roupas mais quentes e bolar um plano antes de explorar a cidade, certo?

Assenti, meus lábios tremendo pelo frio e incapazes de pronunciar qualquer palavra sem que gaguejasse incontrolada. Aproximei-me de Percy, aceitando qualquer calor que conseguisse, enquanto forçava meus pés a darem mais um passo. O resto do grupo não parecia diferente. Jason e Piper andavam o mais próximo que conseguiam e Nico apertava mais Duda em seus braços a cada passo na neve espessa. Ela permanecia em um sono agitado, os lábios azuis e o corpo tremendo. Parecia tão pequena e frágil que fez meu coração apertar enquanto eu recordava do meu eu de doze anos chegando ao acampamento fraca e pequena, tão indefesa quanto Duda parecia naquele momento. Apesar da filha de Poseidon já ter bem mais treinamento, os desafios pareciam cada vez maiores para ela e aquilo me preocupava. Ela tinha mais poderes do que qualquer semideus que eu já conhecera, mas todos tínhamos um limite e aquela missão parecia tentar testar todos os limites dela. Eu me perguntava, com angústia, o quanto que ela conseguiria aguentar. Ela era da família e pensar no que ela ainda poderia enfrentar me enchia de raiva e tristeza. Por Duda, por Percy, por Nico.

Suspirei. Todos merecíamos um pouco de paz.

O único que não parecia profundamente atormentado pelo clima era Leo, seus passos derretendo a neve no solo enquanto seu corpo parecia um aquecedor automático no meio daquele deserto de gelo. Seria capaz de chorar de frustração quando ele teve de extinguir as bolas de fogo que queimavam em suas mãos por estarmos entrando na cidade. O vento pareceu ainda mais inclemente quando a fonte extra de calor sumiu o que fez todos se aproximarem ainda mais do filho de Hefesto, se é que era possível. Parecíamos uma enorme massa humana de passos lentos e resmungos sofridos. Estava prestes implorar pela hospitalidade dos cidadãos fantasmas e uma xícara de chocolate quente quando uma casa maior e um pouco mais apresentável surgiu a nossa frente. Uma placa velha e que parecia ter sido pintada às pressas balançava nas correntes, as palavras em russo pareciam zombar de nós. Com um praguejo baixo liderei o grupo para dentro jurando a mim mesma que ler e falar russo entraria no meu top cinco de habilidades necessárias para sobreviver em missões.

O hall de entrada, que parecia mais uma pequena sala de estar sem sofá, era aquecido por uma lareira que mal conseguia manter o fogo aceso e um balcão de madeira na outra extremidade. Um velho robusto lia uma revista despreocupadamente e ergueu a cabeça com os olhos arregalados quando me aproximei.

- Ahn, bom dia. - Abri o sorriso mais largo enquanto pronunciava as palavras com calma. O velho me encarava com uma sobrancelha erguida, entediado. - Aqui é um hotel? Uma hospedagem? Precisamos de quartos. Pode nos ajudar?

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now